Uma entrevista com Grace Jackes, neta de E. G. White

(Uma entrevista com a Sra. Grace Jackes, neta de E. G. White, efetuada pela Dra. Patrícia B. Mutch, professora associada de Economia Doméstica, Andrews University, no grupo reunido para estudos, “Ellen G. White e Dietética”, Andrews University, 8 de Junho de 1978. As perguntas da Dra. Mutch são identificadas por “P” e as respostas da Sra. Jacques por “R”).

Ron Graybill: Antes de começarmos a entrevista com Grace Jacques, quero colocar algumas coisas no devido contexto. Creio que há perigo tanto de darmos valor demasiado quanto desconsiderarmos o exemplo do lar de E. G. White e do lar de seu filho W. C. White. Na página 490 de “Conselhos Sobre o Regime Alimentar” encontrar-se-á que Ellen White diz:

Não sou culpada de tomar qualquer chá, exceto o chá de trevo vermelho, e se eu gostasse de vinho, chá e café, não usaria esses narcóticos destruidores da saúde, pois prezo um exemplo sadio em todas estas coisas. Quero ser um modelo de temperança e de boas obras aso outros”.

Assim temos esta declaração, onde a Sra. White fala sobre o desejo de ser um modelo de temperança e boas obras. Por outro lado, ficaríamos horrorizados se pensássemos que as pessoas estariam baseando suas decisões sobre o que poderiam ou não comer, em nosso exemplo. E assim temos outra declaração, uma declaração que a Sra. White fez durante o discurso aos irmãos da Conferência Geral em Battle Creek na biblioteca do Colégio justamente antes do início da Conferência Geral de 1901. No decorrer desse discurso (e temos transcrita ao pé da letra, e portanto a gramática não será perfeita), a Sra. White disse: “A Irmã White não tem tido carne em sua casa, nem preparado-a de maneira alguma, ou qualquer carne morta, durante anos e anos”. E então ela continuou:

E aqui está a base da reforma pró-saúde de algumas pessoas: ‘Ora, eu lhe disse que a Irmã White não come carne, e agora quero que você não coma carne porque a Irmã White não come’. Bem, eu não daria o mínimo valor por esse tipo de coisa. Se você não tem qualquer convicção melhor, você não comerá carne porque a Irmã White não come, se eu sou a autoridade, eu não atribuiria o mínimo valor para sua reforma pró-saúde. O que eu quero é que cada um de vocês se mantenha em sua dignidade individual diante de Deus, em sua consciência para com Deus, para que o templo da alma seja dedicado a Deus. Quem quer que contamine o templo de Deus, a esse Deus destruirá. Agora quero que penseis nessas coisas e não façais de qualquer ser humano vosso critério”. – Manuscrito 43, 1901.

Portanto, ela queria ser um exemplo, mas não queria que seu exemplo pessoal fosse o critério sobre a qual as pessoas baseassem suas decisões pois, ao invés disso, essas decisões devem ser baseadas no conselho que temos do Senhor. Assim, pensei que o que ouviremos hoje é bom porque vemos o exemplo do lar de Ellen White. É também muito valioso porque ajuda a obter definições e compreender o conselho que a Irmã White deu, e finalmente é bom porque é interessante, e interesse é essencial para o aprendizado, e o aprendizado é essencial para uma mudança. Portanto agora darei a palavra à Dra. Mutch, e ela pode dirigira entrevista.

P: É um prazer ter uma chance de falar com você, alguém se lembra das práticas e incidentes que aconteciam no lar de Ellen White e, naturalmente se, em sua própria casa nesse tempo. A primeira pergunta que gostaria de lhe fazer é alguma coisa sobre como eram as refeições na casa de Ellen White. Talvez você possa nos dar apenas um breve lampejo. Por exemplo, como era o desjejum?

R: Sim, gostaria de dizer que tinha 15 anos quando Ellen White faleceu e, portanto, tenho muitas lembranças do que ocorria. Alguém me escreveu uma carta quando estávamos falando sobre a questão da “gordura” em Elmshaven. Escreveram: “Você era a cozinheira quando Ellen White era viva?” Eu disse: “Não, não era a cozinheira, mas a ajudante da cozinheira”. Bem, as refeições eram uma ocasião feliz na família White. Havia primeiramente o culto pela manhã. Vovó tinha estado escrevendo por várias horas nesse horário. Os familiares se reuniam na sala embaixo, onde está o órgão, e vovó lia o texto. Não me lembro de que ela lesse qualquer coisa para o culto exceto a Bíblia, e os cultos não eram longos. Alguma coisa interessante era apresentada, alguma coisa que os que estivessem presentes apreciariam, e então talvez os ministros visitantes ofereciam uma oração.

O lar de Ellen White era um império de damas. Havia apenas três senhoras, e uma vinha cozinhar. Algumas vezes a cozinheira ficava lá, mas nos anos que mais me lembro, a cozinheira vinha e preparava a refeição.

Os desjejuns eram boas refeições. Após cantarmos um hino, íamos para a sala de jantar e tomávamos o desjejum. Sempre havia um mingau de cereal, na maioria das vezes um cereal integral. Apreciávamos muito triguilho preparado como mingau. Apreciávamos mingau de milho que nós mesmos fazíamos. Também apreciávamos creme de trigo para variar. Comíamos mingau de painço. Gostávamos de trigo Califórnia, deixado de molho fervido e posto na estufa e cozido a noite toda. Isto o tornava quase como trigo inflado, não exatamente como, mas era muito bom. Tínhamos também fubá. Esses cereais eram bem cozidos. Ela dizia: “Cereal deve ser completamente cozido”.

Durante este tempo havia mania de cereais crus, de se comer cereais laminados crus. Cereais laminados crus com passas era a coisa do momento, mas Ellen White nunca aderiu às manias que surgiam. Ela era muito sensata em sua atitude quanto ao regime alimentar, e enquanto algumas pessoas ao redor estavam ruminando seus cereais crus e passas, tínhamos um bom desjejum cozido, com vários tipos de fruta.

O desjejum era uma das refeições de frutas. Tínhamos às vezes quatro tipos de fruta. Usávamos bastantes frutas. Frutas frescas, em conserva, secas. Por exemplo, tínhamos toronja como comemos essa manhã, e então talvez cerejas em compota e finalizávamos com uma banana, e às vezes adicionávamos passas no mingau. Nunca colocávamos açúcar no mingau. Para dizer a verdade, eu não gosto de mingau doce. Permitia-se-nos cortar fatias de banana em nossa tigela de mingau se desejássemos. Nem isso eu queria. Ou podíamos colocar tâmaras nele.

O mingau era bom com nata. Ora, o mingau é gostoso com nata, e não é menos saboroso com leite desnatado!(risada). Assim, eu gosto de nata. mas meu marido é médico, e não deixa colocar nata no mingau. Mas que tem isso? Eu posso tomar leite integral, e ele toma leite desnatado – e pode tomar!

P: A que horas era o desjejum?

R: Bem, era diferente na casa de vovó. Na casa de vovó era – veja, ela só tomava duas refeições por dia – na casa de vovó era um pouco mais tarde que em nossa casa, talvez sete e meia ou oito. Mas comíamos mais cedo porque tínhamos de ir à escola, você sabe, e nosso programa era necessariamente um pouco diferente do de vovó.

A vovó ficou no programa de duas refeições durante toda sua vida. Começamos como bebês a comer a cada quatro horas. Finalmente reduzimos para três refeições ao dia. Mas parece que nunca seguimos o plano de duas refeições . Assim, se não o desejávamos, não éramos obrigados a adotá-lo. Esta era a atitude de vovó. Se você deseja uma terceira refeição, tome-a. Mas não tome uma refeição pesada à noite.

Justamente nesta época surgiram os flocos de arroz e os flocos de milho. Também comíamos biscoitos de granola que faziam na indústria alimentícia que ficava perto de nós nas terras da vovó, feitos de trigo Califórnia, laminado bem fino, e eles faziam ótimos – bem, eles as chamaram rosquinhas mais tarde, mas elas eram muito melhores que rosquinhas. Eles sabiam como fazê-las de alguma forma melhor do que faziam mais. Assim também tínhamos estas, e estas eram boas para o lanche da tarde, você sabe, com frutas novamente e requeijão, e a indústria alimentícia próxima a nós fazia creme de amendoim, e assim tínhamos muitas coisas boas para comer.

Os desjejuns eram refeições boas e reforçadas, mas nunca um assado. Ora, algumas pessoas tem a ideia de que Ellen White tinha assados e torradas no desjejum. Não em minha memória, não. Não, os desjejuns eram uma refeição com mingau. Sempre tínhamos variadas castanhas – aquele local mesmo produzia nozes; tínhamos muitas nozes. Ela comprava amêndoas aos quilos. Tínhamos nozes, amêndoas, Castanhas-Do-Pará e amendoim, e misturávamos as castanhas. E as comíamos todas as manhãs. As castanhas eram boas fontes de proteína para nos dar o impulso final na escola. Comíamos broas em lugar de pão várias vezes por semana. A receita que lhes dei – esta não é a que eles tinham no “ano um” evidentemente, mas é a que usavam quando eu estava crescendo.

P: Você poderia nos dar aquela receita novamente?

R: Sim, eu me lembro. As medidas:* ?Minha mãe era muito boa cozinheira, e nos velhos livros de receita diz-se para colocar as broas em um forno mais moderado. Você deve-se lembrar que naquele tempo não havia indicação de temperatura na porta do forno. Não se tinha ideia, no que diz respeito aos graus de temperatura, de quão quente ele estava, mas cozinhava-se as coisas em forno médio, quente ou muito quente, porque aquecia-se as assadeiras de ferro para as broas. Ora, você pode fazê-las em outras assadeiras, mas tínhamos uma dúzia de forminhas em uma divisão.

Mamãe sempre me mandava ao depósito de lenha. Tínhamos pilhas de lenha estocadas para o inverno. Em nossa casa havia cinco lareiras e cozinhava-se tudo com lenha, e todo o aquecimento de água para o banho era feito com lenha. Naqueles fogões, grandes fogões a lenha, havia um cano, um condutor de água, na fornalha, na frente e atrás, e a água fria entrava, e quando ficava quente – você sabe como o calor logo se esvai – ela ia para um tanque de água próximo. Assim, quando chegava a hora de vários banhos, tinha-se de manter aceso o fogão por bastante tempo, de qualquer forma, e assávamos as coisas ao mesmo tempo. Fazia bastante barulho algumas vezes, a água quente entrando no tanque.

