Por W. C. White, D. E. Robinson e A. L. White

 

A “Série Conflito dos Séculos”

As revelações dadas a Ellen G. Harmon (mais tarde, White) tiveram início em dezembro de 1844. Os primeiros esboços dessas visões foram escritos em cartas endereçadas a indivíduos, algumas das quais foram publicadas pelos destinatários. Durante os anos de 1849 e 1850, sete artigos de sua pena foram publicados por Tiago White na revista Present Truth.

No verão de 1851, foi impresso pela Davidson Printing Company de Saratoga Springs, Nova Iorque, um panfleto de 64 páginas intitulado ” A Sketch of the Christian Experience and Views of Ellen G. White”. Este, que foi o seu primeiro livro, continha não apenas artigos de sua autoria previamente impressos, mas também alguns capítulos apresentando outros assuntos que lhe foram revelados, mas que não haviam sido publicados anteriormente.

Em 1854, foram publicadas 48 páginas complementares ao “Experience and Views”, incluindo várias novas revelações. Esses dois panfletos, conforme reimpressos em 1882, constituem as duas seções iniciais de “Primeiros Escritos”.

“Spiritual Gifts,” Volumes I-IV

Nos dias 13 e 14 de março de 1858, um fim de semana, Tiago e Ellen White compareceram a reuniões em Lovett’s Grove, atual Bowling Green, Ohio. Na tarde de domingo, dia 14, Tiago White realizou um funeral na escola onde as reuniões sabáticas haviam acontecido. Seguindo a atitude de seu marido, Ellen White levantou-se e começou a falar palavras de conforto aos enlutados. Enquanto falava, foi arrebatada em visão, e por duas horas, durante as quais a congregação permaneceu no edifício, o Senhor, por meio de revelação divina, expôs-lhe muitos assuntos importantes para a igreja. Falando sobre a ocasião, ela escreveu:

Na visão que recebi em Lovett’s Grove, a maior parte do que eu havia visto dez anos antes em relação ao grande conflito entre Cristo e Satanás se repetiu, e fui instruída a escrever. Foi-me mostrado que, embora tivesse que lutar contra os poderes das trevas, pois Satanás empenharia grandes esforços para me impedir nessa tarefa, deveria confiar em Deus, e os anjos não me abandonariam no conflito. — Life Sketches of Ellen G. White, p. 162.

No dia seguinte, Tiago e Ellen White começaram a viagem de volta para casa. No trem, eles conversaram sobre o que havia acontecido e fizeram planos para escrever a visão e publicar a parte relativa ao grande conflito. Decidiram que essa deveria ser a primeira tarefa de Ellen White ao chegar em casa.

Mal perceberam a ira de Satanás por causa da revelação feita sobre o seu caráter e artimanhas, nem o tamanho da sua determinação em frustrar os planos de redigir e publicar o livro proposto.

Chegando a Jackson, Michigan, a caminho de Battle Creek, eles visitaram velhos amigos na casa de Daniel R. Palmer. Nessa época, a saúde de Ellen White estava boa, como de costume. A seguinte experiência, conforme suas próprias palavras, foi uma grande surpresa:

Enquanto conversava com a irmã Palmer, minha língua não era capaz de expressar o que eu queria dizer, parecendo estar grossa e paralisada. Uma sensação estranha e um calafrio golpearam o meu coração, passaram por minha cabeça e desceram pelo lado direito de meu corpo. Fiquei inconsciente por um tempo, mas fui despertada pela voz de uma oração fervorosa. Procurei movimentar meu braço e minha perna esquerda, mas eles estavam completamente inúteis. — Ibid.

Ao perceber que este fora o terceiro choque de paralisia que havia vivenciado, Ellen White perdeu por algum tempo a esperança de recuperação; mas em resposta às contínuas e sinceras orações dos irmãos, suas forças foram parcialmente restauradas e ela pôde continuar a jornada para casa. Enquanto sofria intensamente com os efeitos desse derrame, começou a esboçar as cenas do grande conflito, conforme lhe foram reveladas. Sobre isso, ela escreveu:

A princípio, eu conseguia escrever só uma página por dia e, então, precisava descansar durante três dias; mas, ao prosseguir, minhas forças aumentavam. O entorpecimento na cabeça não parecia anuviar a mente e, antes do término do trabalho [“Spiritual Gifts”, Volume I] o efeito do ataque tinha desaparecido completamente. — Ibid., p. 163.