Então tínhamos algo de que sinto muita falta. Naqueles grandes fogões a lenha, havia o que chamávamos um aquecedor, atravessado por uma chaminé. Ora, nunca comíamos bolachas que não estivessem bem sequinhas, ou torradinhas de pão, porque havia um aquecedor. A tampa se abaixava, colocava-se as bolachas lá, fechávamos a tampa. e o cano que o atravessava mantinha as bolachas sequinhas e deliciosas E quando minha mãe estava idosa e tinha de ir à clínica de repouso, ela não entendia porque eles serviam bolachas moles.

P: Eles não tinham um aquecedor.

R: Eles não tinham um aquecedor! Então tínhamos vantagens nesse tempo que vocês não têm hoje.

P: Ah, sim, definitivamente.

R: E tínhamos leite. Às vezes vovó tomava leite com malte no desjejum. Agora, vamos falar sobre esse assunto de bebidas. “Não beba às refeições”, Ellen White diz. Creio que se ela tivesse dito, “Não beba abundantemente”, isso teria expresso o que ela queria dizer. “Não beba abundantemente às refeições”, porque tomávamos suco de tomate, um copo pequeno, sabe, um pequeno aperitivo à hora do almoço. Na hora do desjejum tomávamos leite com malte e às vezes a bebida de cereal da fábrica de gêneros alimentícios; como a chamavam mesmo? Bebida de cereal torrado? Bebíamos isto.

P: Café de cereal torrado

R: Sim, café de cereal torrado. Tomávamos leite . E no almoço tomávamos ou um copo de suco de tomate ou suco de cenoura – porque nessa época fazíamos suco de cenoura, mas não tínhamos qualquer tipo de aparelho para fazer ou extrair suco. Nós ralávamos as cenouras, colocávamos as mesas em gaze e espremíamos o suco. E assim tínhamos suco de cenoura. À hora do almoço usávamos também soro de leite azedo, e fazíamos algo que se tem muito agora: “cumus”. Não sei se algum de vocês sabe o que é “cumus”. È algo parecido com soro de leite. Tem-se um coalho. Tem um aspecto um pouco parecido com couve-flor, e despeja-se o leite aquecido sobre ele e na hora do almoço o leite já está bem espesso. Assim, tínhamos isso para tomar. È muito bom para a saúde.

E havia sempre muito suco de uva. Tínhamos uma pequena vinha maravilhosa. Não irrigávamos nem a plantação de ameixas nem a de uvas, e os frutos eram simplesmente adoráveis, tão doces e deliciosos. Cultivávamos e mantínhamos a umidade ao fazer isto. Bem, o suco de uva era bastante forte, e diluíamos um pouco com água e suco de limão, e isto o tornava um pouco mais saboroso, porque era muito doce. E rico demais.

P: Mas então tomavam um copinho de suco às refeições?

R: Sim. Não todas às vezes, mas ou um ou outro. Assim ela evidentemente não queria dizer que não se deve beber nada. Ora, pediram-me que falasse em São Francisco não muito tempo atrás, e creio que o homem que se sentou próximo a mim na mesa como convidado, tomou oito copos de ponche com seu almoço, e estou certa de que seu almoço teve de nadar para salvar a vida! (risada)

P: Sem dúvida! Podíamos classificar isto abundante, indubitavelmente.

R: Portanto não tentem tomar seus oito copos de água por dia na hora da refeição.

P: Como era o almoço?

R: Tínhamos um bom almoço. Ellen White arrumava a mesa de forma muito esmerada. Havia sempre um arranjo de flores no centro, toalha de mesa branca, guardanapos de linho branco, e cada um tinha sua própria argola de guardanapo. Tínhamos toalhas extras porque tínhamos bastante companhia. Digamos que uma família de missionários viesse com seus filhos. Esta seria a argola de guardanapo do papai, e aquela da mamãe, e esta das crianças. Se quiséssemos dar-lhes um novo lugar, tudo que tínhamos a fazer era mover estas argolas de guardanapo e eles sabiam onde iriam sentar-se. Era bem prático, sabe. A mesa era posta em um ornamento de flores ao centro, ou um arranjo de frutas. A mesa era posta exatamente assim. Dizia-se-nos como pôr a mesa, onde colocar o prato de pão e manteiga, e onde iam a faca e o garfo e, você sabe, exatamente o modo como devia ser.

As refeições eram deliciosas. Minha mão sempre cozinhou esplendidamente. Mas nem todas as cozinheiras que tivemos eram tão boas quanto as outras. Como você sabe, algumas pessoas estragam tudo em que tocam e outras fazem com que fique saboroso. Mas em geral os pratos eram muito bons.

Nada desagradável era dito à mesa, nenhuma discussão sobre comida à mesa, tudo isto era feito de sermão. Se você não queria comer algo, não comia, era tudo. Não diga que não gostava, ou era alérgico àquilo, apenas não comia.

P: Mesmo se lhe tivesse sido servido?

R: Bem, você simplesmente dizia: Por favor, não desejo feijão hoje.

P: Sei. Permitia-se que você escolhesse.

R: O anfitrião servia. Meu pai em nossa casa tinha uma dúzia de pratos grandes em sua frente, sabe. Havia três preparados quentes à frente dele, sendo um deles o prato à base de proteínas, ele servia os outros. Tínhamos bastante companhia em nossa casa também, como na vovó, e meu pai sempre distribuía a comida de acordo com que ele queria que a recebesse. Não queria que se passassem os pratos de mão em mão; Se ele o entregasse a você, era seu. Ele dizia: “Fiz especialmente para você”.

Oh, terei de contar a vocês uma piada relacionada com o Arthur* sobre isto; diz respeito ao fato de meu pai servir. Bem, naturalmente que fomos criados sem qualquer espécie de alimento cárneo. Só o pensamento de comer os pés e os lados de algo já era horrível. Havia uma senhora que doente mais ou menos uma milha acima, subindo a colina direto todo o caminho, e mamãe foi vê-la. Ela estava muito doente, e não podia comer; estava bem fraca, e disse: “Creio que poderia comer um pouco de canja de galinha”. Bem, então mamãe disse: “Está bem, eu lhe trarei um pouco “. Tínhamos nossas galinhas, porque comíamos ovos, e mamãe cozinhou uma de nossas galinhas na chaleira, e não pensando mais nisso, levou a canja para aquela senhora. No dia seguinte – podíamos vir para casa comer ao sair da aula, porque ir à escola era só atravessar a rua – e meu irmão disse mesa, (porque tinha chegado sua vez) e falou: “Por obséquio, não quero feijão de vara hoje”. Meu pai não disse nada. No outro dia, Arthur disse: “Bem, não quero tomate hoje”. E meu pai ficou um pouco cismado, e no outro dia: “Não quero purê de batatas hoje”. E meu pai era muito cuidadoso. Ele abaixou as mãos e disso: “Muito bem, o que há com você? Você não queria isso ontem, e não queria aquilo anteontem”. Sabem qual era o problema? Ele vinha da escola e rapidamente ia à cozinha para ver o que estava cozinhando naquela chaleira em que a galinha tinha sido preparada. Se fosse feijão-de-lima, ela não comia feijão-de-lima naquele dia.

P: Ele evitava qualquer…

R: Bem, isto mostrava o quão repulsivo isto lhe parecia. Seria um grande sacrifício para mim o comer carne, mas eu não seria tão extremista. Se eu estivesse no Alasca, ou Ilhas dos Mares do Sul e não pudesse obter outra comida, comeria o que eles tivessem, porque o que é reforma pró-saúde? A definição mais simples: comer – o que? O melhor alimento disponível. Temos tantas coisas que não são o melhor para nós. Sou tão grata, tão agradecida pelo conhecimento do viver saudável. Sempre temos tentado viver à altura dele. Não diria que temos feito cem por cento, ninguém faz isso, você sabe, mas tenho tentado toda a minha vida. Fui criada numa dieta saudável, e sou grata; creio que posso fazer uma porção de coisas que as pessoas de minha idade não podem. Houve uma senhora que veio a Elmshaven outro dia. Ela estava sentada na recepção, e era tão decrépita que não podia nem mesmo ir à porta da frente e subir as escadas; e estava sentada lá, com os filhos à sua volta, ajudando-a, falando com ela e tentando encorajá-la, e finalmente eu disse: “Bem, qual a idade da vovó?”

“Bem”, disseram, “ela tem oitenta anos”. Eu sou oiti anos mais velha!

P: Você se movimenta muito bem por aí.

R: Quero dizer 70 anos, desculpe-me. Tenho 78 e ela 70 anos. Assim, estou agradecida; digo-lhes que é uma benção, é maravilhosa a luz que o Senhor nos tem dado. Em vez de resmungar e nos queixar, devíamos ser justamente o povo mais feliz e agradecido do mundo. Ellen White dizia: “Venha para a mesa com gratidão no coração”. A mesa nunca era usada como hora de corrigir as crianças. Podia ser que nossas maneiras fossem terríveis, mas eles não nos diziam nessa hora. Era uma hora de felicidade. A hora das refeições eram as grandes reuniões do dia. Comíamos todos juntos. Passávamos juntos um tempo agradável, e tínhamos conosco tantas pessoas de todas as partes do mundo. Sempre havia alguém contando uma história interessante. E se eles não o faziam, meu pai o fazia. Ele era o rei dos contadores de histórias. E sempre tinha uma história apropriada. Nunca vi alguém como ele. Assim, passávamos um tempo muito feliz à mesa, e creio que isso ajudava nossa digestão.

P: Qual seria uma espécie típica de menu para o almoço? Que tipo, não necessariamente comidas específicas, mas o que – como você disse, um prato à base de proteínas e três pratos quentes?

R: Sim. Três pratos quentes e um prato à base de proteínas. Bem, tínhamos uma horta, e, portanto sempre havia alguma coisa fresca, e acho que Ellen White gostava de vegetais cozidos todo dia. Ela não podia comer vegetais crus com tanta facilidade quanto alguns dos familiares mais novos, mas queria vegetais cozidos todos os dias. E no tempo de inverno, quando não havia muita vegetação, as primeiras mostardas brotavam você sabe, não as folhas espinhosas para trás, mas quando ela brota, como o brócolis, saem as folhinhas lisas. Bem, era minha tarefa colher o suficiente dessas folhas lisas para a vovó. Não para a família toda. Isso me tomaria o dia todo, mas eu colhia uma vasilhinha dessa verdura para a vovó porque ela gostava de comer seus vegetais todos os dias.

Ela não podia comer feijão, portanto tinha de obter sua proteína de alguma outra forma, e eis o porquê de ela usar, o que eu diria, mais macarrão talvez do que certas pessoas usariam, porque, você sabe, macarrão é feito de trigo firme. É um prato proteico realmente, e ela fazia, em vez de macarrão com queijo, macarrão com milho e ovos batidos, os quais eram adicionados, e punha-se a assar como macarrão e queijo; é delicioso, especialmente com o milho seco que tínhamos. Tem um sabor especial.

Secávamos sacas e sacas de milho que era cultivado no local. Tínhamos uma lavanderia. Não se lavava roupa na casa, e quando vovó comprou o local havia uma lavanderia e um depósito de lenha ao lado da casa, e acendíamos o grande fogão a lenha que havia lá e colocávamos os tachos, tachos grandes de ferver roupa, ovais; descascávamos o milho e o deixávamos nesta água fervente por dez minutos e então o tirávamos e escorríamos a água, naturalmente. E tínhamos algumas raspadeiras que eram como colheres de chá no forma, apenas que eram afiadas, com cinco dentes e assim podíamos tirar pelo menos quatro ou cinco grãos de milho de uma vez. Assim, raspávamos cada fileira de milho, e então com uma faca de prata, usando a parte não afiada, tomávamos o milho e comprimíamos, e só o milho mesmo saía, e a casca ficava na espiga. Assim, o milho que secávamos era delicioso. Não tinha casca. Naturalmente faziam os um pouco de milho sem secar, só para os maios novos, mas dava uma refeição deliciosa.

Nosso modo de comer era bem diferente do que é agora. Por exemplo, se tínhamos uma torta de legumes, que minha mãe fazia muito bem, um guisado, você sabe, com molho pardo (tostava-se a farinha separadamente, e tentava-se não aquecer demais o óleo). Então esfarelávamos dentro desse guisado algo que não vejo mais. A fábrica de alimentícios perto de nós fazia algo como rolinhos de passas – faziam muitos rolinhos, mas este era algo com a forma de um rolinho, mas sabe do que era feito? Glúten. Lavávamos o glúten, cortávamos em pedacinhos, mais ou menos como o tamanho que se faria uma costeleta de glúten, púnhamos numa chapa de assar confeitos e colocávamos no forno, e ele assava até ficar de cor marrom dourada, tostadinho. Bem, não o cortávamos, mas o triturávamos e colocávamos naquele guisado que ia ser para a torta; ficava delicioso.

P: Como você chamava isso? Glúten?

R: Eu não sei, apenas o tínhamos.

P: Já provei isso. São almôndegas de glúten assadas.

R: É isso? Bem, eu não sabia.

P: Mas tinha a curiosidade de saber o termo que eles usavam para isso

R: Bem, pode ser que o chamassem assim. Não me lembro. A indústria de alimentícios fazia rolinhos de passas gostosos, e pão gostoso, e cinco tipos de bolacha. Não temos fábricas de bolacha hoje em dia. Eles faziam dois biscoitos de frutas, um com um tablete de figo, e um onde as passa estavam bem na massa, do que quer que ela fosse naquela semana. E faziam uma bolacha grande, da espessura de minha mão, e tinham três grandes fornos giratórios, e assavam bem lentamente, até que estivessem por inteiro moreninhas e douradas.  E a fábrica tinha um grande cortador de alimentos. Eu suponho que a frente dele era grande assim, e ele era movido pela correia de força (o que quer que estivesse ali embaixo, a correia subia dali e movia o cortador), e isso fazia nossas nozes de uvas. Ora, não consigo me acostumar às nozes de uvas que temos agora. Não quero dizer nozes de uvas. Como a chama?

P: Granola.

R: Granola. Não consigo acostumar-me à granola. Fazíamos granola e ela era nozes de uvas, como, você sabe, as nozes de uvas comerciais, e não consigo acostumar-me à granola que eles estão fazendo agora.

P: Doce demais

R: Bem, não sei o que é, só sei que é diferente. E assim, lá esfarelávamos aquelas grandes bolachas e então eram peneiradas porque não se queria aquele resto fino nela, e sabe onde eles punham aquela poeira fina: Na Nutena, e isto a fazia tenra e macia. Eles faziam Nutena e Protena.

P: Algumas vezes vocês tinham pratos de proteína como estes? Nutena ou Protose?

R: Oh, sim. Eles faziam Nutena e Protena. Nós fazíamos nossas próprias costeletas vegetais.

P: Vocês faziam? Faziam a sua própria, como glúten?

R: Sim. Eles tinham a Protena e Nutena. Mas nós fazíamos uma quantidade razoável de produtos próprios, nossos substitutos da carne, porque meu pai tinha salário de um ministro, e educava sete filhos, assim nem sempre podíamos comprar substitutos para a carne, embora a fábrica ficasse bem perto de nós. Apesar de toda a companhia extra que tínhamos, mamãe nunca fez qualquer diferença. Quero dizer, ela nunca dizia: “Temos companhia, vocês não comam isso, isso é para as visitas”, você vê. O que quer que houvesse lá, era para todos, e então não comíamos demais das coisas, embora gostássemos delas.

P: Sobre seu pão. Vocês comiam o pão puro? Punham margarina ou nata, ou o que passavam no pão?

R: Bem, gostávamos demais de nata, que está totalmente fora de moda hoje em dia, mas gostávamos dela. Fervíamos o leite, porque não o testavam quanto a brucelose ou tuberculose. Agora não fervo o leite, porque entende que é assaz livre de germes pasteurizados. Eu conheço algumas pessoas que recebem seu leite, e ainda o fervem, mas não creio que isto seja necessário com o leite pasteurizado. Acho que os testes mostram que seja livre de germes. Mas nessa época não tínhamos testes para brucelose ou tuberculose, e uma de nossas próprias vacas morreu de tuberculose e não sabíamos que ela estava doente. Não. E se não fervêssemos o leite, alguns de nós poderiam ter apanhado a doença.

Ele era fervido em panelas grandes. Você sabe que aqueles fogões a lenha tinham tampas grande, e dessa forma colocávamos várias dessas panelas no fogão, e assim que levantasse fervura, nós as tirávamos e as descíamos para o porão e as colocávamos no refrigerador que era cercado de telas porque havia moscas naqueles dias, e muito embora algumas entrassem, não queríamos nenhum em nosso leite! Assim nós as colocávamos nesse refrigerados lá embaixo no porão, e então na manhã seguinte lá estava aquela beleza de nata. A nata estava toda no leite. Creio que uma das perguntas era? “Como se pasteurizava a nata?” Bem, ela era pasteurizada antes de subir à tona com nata, antes de se separar, entende? Tudo era pasteurizado junto. Bem, e então ficava aquela nata toda à superfície. Tomava-se uma colher e ela apenas desliza, porque é bem espesso quando a nata sobe no leite fervido, e tem-se fatias. Pois bem, usávamos isto em lugar da manteiga . Não creio que alguma vez quereria manteiga se você tivesse isto.

P: Então vocês podiam realmente passar no pão esta nata?

R: Oh, sim. Mas você não podia colocar isso no mingau, sabe, aquelas fatias. Então tirávamos uma certa quantidade dela e a colocávamos numa vasilha com um pouco de leite e a batíamos com uma batedeira manual de ovos. Com eu disse, não tínhamos liquidificadores nessa época. Portanto isto era feito com um coador, como sopa ou lentilhas ou qualquer outra coisa, você o fazia passa pelo coador, ou o batia com a batedeira de ovos. Tínhamos um casal de canários na cozinha. Vovó tinha um par de gaiolas com canários na cozinha, e tão logo começávamos a bater a nata, o canário cantava com toda sua força.

P: Ele gostava desse som.

R: Ele gostava desse som.

P: Eles não usavam manteiga, pelo que entendi.

R: Os que gostavam de manteiga podiam ir à despensa e pegá-la – se eles estivessem particularmente com vontade de comê-la.

P: Havia manteiga?

R: Sim, se você quisesse, vá e pegue.

P: Mas, mais comumente à mesa…

R: Visto que estamos falando sobre manteiga, você se importa se eu mencionar margarina? Bem, a margarina pareceu, oh, quanto anos eu tinha? Não sei exatamente, mas ainda estava ajudando na cozinha de Ellen White, e era da marca Nucoa. Mas ela tinha de ser vendida branca. Era contra a lei colori-la. Então vinha junto com a Nucoa uma pequena capsula de corante amarelo. Por algum tempo era um feijão colorido que você tinha de furar para obter cor, e o outro era um pó em um recipiente minúsculo. Bem, esta era uma de minhas tarefas, uma que eu podia fazer, sabe, misturar a Nucoa com o corante amarelo. E isto era servido à mesa. Não me recordo se vovó comia isto ou não.

Ora, posso entender vovó. Ela gostava do sabor do pão, porque faziam um bom pão./ Eu ainda hoje, com torradas, torradas quente pela manhã, prefiro-as sem qualquer coisa para passar. Gosto delas com frutas, gosto do sabor das torradas. Não quer que ele seja suavizado com alguma coisa a mais. Então não me lembro se ela – eu não seria capaz de dizer se ela usava margarina ou não. Eu simplesmente não sei. Não era uma questão de tanta importância. Quero dizer que era algo de que se fizesse questão; não olhávamos para ver.

P: Você simplesmente não sabia se uma dia lhe fariam essa pergunta.

R: Enquanto estamos no assunto de gordura, você se importa se eu divagar um pouco mais? Bem, enquanto estávamos na Austrália, ele não tinham substitutos para a manteiga, e eles podiam comprar cocos por ¢75 a saca, um saco de juta de cocos. Eles raspavam a polpa desses cocos tenros e frescos e nós ralávamos isto – não “nós”, mas minhas irmãs. Quando digo “nós” quer dizer a família, mas eu ainda não havia nascido – elas ralavam os cocos, mamãe disse, e então despejavam água quente sobre isto. Então usávamos novamente nossa gaze para espremer e ela disse que dava um leite delicioso para cozinhar, e se deixasse este leite por um pouco de tempo, tinha-se uma nata de coco que elas usavam para cozinhar, e elas usaram isto extensivamente na Austrália. Portanto há todos os tipos de modos e coisas; e muitas das coisas que fazíamos nem se pensa em fazer agora.

P: Usavam alguma vez pasta de frutas ou qualquer coisa que se assemelhasse a uma compota?

R: A uma geleia? Sim. Fazíamos conservas de geleia de morango, de amora silvestre e de loganberry* mas comíamos isto com parcimônia, eu diria. Vovó não era do tipo que dizia: “Não, você não pode comer isto “mas coma-o moderadamente”. Você sabe, não coma demasiado, mas saborear uma boa fatia de pão com nata e geleia de morango. É uma delícia.

P: Então em algumas refeições vocês tinham alo semelhante a uma sobremesa?

R: Sim. Oh, tínhamos sobremesa na hora do almoço. Eu não lhe contei, não é? Havia 2.000 ameixeiras nas terras de vovó quando ela as comprou. Ora, isto é uma porção de ameixas. A política de vovó era: mantenha as crianças ocupadas fazendo coisas interessantes, e você não terá de dizer “não”. Ouvíamos bem poucos nãos.

Bem, tínhamos todas essas ameixas, e eu não sei se você sabe como são produzidas as ameixas na Califórnia. Onde as chuvas cessavam o fazendeiro preparava a terra, e então a arava bem fino, e ela ficava plana como um assoalho. E quando as ameixas estavam maduras, os homens iam com varas grandes, dotadas de um gancho, e sacudam os galhos para que caíssem as ameixas maduras. Eles tinham de atravessar o pomar várias vezes, veja você, porque elas maduravam em épocas diferentes. Então nós, crianças, as apanhávamos e ganhávamos seis “cents” por caixa. Algumas caixas eram de 2 Kg., algumas de 2,5 Kg. e algumas eram caixas de 3 Kg. Elas eram bem grandes. Ganhávamos seis “cents” por caixa para recolhê-las.

Vovó cria que as crianças deviam ter algum dinheiro para gastar, ma não nos dava m o dinheiro por lavar a louça e limpar a casa. Todo mundo quer louças limpas e a casa limpa. Mas quanto a tarefas extras, como empilhar lenha e apanhar ameixas, éramos pagos para isto.

Em Elmshaven há um relógio sobre a lareira, e eu o chamo de relógio das ameixas. Consigo que várias crianças venham; de fato, na terça-feira anterior a minha chegada, houve duas classes. Uma veio num horário e uma noutro horário, além das outras visitas. Faço com que as crianças se sentem no tapete porque em geral o número delas excede ao de cadeiras, e então lhes conto histórias, e lhes falo a respeito deste relógio e das ameixas.

Em certo Natal maus irmãos e eu pensamos: “Que podemos fazer para nossos pais?” Porque o Nata, era sempre uma época maravilhosa par nós. Os familiares não gastavam muito dinheiro, mas passávamos uma temporada agradável. Possuíamos árvores em nossas terras, e escolhíamos a árvore, a que fosse exatamente perfeita, sabe, e a assinalávamos muito tempo antes do Natal. Cortávamos esta árvore e a colocávamos no quarto que ficava no terceiro andar, e que possuía 3,5 ou 4 m. de altura, um dos quartos realmente altos – não ser porque eram construídos tão altos naquela época. De qualquer forma, tínhamos uma árvore encantadora no local, e lá em cima ela não incomodava ninguém.

Podíamos gastar tempo decorando-a. Tomávamos nozes e então as abríamos e retirávamos a polpa, e as colávamos juntas novamente numa fita, mergulhando-as em tinta dourada ou prateada. Fazíamos isto, o que nos tomava um bom tempo. E fazíamos cordões de pipocas e bagas de madrona. As bagas de madrona não se deterioram facilmente. Em realidade possuíamos um pouco de enfeites comprados que guardávamos de ano para ano, mas fazíamos a maior parte de nossas próprias decorações, e isso já era metade da diversão, sabe. Mamãe fazia para nós coisas que iríamos precisar de um jeito ou de outro. Ela fazia pequenos trajes de dormir, como pijamas, com chinelinhos combinando, porque lá é frio no inverno. Então ela fazia esses chinelinhos combinando, e ficávamos tão contentes com essas roupinhas de dormir com ficaríamos com outras coisas.

Mas quando eu tinha nove anos, meu pai ensinou todos nós a usarmos ferramentas, e eu era uma menina entre os meninos, por isso precisava aprender cortar e serrar madeira e rodar pião e jogar baseball sabe, e todas essas coisas, além de nadar. Se meus irmãos mergulhassem de um lugar alto assim e assim, bem que eu pensava que devia ir um pouco mais alto. Tinha de mostrar a eles. Por isso nos divertíamos muito. Mas o que mesmo eu ia lhe contar?

P: Sobre o relógio das ameixas.

R: Sobre o relógio das ameixas. Isso. Obrigada. Este relógio das ameixas. Dizíamos: “Que vamos dar a nossos pais no Natal?” Em geral fazíamos as coisas. Meus irmãos tinham – você sabe o que é um jogo de pirogravura, com ponta incandescente para se gravar em madeira? Bem, papai ficava fora grande parte do tempo e nos mandava postais; cortávamos a madeira e colocávamos o cartão postal no meio, colocando então uma bonita orla desenhada em pirogravura; pendurávamos três deles juntos e fazíamos uma plaquinha para a parede. E para a vovó fazíamos almofadas, capas de almofadas. Uma de minhas irmãs pintava bem, e costumava então pintar em veludo e dar a ela uma capa de almofada. E os gêmeos, que eram muito vivazes, quatro anos mais velhos que eu – vovó dizia que os meninos deviam aprender a costurar, e as meninas deviam aprender a ordenhar vaca e montar um cavalo, por isso eles aprenderam a costurar e eram bastante artísticos. Num Natal, então, eles fizeram uma bonita capa de almofada para a vovó. Eles a bordaram, aqueles garotos espertos, imagine. Papoulas da Califórnia de um lado, e uma graciosa bandeira americana tremulando do outro lado, e a deram para ela no Natal. Ora, ele apreciava aqueles presentes. Ele nos dava livros e nós lhe dávamos coisas que fazíamos.

Bem, agora de volta ao relógio. “O que vamos dar a nossos pais de Natal?” Então pegamos o catálogo. Tínhamos por volta de 12 dólares. o que podíamos fazer com 12 dólares. Bem, ponderamos que precisávamos de um relógio para colocar em cima da lareira, e então encontramos este relógio, e procuramos até achar precisamente aquele que nos agradasse, e o encomendamos. Bem, chegou a época de Natal e nós colocamos sob a árvore.

Ora, sempre tínhamos um pequeno programa no Natal, porque havia pessoas talentosas que trabalhavam no escritório, e mamãe costumava preparar uma boa cera, com sanduíche e bolo de frutas que fazíamos no Dia de Ação de Graças. Mas congelávamos um desses bolos de frutas para conservá-los até o Natal. E mamãe o cortava em fatiazinhas finas e as colocava na travessa de forma a mostrar apenas a parte branca, sabe. Comia-se apenas um pedacinho. E mamãe fazia sanduíches que eram – na verdade o sanduíche todo tinha a espessura do pão que cortamos agora. Ela nunca entendeu para que eles faziam sanduíches desse jeito. Ela achava que eles não sabiam fazer sanduíches. Bem, lá estavam aqueles deliciosos sanduíches cortados bem finos e algo quente para se tomar. Dessa forma, tínhamos primeiro a ceia, depois o programa, e a seguir a abertura dos presentes, sob a árvore. Bem, nós esperávamos que o relógio não tocasse antes que o entregássemos a eles. Assim, esse é o relógio das ameixas, e ele ainda está lá.

P: Então vocês pagaram por ele com seu próprio dinheiro?

R: Com nosso dinheiro das ameixas.

P: Que tipo de sobremesa, quando havia sobremesa, vocês comiam além de pão e geleia?

R: Esta é uma boa pergunta. Pão e geleia eram a refeição da noite, não sobremesa. Algumas vezes tínhamos um pudim de pão, com passas. Imagino que continha leite e ovos. Fazíamos o que chamávamos de manjar branco. Sabe o que é manjar branco? Não era algo muito doce. Era então servido. Oh, usávamos um pouco de geleia novamente em cima do manjar branco, com um pouquinho descendo pelas bordas; ficava muito bonito. Fazíamos um creme suavemente açucarado, não totalmente sem doce, mas também não doce demais, no qual colocávamos os primeiros morangos; nós os amassávamos e os colocávamos e eles duravam mais dessa forma. E púnhamos fatias de banana neste creme à base de leite, não um creme muito rico, mas continha ovos e leite, se esta é a sua pergunta.

P: Ela fala do uso liberal de leite e açúcar. Tenho curiosidade em saber o que significa uso liberal?

R: Sim, creio que as pessoas hoje – quanto açúcar põe no bolo? E então ainda coloca grossa cobertura de açúcar. Ora, minha mãe fazia bolos – ela não usava fermento em pó nos bolos. Tínhamos de obter fermento de fubá. Como o chamávamos/ Bolo Johny. Ele cresce. Por isso mamãe usava creme tártaro e bicarbonato de sódio e ela parecia saber as proporções exatas.

P: Ela o neutralizava, então.

R: Sim. Nunca comemos nada que tivesse o sabor ou cheiro de bicarbonato. Não. Ela era muito cuidadosa a este respeito. E não fazíamos isto frequentemente, mas de vez em quando você quer que algo cresça sem colocar fermento. Claro que se pode fazer pão de milho com fermento, mas não é muito bom comer pão fermentado quente, e então ele teria que ficar para o dia seguinte, mas não havia problema em aquecê-lo no forno. Era, pois, muito bom o pão de milho com fermento. Mas às vezes se quer pão de milho par ser comido em seguida, e então é preciso misturá-lo dessa forma. Mas muito raramente usávamos – bem, não se pode dizer que ela usava fermento em pó, ela simplesmente fazia o seu próprio. Era fermento de qualquer forma, afinal de contas.

P: Não era fácil obter fermento em pó empacotado?

R: Bem, sim, mas sabíamos que era uma essência muito forte. Agora gostaria de fazer uma pergunta. O fermento que há nos bolos prontos, como na mercearia de nosso colégio, não há problema em usá-los?

P: Eles são equilibrados quimicamente.

R: É o que eu estava em dúvida. Bem, então comprarei um pouco algum dia destes. Eu nunca comprei. Nunca comprei uma mistura para bolo. É claro que eu não gosto de bolo de forma alguma.

P: Ah, você quer dizer nas misturas para bolo?

R: Sim. Não há problemas com eles?

P: Não, se na caixa está escrito que é fermento em pó. Agora algumas das misturas dizem apenas bicarbonato de sódio, mas pode não ser neutralizado.

R: E eles não contêm alguma coisa mais para neutralizá-lo?

P: Depende da – você tem que ler no rótulo.

R: Bem, não creio que tivesse na mercearia do colégio se não fosse bom, teriam? (risadas). Diremos que não.

P: Vocês comiam algo que fosse de alguma forma parecido com sorvete?

R: Tomávamos sherbet* no verão. As ocasiões em que o tomávamos era – bem, às vezes todos nós nos reuníamos. Veja, havia oito escritórios, muita gente para ajudar. E num dia quente todos saíam juntos para debaixo do grande carvalho, em torno do qual havia um bando octogonal, como o que há hoje em baixo do cedro. Íamos todos lá comer junto, e costumávamos fazer sherbet, Tínhamos muitos pêssegos; nós os passávamos pelo coador e adicionávamos um pouco de nata e açúcar e o colocávamos pra gelar. Tínhamos bastante suco de uva, e sherbet de uva é muito bom. Com damascos procedíamos da mesma forma, e o que mais fazíamos desse jeito? Então apenas nos recomendavam: “Tome-o devagar, deixe-o esquentar antes de engolir”, o que não era difícil de fazer num dia quente, deixá-lo na boca um pouco mais de tempo. Costumávamos tirar o batedor de sorvete e a questão era, quem o lamberia dessa vez?

P: Vocês – estávamos falando sobre os cardápios, etc. Quando vocês comiam verduras, comiam também frutas na mesma refeição, ou apenas verduras?

R: Não, vou lhe dizer com era. Como eu disse, o desjejum e o jantar era as refeições de frutas, mas com todas aquelas ameixas sobre as quais lhe contei, tínhamos de usar ameixas muito frequentemente, e elas dava uma salada de ameixas e queijo muito deliciosa. Você já provou? Vou lhe dizer o que fazíamos; elas são muito firmes quando secas, você sabe, e nós as púnhamos naquele fogão a lenha com um pouco de água e as deixávamos ferver em fogo brando por bastante tempo. Quando o suco já havia se evaporado e elas estavam justamente como confeitos, nós as tirávamos, cortávamos, tirávamos o caroço e as abríamos e enchíamos com requeijão, e colocávamos mais ou menos quatro delas numa folha de alface, e dava uma bonita salada, sabe, a folha verde e as ameixas pretas com o centro branco. Gostávamos muito disso.

Tínhamos também neve de ameixas, se é que você sabe o que é isso. Como eu disse, não tínhamos liquidificado e então nós as cozíamos e as passávamos pelo coador, depois misturávamos as claras em neve e servíamos, com um pouco de creme por cima. E simplesmente ameixas puras cozidas, se forem bem cozidas, com creme por cima, dão uma sobremesa deliciosa. Aquelas ameixas eram admiravelmente doces. Não eram irrigadas e eram deliciosas.

Eu dizia ao fazendeiro quando estávamos apanhando as ameixas, “Puxa, como ameixas são gostosas não?” “Bem”, dizia ele, “Não ligo muito para elas”. “Ora”, eu disse, “O senhor não gosta de ameixas com creme por cima? São deliciosas”. “Ora”, ele respondeu “Eu poderia comer qualquer coisa com creme por ima”. Gostávamos muito das coisas que cresciam naquele lugar.

P: Então algumas vezes como uma pequena sobremesa vocês tinham ameixas?

R: Tínhamos ameixas como sobremesa. Sim, com um pouco de creme era muito gostoso. E que outra sobremesa tínhamos? Ah, pudim de tapioca. É o que se chamaria uma sobremesa simples, mas com leite e ovos, porém não doce demais, só o suficiente para das o gosto. Oh, e pudim assado, onde usávamos um leve toque de noz-moscada. Só para dar um saborzinho.

P: Ellen White aparentemente gostava de torta de limão, pelo menos ela menciona isto. Torta de limão simples.

R: Evidentemente sim.

P: Você não se recorda?

R: Bem, já vi fazer torta de limão, mas nunca fiz uma. Eu não sei. A cozinheira fazia. Eu não fazia as tortas, não ligo para sobremesas, por isso é um pouco difícil para eu falar demasiado sobre sobremesas, porque eu não gostava delas. Eu fazia meu próprio bolo de aniversário, e não comi bolo até a idade de 16 anos. Foi preciso que eu aprendesse essa arte. Gostaria de contar-lhe como aprendi mas não o farei. Tomaria muito tempo, mas seria divertido.

P: Pensando sobre as …

R: Ih, você pergunta sobre as frutas. Algumas vezes comíamos melão. Cultivávamos nossos próprios melões, e tínhamos uvas magníficas, e todos os tipos de pêssegos. Sabe que no ano passado tivemos pêssegos de 10 de junho a 6 de novembro. Tínhamos pêssegos em fatias todos os dias, fresquinhos do pomar.

P: Uma das vantagens da Califórnia

R: Não é mesmo? Bem, fiz uma pequena experiência. Gosto de jardinagem, e quando era garotinha visitei o jardim de Luther Burbank em Santa Rosa, quando ele era ainda vivo. Ele nos mostrou tudo, levo-nos a todas as partes, e vi fileiras de pessegueiros. Perguntei a respeito deles, e ele respondeu: “Bem, planto os caroços do pêssego”. Da forma como ele cuidava destes, eles davam fruto dentro de uns 18 meses. Marcava ele então os que eram bons, porque com umas nunca se obtém o que se plantou; é sempre algo um pouco diferente. Ele marcava os bons, e usava então os outros para fazer enxerto dos bons. Então pensei: Vou tentar isso, porque possuíamos lá três acres de terra, e como temos de evitar as ervas daninhas, tenho de plantar algo. Experimentei então os pêssegos, e obtive uma boa variedade de tipos a partir das mudas. Alguns não prestavam, eu simplesmente os jogava fora. Há um que é especialmente bom, e como o meu nome é Evelyn Grace, vou chamá-lo de Eveline Cling!* Pode ser que eu fique rica algum dia. É delicioso. A textura é maravilhosa para se comer. Mas gosto de clings em conserva.

P: Mas estes melões e pêssegos eram usados exclusivamente no jantar? ou desjejum?

R: Nós os usávamos com sobremesa no almoço quente às vezes, bem coo uvas, bananas e figos; maçãs vão bem para a maioria das pessoas; elas vão bem, se não se comer demais; não se come todo um cacho de bananas após o almoço. Em outras palavras, não como em excesso; eu, por exemplo, comi uma maçã hoje, e estava deliciosa, uma maçã de Michigan. Agora, o que mais esqueci?

P: Você não se esqueceu de nada. Mas eu tenho mais algumas perguntas. Estou curiosa para saber sobre o uso – mencionamos várias vezes o uso de ovos. Como vocês usavam ovos? Apenas na preparação de pratos?

R: Não exclusivamente, mas na maioria das vezes. Tínhamos ovos: na casa de vovó sempre se usava ovos, creio que na nossa também, mais ou menos uma vez por semana… Comia-se ovos quente por volta de uma vez por semana. E fazíamos um ovo assado. Bate-se o ovo com um pouco de leite, ou água quente também serve, e coloca-se para assar. Com torradas faz um prato bem leve. Ovos mexidos às vezes ficam um pouco duros, mas esse ovo assado sempre ficava tenro e macio, e então tomávamos torradas frescas e colocávamos umas duas colheradas desse ovo assado por cima. E minha mãe sempre cortava as torradas ao meio no sentido transversal, sabe, e dessa forma dava uma aparência bonita.

P: Onde vocês conseguiam os ovos?

R: Bem, tínhamos galinhas em casa e vovó tinha uma dúzia de galinhas lá em baixo no pomar.

P: Então eram ovos frescos.

R: Sim, as galinhas ficavam num cercado, mas tinham acesso a locais como debaixo das macieiras, e coisas assim. Sim, usávamos ovos. Diria que a média era de aproximadamente três por semana para cada um,

P: No preparo de alimentos e …

R: Sim, ao todo; talvez uma vez por semana eram comidos separadamente, e o resto no preparo dos pratos.

P: Vocês faziam requeijão?

R: Sim, após desnatar o leite; se não tínhamos visitas demais em casa, sobrava algum leite. Nós o aquecíamos e colocávamos o coalho de fazer soro de leite ou iogurte para iniciar a fermentação. Não se deseja requeijão amargo, e é preciso um coalho para torná-lo uma cultura de bactérias refinada. Então colocávamos água fervente quando já estava espesso e simplesmente coávamos. E adicionávamos nata e sal. Era delicioso.

P: Você se lembra de ter usado queijo amarelo? Suave ou moderado, com cheddar cheese* , lembra-se alguma vez disto?

R: Eu senti o cheiro. Era forte. Tínhamos muitos ratos e como nos livráramos deles? Então mamãe comprava um pouco de queijo na cidade e não aprecio tanto o cheiro de queijo, mas tinha um cheiro tão bom para mim, e ela pensava que o colocava onde eu não podia achá-lo, na parte de cima da despensa. Mas eu o achei, porém não comi muito dele, embora gostaria de ter comido mais. É simplesmente algo que eu gosto e algo que não faço.

P: Mas não era um artigo de consumo da casa?

R: Oh, não. Usávamos requeijão. Não diria que nunca.

P: Algo como queijo cremoso?

R: Oh, sim, queijo cremoso. E o que são esses queijos circulares? São brancos?

P: Sim, são um pouco mais consistentes.

R: Sim, usávamos esse tipo de queijo, mas nenhum dos queijos velhos e picantes. Mas gosto de queijo amarelo. Esses não tínhamos.

P: Você está ciente do fato de que uma quantidade de lista de compras foram achadas nos registros. Algumas perguntas são baseadas em algumas das coisas que estão nas lista de compras. Primeiro de tudo, você se lembra quem era a cozinheira da casa durante o anos, digamos 1911-1913?

R: Que eu me lembre? Bem, lembro-me até antes disso, mas é uma boa pergunta. Para começar, deixe-me dizer-lhe como as listas eram feitas. a mercearia, a mercearia do Sanatório era a meia milha de nossa casa, subindo a colina. todo dia vinha um homem com uma carroça e tomava os pedidos, ou fazíamos o pedido por telefone, pois tínhamos um telefone local. Sim, era mais provável que fizéssemos o pedido por telefone, e então ele chega entregando as mercadorias, e eles anotavam os pedidos quando telefonávamos, e ele trazia as encomendas para cada família, já prontas numa caixa, entregue em nossa casa.

Uma das listas diz algum tipo de óleo, quantos galões de óleo? Sabe o que era? Era querosene para o fogão auxiliar. Nós o chamávamos de óleo de carvão nessa lista. Alguém disse: Que tipo de óleo é este? Porque não está bem claro, você sabe. Mas não era óleo comestível, mas usávamos de fato outros óleos, óleo de semente de algodão, óleo de milho…

P: Para cozinhar?

R: E fazer maioneses, sim.

P: Oh, vocês faziam maionese?

R: Sim, esta era uma de minhas terrenas, também. Você vê, não usávamos absolutamente nenhum vinagre. Na realidade, não tolero o cheiro de vinagre, e vovó era louca por vinagre. Esta foi uma das coisas mais difíceis dela abandonar. Ela queria vinagre na alface, e vinagre, suponho, no repolho, ou o que quer que cozinhasse, e vinagre, sabe, apenas vinagre.

P: Era um artigo comum na mesa naquela época.

R: Suponho que sim. E ela gostava de coisas azedas. Então era substituído no meu tempo por suco de limão. Colocávamos limões no suco de uva, que era diluído em água, e tomávamos um copo de água com meio limão, cada pessoa, e isto dava uma porção de limões. Mamãe fazia um ótimo molho de limão com casca de limão ralada e novamente um pedacinho de noz-moscada. Portanto usamos uma porção de limões. Oh, e ela ralava limão em um dos bolos também. Casca de limão. Dá um ótimo bolo.

P: Esses aparecem nas listas de compras, uma dúzia de limões aqui e ali.

R: Sim, consumíamos muitos limões.

P: Também nas listas de compras havia fermento em pó e bicarbonato de sódio.

R: Sim. Não se via isso muito frequentemente. Havia bicarbonato, sim.

P: Para que se usava isso?

R: Bem, vivíamos no campo, e me lembro de um dia em que me sentei na grama na encosta da colina e me assente perto de um ninho de vespas ou vespas americanas. Sabe onde as vespas americanas fazem seus ninhos? Bem no chão, e eu me levantei e dei um grito. Quatro delas me picaram de uma vez. Então saí correndo à procura de bicarbonato. Tínhamos isso bem à mão, porque éramos picados por abelhas e formigas, e, além disso, havia bastantes heras venenosas por lá e algumas pessoas não chegavam a encostar-se nela. Mas vinham algumas pessoas, e tínhamos apenas de colocar o bicarbonato sobre toda a superfície do braço, sabe, e ele ficava branco, porque estavam contaminadas com hera venenosa. Usávamos bastante bicarbonato em pessoas que tinham estado em contato com essa planta.

Também usávamos bicarbonato para lavar a geladeira. Usávamos um pano embutido em bicarbonato para limpeza – ele refresca e limpa. Sim, usávamos bicarbonato, e lá de vez em quando, como eu disse, usávamos um pouco de bicarbonato com creme de tártaro para assar alguma coisa. Não sei exatamente o que tudo era.

P: Umas listas tem fermento em pó.

R: Pode ser que neste tempo eles achavam que não havia nada de errado com fermento em pó, mas minha mãe nunca pensou que não havia nada de errado com ele! Ela nunca usava fermento em pó exceto o que ela mesmo fazia. E como conseguia fazer aqueles bolos tão leves eu não sei. Ela batia as gemas com água quente, e a claras todas separadas, juntava tudo, e saía um bolo delicioso. Não consigo fazer isto. Ela era uma cozinheira.

Oh, então para a cobertura de suspiro em vez de açúcar cristal, sabe, com toda aquela nata, nós a batíamos e acondicionávamos apenas um pouquinho de açúcar refinado, não ia muita quantidade. Bem, quando você come, uma cobertura de suspiro dessa espessura, você está ingerindo uma porção de açúcar, mas quando você ingere apenas um pouquinho de açúcar na nata – e foi assim que eu aprendi a comer bolo, era um bolo de nata quando meu esposo veio da Europa, veio visitar o local onde morávamos, e mamãe se apaixonou por ele antes de mim, então fazia bolo quando ele vinha, e eu achava que tinha de comer um pedacinho com ele. E essa foi a forma como aprendi a comer bolo.

P: Perfeito. Eu estava curiosa sobre a pessoa que estava cozinhando durante este período que temos as listas de compras; havia tempos em que ela não conseguia encontrar uma boa cozinheira, ou uma que cozinhasse de acordo com a reforma pró-saúde.

R: Você tem razão.

P: Você tem qualquer recordação da cozinheira nessa época?

R: Sim, lembro-me que uma das cozinheiras disse: “Coloquei fermento em pó nessas broas” e Ellen White disse que eram as melhores e mais leves que ela tinha comido por muito tempo. Mas a cozinheira não lhe disse que tinha posto fermento em pó e talvez o fermento em pó fosse o melhor de nossa época. Eu não sei.

P: Você não nos deu a receita das broas. Nós começamos e depois esquecemos as medidas.

R: Uma xícara de farinha, e misturávamos diferentes farinhas, usávamos alguma farinha branca, alguma integral, e às vezes, farinha de milho com farinha branca. Uma xícara de farinha, uma xícara de leite, uma CS rasa de óleo, um pouquinho de sal e um pouquinho de açúcar, um ovo. Esta é a proporção, mas naturalmente faziam-se várias xícaras disso porque se fazia uma fornada de broas.

P: Como elas eram?

R: Com eu disse, mamãe me mandava ao depósito de lenha para apanhar lascas de madeira. Eu não lhe contei isto. Comecei mas me desviei do assunto. Tínhamos lenha de manzanita*,que fazia um fogo forte, Ela queria um fogo realmente quente, e colocava estas lascas que certamente se queimava. Despejava então essa mistura (era fina o suficiente para se despejar) naquelas panelas que de tão quentes faziam barulho, ao entrar em contato com a massa; colocava-as no forno e fechava a porta e elas cresciam. Mas às claras eram acrescentadas. Se não acrescentássemos as claras, batíamos a massa durante um tempo maior, pois era líquido o suficiente para ser batida.

P: Então era quase como um “popover”

R: Sim, exatamente. Comíamos estas broas 2 ou 3 vezes por semana.

P: Parecem ser deliciosa.

R: E eu gosto de morder a pontinha e enchê-las de nata. Você pode ver que eu gosto de nata.

P: Você se referiu anteriormente, estava falando sobre o fato de que em sua casa havia 3 refeições geralmente, mas na de sua avó havia 2 refeições. Qual era a razão para a diferença? Você se lembra?

R: Sim, por causa do horário da escola. Era tempo demais do meio dia até a hora de dormir sem comer nada. E estávamos crescendo, e éramos terrivelmente ativos. Vovó era mais ou menos sedentária, embora ela saísse de fato um pouco, mas não havia nenhuma atividade pesada. E nós íamos trabalhar, nadar, para o baseball, e cuidar do jardim, e serrar lenha, e cortar madeira, e no Natal quando eu tinha nove anos ganhei um machado vermelho de presente, e fiquei fora de mim de contentamento.

P: Bem, em alguns dos conselhos que ela escreveu, ela fala sobre crianças no plano de duas refeições por dia.

R: Sim, eu sei, mas nunca fizemos isso.

P: Provavelmente porque vocês estavam na escola.

R: Bem, eu não sei, simplesmente não o queríamos, e se você não quisesse, não tinha de fazê-lo. Quero dizer, ela era tolerante.

P: Nunca se tornou assunto de discussão.

R: Não.

P: Bem, certamente do meio dia até a manhã seguinte seria muito tempo…

R: Bem, parecia longo para nós, e por isso sempre tomávamos uma refeição leve, cedo e ela era em grande proporção frutas esses produtos inflados, esses cereais de fácil digestão, com requeijão. E o fazendeiro [Iram James] tinha 13 crianças, e eles faziam um ótimo pão, e à tarde uma das garotas maiores trazia uma mesa para fora, sob as árvores, no verão, e aqueles grandes filões de pão, e ela os cortava em fatias e passava geleia, e as crianças ficavam todas em fila, vê, e se podíamos entrar naquela fila do pão com geleia pensávamos que havíamos conseguido algo importante! Mamãe sempre dizia: “Vocês não devem fazer isto. A Sra. James já tem muito o que fazer sem que vocês entrem nessa fila de pão com geleia”. Mas éramos bem-vindos, eles nos davam as boas vindas. Nós pensávamos que era maravilhosa aquela fila do pão com geleia.

P: Quanto artigos de alimentação havia na mesa às refeições, digamos no desjejum, almoço ou jantar? Duas ou três coisas diferentes?

R: Desjejum ou almoço? Bem, você quer dizer frutas? Isto tudo é uma coisa só, frutas, mesmo que seja de quatro tipos diferentes? Bem, comíamos frutas, o mingau e as castanhas?

P: Mas várias frutas, vocês geralmente não tinham uma fruta só, tinham várias?

R: Geralmente quatro.

P: Quatro frutas diferentes?

R: Simplesmente comíamos frutas. Mas, mas quantos tipos de coisa no almoço? Ela usava saladas, alface fresquinha da horta, muitos pepinos, e uma porção de coisas frescas da horta. Rabanetes, mesmo nabos cortados fininhos são gostosos, se são frescos, você sabe. Assim tínhamos algo fresco, uma sobremesa simples, e os três pratos quente, e algo para beber. Portanto não sei como você equaciona isto com duas ou três coisas numa refeição. Eu não sei o que ela tinha em mente, eu não sei.

P: Pode ser classificação. Pensando sobre as refeições do sábado e as refeições dos dias de semana?

R: Talvez não tão carregado o almoço no sábado, mas algo especial. Em regra geral a família W. C. White não comia na casa de Ellen White pela simples razão de que não havia mesa o suficiente para acomodar a todos, ambas as famílias, com os hóspedes de ambas as famílias. As refeições do sábado que mais apreciávamos vinham quando vovó falava, digamos em Calistoga, ou em Napa. Minha mãe sabia antes da hora, e como vocês ouviram no filme “Sim, eu me lembro de Ellen White”, mamãe fazia um delicioso almoço.

Agora, o que fazíamos com respeito a um prato quente? Nós éramos crianças e necessitávamos de algo aquecido. Vovó era uma senhora idosa, usava energia em seu discurso, precisava de algo aquecido. Mas como eu lhes disse na aula, tínhamos estufas e elas eram muito práticas, porque tudo que mamãe precisava fazer no sábado pela manhã era aquecer os pratos e colocá-los nessas estufas e colocar a tampa, e encaixá-la sob o banco de trás. Isso com os sanduíches e coisas frescas constituía nossa refeição. Estendíamos nossa toalha de mesa no chão; não havia mesa, não precisávamos de uma. Eles colocavam as almofadas no chão para a vovó, e sentávamos ao redor desta toalha nos tapetes e saboreávamos o delicioso almoço, com algo quente. Isto nos proporcionava algo aquecido na refeição.

P: Era isto que eu queria saber. Vocês sempre tinham alguma coisa quente para o almoço se sábado?

R: Oh, sim. Mas era sempre cozido de antemão. Lá em Elmshaven agora nós temos visitas que vêm às 2 hs todas as tardes, e dessa forma eu preparo o almoço na sexta-feira, e nós podemos nos sentar à mesa 10 min. depois de chegar em casa, e isto nos da quase uma hora de descanso antes das visitas chegarem. E geralmente há talvez quinze, talvez não, lá fora na entrada esperando. E então ficamos ocupados a tarde toda.

Esses almoços de todos juntos destacam-se em minha mente e minha memória. Os sábados, todos os sábados, eram como pedras preciosas num belo pano de fundo. Esperávamos ansiosamente pelo sábado; eles eram passados com a família toda reunida, vovó e nossa família juntamente. Passávamos um período agradável no sábado.

Depois de almoçarmos, um adulto nos levava a passear, éramos muito ativos. Tínhamos de nos assentar quietos na igreja, mas não tínhamos de ficar sentados quietos o sábado todo. (Na realidade, sentávamo-nos bem no banco da frente. Sabe no que estou pensando? Naquele hino “Nothing Between”). Bem, fazíamos uma verdadeira excursão com um adulto [ara supervisioná-la. Eles sempre achavam algo interessante para nos contar. Aprendíamos muito nesses passeios. E então voltávamos e durante esse tempo vovó havia descansado, você vê. Então mamãe lia em voz alta para nós algumas das cartas que haviam sido reservadas durante a semana. Nós tínhamos, ou ela possuía, uma tremenda quantidade de correspondência, e cartas interessantíssimas de todas as partes do mundo. Eles separavam as cartas interessantes e mamãe lia em voz alta para nós. Então cada um de nós lia um pouco; pode ser que eu lesse do “Nosso Amiguinho“, e meus irmãos lessem um artigo do “Instrutor da Juventude“, e os adultos ouviam enquanto líamos. Foi dessa forma que aprendemos a ler bem. Então papai contava uma ou duas histórias e então tomávamos o capítulo que tinha sido composto naquela semana, pronto para ser impresso, e o ouvíamos. Assim ouvimos aqueles dois livros antes de ser impressos. Nós gostávamos deles quando crianças.

As crianças entendem muita coisa. Sua compreensão do vocabulário que ouvem aumenta muito rapidamente se os pais lerem com significado. Ora, quanto minha mãe simplificava, eu não sei, mas ela começou a ler para nós a série “Conflito dos Séculos” quando éramos apenas pedacinhos de gente. E não sei quantas vezes a lemos.

P: Tremenda experiência. Falamos antes sobre comida, bebida aquecida. Você disse que eles bebiam o café de caramelo. Tomavam alguma vez qualquer outra coisa quente, como cacau?

R: Ah, vovó não diz uma palavra sobre chocolate. Por quê? Deve ter havido alguma razão.

P: Era um artigo comum na alimentação e sempre achei estranho que não houvesse absolutamente nenhuma menção.

R: Tínhamos tanto leite, e simplesmente colocávamos um pouco de chocolate no leite quente para variar. Sim, fazíamos isso de vez em quando. Lembro-me de que a Sra. McKibben estava em casa uma vez. Ela devia dar uma conferência, e ela disse: “Posso tomar uma xícara de chocolate? “e a cozinheira disse: “Sim, naturalmente”.

Oh, você perguntou quem era a cozinheira. As últimas cozinheiras eram uma gêmea e a outra sua irmã gêmea, e elas eram as garotas de Woodbury.

P: Então elas cozinharam nos últimos poucos anos.

R: Sim, como se lhes mandava.

P: Deve ter sido um desafio cozinhar para um grupo tão grande, com pessoas chegando todo o tempo.

R: Sim, e era mesmo. E tínhamos visitas o tempo todo, e depois que me casei e fui embora, escrevi perguntando: “Mamãe, vocês ainda tem aquela penca de visitas?” “Sim”, ela disse, “igualzinho ao que era”.

P: Você se lembra se essas cozinheiras usavam qualquer livro de receitas em particular?

R: Bem, eu tenho, gostaria de tê-lo trazido, porque não o trouxe?! O que é chamado “Livro de Receitas Laurel“. É um livro grande. E tínhamos aquele do qual aquele homem leu. Qual era mesmo?

P: Alguém disse: “Receitas Vegetarianas” de Fulton?

R: Sim, tínhamos este. Creio que ainda tenho um em alguma parte.

P: Então elas usavam algumas receitas; ou elas usavam as suas próprias?

R: Bem, no “Livro de Receitas Laurel” nós alterávamos as receitas porque elas continham coisas que não queríamos usar. Mas você pode alterar uma receita para fazê-la da forma que você entende que deve tê-la. Por esse motivo tenho sido um pouco reservada em deixar as pessoas ter em mãos o livro de receitas porque e temos receitas mesmo copiadas nas últimas páginas que nós alterávamos. Nós as copiávamos da forma como eram dadas e então nós mesmas as modificávamos, e nem sempre as pessoas entendem isso.

P; Nos escritos de EGW temos “Conselhos sobre o Regime Alimentar“, tirados de muitos lugares; ela às vezes explicava as coisas tendo como base à saúde, e às vezes ela simplesmente dá conselhos. Você se lembra de discussões na casa dela, ou em sua casa, sobre as razões porque as coisas eram da forma com eram? Porque às vezes isto é algo que é curioso para nós hoje. Nem sempre compreendemos o que ela tinha em mente.

R: Com o queijo ela não apresenta razões. Você infere que nos primeiros tempos era do ponto de vista dos germes, e mais tarde descobre coisas que indicam que era o conteúdo, por ser muito substancioso; e talvez fosse ambos. Eu não sei. Nós não discutíamos isso realmente.

P: Vocês realmente discutiram a questão do queijo?

R: Não com ela, mas em nossa própria casa com meu pai. E quando eles quiseram de fato traduzir “A Ciência do bom viver“, meu pai falou com vovó, dizendo que naqueles países para onde o livro ia seria um sacrifício para eles não usar queijos, e então ela decidiu que eles o traduziriam: “queijo forte, picante, não é próprio para alimentação”. Ora, você disse algo sobre meu pai adulando minha mãe, ou qualquer coisa. Eu gostaria dessa pergunta porque é uma boa pergunta.

P: Bem, a pergunta que surge de um boato, é se um dos filhos da Sra. White perguntou-lhe ou não quando ela iria retratar uma declaração errônea concernente à mistura de frutas e verduras. Você se lembra de qualquer discussão sobre frutas e verduras?

R: Lembro-me da discussão aqui nesse grupo de estudos. Não. Meu pai pediu à vovó que retratasse qualquer coisa. Ela era a mensageira do Senhor, e ele o filho obediente. Ele nunca pediu que retratasse nada. Ora, isso seria ridículo. Isso é apócrifo.

P: Mas você se lembra de qualquer discussão sobre as frutas e verduras? Essa é uma das coisas para as quais temos muito poucas razões.

R: Eu sei. Deixe-me ver agora. De fato, falávamos sobre isso, mas não com vovó. Havia uma mocinha que morava perto de nossa casa e ajudava mamãe algumas vezes, e ela tinha a digestão deficiente, e nós, crianças, finalizávamos nossas refeições com maçãs ou framboesas ou pêssegos. Simplesmente gostávamos de frutas como sobremesa, e ela simplesmente achava aquilo terrível. Mas ela não se lembrou de que aquela declaração é precedida das palavras ‘se a digestão é deficiente’. Nós não tínhamos a digestão deficiente! Não, eu não sei o que dizer. Não tenho nada a dizer.

P: Certo. Há quaisquer outras receitas, você sabe, receitas de família que você se lembra com gratas recordações?

R: Oh, sim. Vejamos. Temos uma receita que é muito fácil e gostávamos muito. Vovó gostava demais de tomates. Se ela pudesse comer tomates crus ou cozidos todos os dias de sua vida, ela apreciaria muito. Portanto nós gostávamos de tomates também. E havia uma receita que gostávamos muito em casa, e nós a chamávamos tomates assados com pão. Ora, você coloca em um pires sua lata de tomates se é tempo de inverno, e adiciona um pouco de aipo e cebola. Então você passa um pouco de margarina no pão e o corta em quatro pedaços e o coloca por cima dos tomates e com uma colher o empurra para baixo até que não fique mais por cima, e coloque no forno. E, realmente, você se surpreenderia com o sabor. É muito bom, e facílimo, e você pode requentar depois sem que o sabor fique prejudicado.

Outro que é um prato “White”, sei que nunca o comi em qualquer outro lugar, é o que chamamos arroz ao forno com castanha. Tínhamos o arroz cozido; digamos que seja para uma família pequena e tenhamos duas xícaras de arroz cozido, então toma-se meia xícara de manteiga de amendoim e a dilui na água. Creio que vai mais de meia xícara de água, você o dilui até que esteja como creme grosso. Coloca-se cebola picada e salva, e não coloque leite, que tira o sabor, mas faça-o com água. Água, sua salva, sua cebola picada, e leve ao forno, é delicioso.

P: Lembro-me de seu irmão dizer sobre manteiga de amendoim no arroz

R: Bem, isso era de manhã. Nós o colocávamos sobre o arroz puro, mas este era assado como salva, cebola, manteiga de amendoim.

P: Vocês deixavam a manteiga de amendoim mais rala quando colocava sobre o arroz puro?

R: Sim, tínhamos de fazer isto. Não se pode misturar manteiga de amendoim com o cereal.

P: Vocês eram crianças tão apreciadoras de manteiga de amendoim como as crianças de hoje?

R: Oh, sim. Eles faziam ótima manteiga de amendoim na fábrica alimentícia. Isso era bom. Você podia consegui-la bem fresquinha.

P: Você tem qualquer ideia de como eles a faziam? Era adicionado açúcar a ela?

R: Oh, não, eles simplesmente trituravam os amendoins. E colocavam um pouco de sal. E então, havia outra pergunta sobre alimentos com castanhas; você não me fez essa pergunta.

P: Falamos um pouco sobre os alimentos protéicos industrializados, mas vá adiante e fale sobre os alimentos com castanhas.

R: Nós o usávamos, mas nós mesmos os fazíamos. Agora, como eu disse, não tínhamos condições financeiras para comprá-los, embora a indústria alimentícia fosse vem ao pé da colina. Por isso mamãe fazia a nossa, com suco de tomate. Ela diluía a manteiga de amendoim com suco de tomate, e ralava cenouras e colocava dois ovos, e às vezes um pouco de maisena, ou às vezes um pouco de farinha integral, para engrossar. E usávamos as mesmas latas que usavam na fábrica alimentícia para seus produtos. Nós tirávamos as tampas, sabe. Desejávamos isso dentro e se o assávamos, nós o fazíamos na assadeira grande com água no fundo. Se o cozinhávamos em banho-maria, apenas o colocávamos para ferver numa panela com água. E isso ficava bom para se cortar em fatias. Deliciosas fatiazinhas.

P: Já provei pão de castanhas feito em casa. É delicioso.

R: Coloquei ovos nele. Creio que se colocavam ovos. Eu mencionei isso?

P: Sim. Você usava com as castanhas, então, em algumas dessas combinações.

R: Sim. Às vezes usávamos algumas cenouras, e ela sugeria que usássemos hortaliças em nossos alimentos feitos com castanhas e eu não conheço nenhuma fábrica que não o faça. Você conhece?

P: Eu não conheço.

R: Bem, com suco de tomate e cenouras você tema algumas hortaliças incluídas. Mas nem mesmo se percebia que havia uma cenoura nele. Misturada e assada junto com a massa.

P: Uma das dificuldades que qualquer pessoa enfrenta que esteja interessada na reforma pró-saúde – educação pró-saúde – é o problema de pessoas que vão a extremos, e creio que a maioria de nós enfrenta isso. Como nos relacionamos com pessoas que têm um ponto de vista muito fixo?

R: Que são extremistas. É muito difícil. E muito penoso. E nós os encontramos. Houve um homem que veio ao lugar onde morávamos, e disse que você deve mastigar sua água. Não a engula apenas, mastigue-a, misture saliva com ela. Bem, deixe-o mastigar sua água. Não argumentávamos com ele. E houve outro que veio e carregava seu chapéu, sempre, e era um chapéu de feltro, que era dobrado para que ele pudesse carregá-lo debaixo do braço ou na mão, e ele tinha carregado tanto dessa forma que todos os vincos estavam gastos. Bem, porque ele carregava um chapéu? Porque era moda naqueles dias ter um chapéu. Bem, e por que ele não o colocava? Porque na Bíblia diz “Orai sem cessar”, e não se ora de chapéu. Assim, nós o recebemos bem, e ele fez as refeições em nossa casa e ficou vários dias. E tudo certo.

Mas um dia na Austrália (antes de eu nascer, me contaram), um homem veio precipitadamente dos Estados Unidos – às pressas nu navio mensal, mas não tomou tempo nem mesmo para se despedir de sua família após a conferência, e veio apressadamente à Austrália para dizer a Ellen White que a Igreja Adventista era Babilônia. Bem, ele veio e vovó sabia que ele vinha, o Senhor havia-lhe revelado. Então, quando ele veio, dissera: “Oh, você é tão bem-vindo e pode ser um membro de nossa família e, a propósito, você sabe datilografia?” Sim, ele sabia. “Bem, estamos tão ocupados agora. Estamos terminando o ‘Desejado de Todas as Nações’. E sabe, depois de não sei quantas semanas ele esqueceu que a Igreja Adventista era Babilônia. Ele nunca chegou a expor isto.

P: Uma excelente estratégia, voltar os olhos para Cristo. Talvez esta seja uma lição para nós, ao lidarmos com pessoas que não concordam conosco …

R: Se pudéssemos desviar suas mente disso. Mas é difícil porque se uma pessoa é fanática e crê em algo, não a fará mudar de idéia a argumentação, não se pode mudá-la com argumentação. Eu estava ensinando para a East Los Angeles e chegou um garotinho. Eu ensinava para 6ª., 7ª., e 8ª. séries; era uma escola pequena. Uma mãe trouxe um pequenino raquítico; ele estava pronto para a 6ª. série, uma coisinha. E eu pensei: “Que há com ele?” “Bem”, ela disse, “ele nunca tomou leite, e talvez eu devesse dar-lhe um pouco”. E eu disse, “Certamente! Comece a dar-lhe um pouco de leite”. Você sabe que eles simplesmente não podem crescer sem leite. Não havia leite de soja na época.

P: Estávamos falando sobre as listas de compras e você disse que os alimentos eram entregues. Quem fazia o pedido?

R: Na casa de vovó havia o que eu chamaria de despenseira. Ela era a Sta. Sara McEnterfer, e estava com vovó desde o primeiro ano em Elmshaven ou antes disso. E ela planejava todas as refeições com a cozinheira; elas trocavam ideias.

P: Então cozinheira não fazia o pedido da comida sozinha?

R: Algumas vezes Sara – nós a chamávamos tia Sara, embora não tivesse nenhum laço de parentesco – ela fazia o pedido, e às vezes a cozinheira fazia, de acordo com quem estava disponível no momento. Uma das ajudantes fazia o pedido. Vovó nunca sabia o que elas pediam.

P: Você se lembra alguma vez quando a comida era frita? Serviu-se alguma vez de alimentos fritos?

R: Pasteizinhos, em outras palavras? Faziam-se pastéis ou frituras? Sim. Mas havia grande cuidado para não aquecer demais o óleo, e para não haver muito óleo na panela. Tínhamos aquelas grandes frigideiras de forno, era praticamente como assar, e colocávamos somente o óleo suficiente para que não aderisse, e tomava-se grande cuidado para que não ficasse quente demais.

P: Eram deixados a escorrer o óleo depois? Se eles eram fritos, o óleo em excesso era absorvido?

R: Não, não. Não colocávamos tanto óleo. Apenas o indispensável para que não aderissem à panela. Diria que era praticamente como assar em uma assadeira de ferro. Colocávamos uma tampa, às vezes. Portanto era praticamente como assar. Mas havia cuidado para não aquecer demasiadamente. O problema nas frituras à óleo em demasia – duas coisas – óleo demais – esta é a minha ideia, agora vocês são cientistas e podem ter uma concepção diferente – óleo demais e não superaquecer o óleo que você de fato usa. E tantos cometem o erro. Estive em casas onde quando está saindo fumaça do óleo é que colocam massa para fritas, e isso é absolutamente indigesto, o óleo que é aquecido dessa forma/

P: Entre as refeições. Vocês alguma vez bebiam suco de frutas, ou leite, ou algo semelhante?

R: Suco de frutas, entre as refeições. Mas no que toca a comer entre as refeições, isto estava fora. Vovó tinha muitas macieiras, e descíamos ao pomar para colher maçãs para que pudéssemos ter molho de mação, e mamãe dizia: “Apenas engulam o caldo, joguem fora a polpa”. Bem, essa é a forma em que fomos criados, e alguém deu aos gêmeos (fomos à Igreja no Sanatório, quando eles eram pequenos), alguns pacientes os viram andando por lá – aqueles garotos engraçadinhos, você sabe – e descascaram uma banana para cada um deles e lhes dera. E você pensa que eles comera? Isto realmente deixou mamãe embaraçada. Não, eles não comeram. Eles levaram aquelas bananas para casa para esperar até a hora do jantar. Portanto éramos bem treinados quanto a comer entre as refeições, suponho.

P: Suponho que sim! Mas às vezes um pouco se suco?

R: Oh, sim. E se ficássemos terrivelmente famintos, bem, direi o que comíamos. Tínhamos ameixas que tinham muito, muito caldo. Eram ameixinhas amarelas do tamanho de damascos, e se as batêssemos juntas dessa forma, no fim não há nada mais que suco. E às vezes tínhamos um lanche disso entre o almoço e o jantar, justamente como suco, nada mais.

P: Já provei dessas ameixas, e elas são super deliciosas.

R: Não passa de caldo puro. E quando íamos nadar levávamos uma sacola conosco, e após termos nadado (tínhamos de andar por volta de 2,5 Km para ir até o poço onde nadávamos), bem, comíamos ameixas todo o percurso de volta para casa e então jantávamos ao chegar. Isto não era considerado entre as refeições!

P: Era apenas um preparo para o jantar

R: Certo, apenas um preparo.

P: Você mencionou que usavam “um pouco de noz-moscada”. Essa era a única coisa que poderíamos classificar como especiarias, que era usada?

R: Bem, a única coisa era um pouco de canela às vezes nas tortas de maçã. Algumas maçãs não têm muito sabor, e púnhamos um suco de limão e… Mas, se alguma vez usava isto, era apenas ocasionalmente e era quase como se a torta andasse com pernas de pau – ela não levava demasiada canela.

P: Mas vocês usavam temperos?

R: Oh, sim. Cultivávamos nossa própria salva e hortelã, e o que mais? Tomilho, manjerona. Sim, usávamos tempero para dar sabor, mesmo alho.

P: Alho é delicioso – para algumas pessoas.

R: Para aquele que o come!

P: Você sabe ou se recorda a que se referiam os termos hortaliças ásperas? *

R: Você é a pessoa certa para explicar.

P: Não nos referimos a hortaliças nessas categorias.

R: Bem, diria que couve seria uma hortaliça áspera, e mesmo aipo poderia ser áspero. Repolho? Couve-flor não é áspera, cozida fica bem tenra.

P: É um termo incomum porque é difícil saber como defini-lo.

R: O mesmo que é um termo difícil é saber o que é uma fruta. Estão mais ou menos na mesma categoria.

P: Suas memórias mostram que você teve uma infância muito feliz

R: Oh, foi magnífica.

P: Como você via – como uma criança, como você via sua avó? Você a amassava como avó, mas como você a via como pessoa?

R: Bem, sabíamos que ela era uma mensageira do Senhor. Não me lembro de terem me dito isto, mas ouvíamos seus escritos desde que éramos pedacinhos de gente, na hora o culto ao redor da lareira, à noite. Sabíamos que ela era a mensageira do Senhor. Não duvidamos por um momento. Mas ela ainda era nossa doce avozinha, e foi maravilhoso conviver com ela.

Felizmente, meu pai era como a mãe dele, muito afável, não creio que alguém tenha tido um infância mais feliz. Tínhamos balanços altos para balançar, coisas que não custavam muito, gangorras, carrosséis feitos em casa para ficar tontos neles, montes de areia para brincar, e para mim (porque minhas irmãs mais velhas já haviam saído de casa quando eu estava crescendo, a última se casou quando eu tinha seis anos, e portanto fui criada com quatro garotos), bem, eles cercavam um patiozinho para mim, um jardinzinho, e nele estava uma casinha de brincadeira com, não parece, mas grade para que o ar pudesse entrar, e eu podia fazer o que quisesse com isso. Fiz um pequeno corredor até a casa, e plantei nas laterais, e consegui avencas das rochas junto à enseada e fiz um pequeno recanto de avencas e gerânios, e podia fazer como quisesse. E você sabe que isso significa muito para as crianças, ter algo com o que você pode fazer o que quiser, o que inventar, você sabe. E eu fazia o que eu bem queria com aquele patiozinho, e o melhor tempo de minha vida passei lá.

P: Muito obrigada por ter partilhado suas memórias conosco.


 * Ver p. 20

* Arthur White, irmão de Grace Jackes. N. T.

* Fruto híbrido obtido mediante cruzamento de framboesa e amora silvestre. N. T.

* Uma sobremesa congelada feita de suco de frutas, açúcar e água, leite de coco ou clara de ovo.   N. T.

* Clingstone – pêssego cujo caroço adere à polpa (EUA). N. T.

* Uma variedade de queijo duro e liso.  N.T.

* Arbusto da parte oeste dos EUA.  N. T.