Durante a finalização do manuscrito, em junho de 1858, Ellen White recebeu luz sobre o acontecimento na casa do irmão Palmer, e sobre isso ela diz:

Foi-me mostrado em visão que no ataque inesperado em Jackson, Satanás queria tirar a minha vida, a fim de impedir a obra que eu iria escrever; mas anjos de Deus foram enviados em meu favor. — Ibid.

Em setembro do mesmo ano, foi anunciado de que “Spiritual Gifts—The Great Controversy Between Christ and His Angels and Satan and His Angels” estava pronto para distribuição. Com 219 páginas, os pontos altos da história do grande conflito foram tocados apenas superficialmente. Essa primeira obra, “Spiritual Gifts”, volume I, está disponível para todos, formando a terceira seção do livro intitulado “Primeiros Escritos”.

Dado por Revelação

A primeira frase dessa pequena obra declara: “O Senhor me mostrou que Satanás foi outrora um honrado anjo no Céu.” Em média, as palavras “eu vi” ou equivalentes aparecem nessa pequena obra mais de uma vez para cada página do livro. Fica claro para o leitor que, às vezes, as cenas passavam diante dela em grandes visões panorâmicas. (Ver “Primeiros Escritos”, página 289.) Em outras ocasiões, certos eventos e seu significado eram apresentados de forma simbólica. (Ver “Primeiros Escritos”, p. 211, 212.)

Em breves declarações gerais, mas concisas, períodos importantes da história foram resumidos, revelando o pano de fundo das forças invisíveis do bem e do mal. (Ver “Primeiros Escritos”, p. 222-226.)

Grandes visões panorâmicas foram dadas à Ellen White nos anos seguintes, apresentando com mais detalhes várias fases do conflito. Em 1864, foram publicados os volumes III e IV de “Spiritual Gifts”, lidando de forma mais abrangente com a queda de Lúcifer, a criação, a queda do homem, a vida dos patriarcas e a experiência de Israel. Esses volumes traziam o subtítulo: “Fatos importantes da fé em conexão com a história de homens santos do passado”.

“The Spirit of Prophecy”, Volumes I-III

Os anos se passaram, o número de adventistas aumentou rapidamente e havia necessidade de mais livros. Os irmãos pediram a republicação dos pequenos livros, “Spiritual Gifts”, que eles aprenderam a amar, mas Ellen White sentiu que não poderia consentir com isso. Desde a sua publicação, ela tinha sido favorecida com revelações que foram repetidas com maiores detalhes. Então, pediu por tempo e pela oportunidade de apresentar o assunto de forma mais completa, antes de uma nova publicação. Planos foram definidos para uma série de quatro volumes, com cerca de 400 páginas cada, contendo um relato mais completo do grande conflito, do início ao fim.

O trabalho nesta nova série avançou muito mais lentamente do que o previsto. O Volume I, publicado em 1870, contava a história do grande conflito desde a queda de Lúcifer e a criação até a época de Salomão. Os volumes II e III (publicados em 1877 e 1878) falaram sobre a vida e obra de Cristo e os apóstolos. Alguns capítulos destinados ao volume IV foram escritos, mas foi somente no outono de 1882, um ano após a morte de Tiago White, que o trabalho de preparar esse volume para a impressão recebeu maior atenção.

Volume IV, “O Grande Conflito”

O plano de Ellen White era retomar a história dos apóstolos de onde havia parado, no final do volume III, mas ela foi instruída em visões noturnas a adotar a estrutura hoje presente em “O Grande Conflito”. Foi-lhe revelado que deveria apresentar um panorama do conflito entre Cristo e Satanás, conforme decorrido nos primeiros séculos da Era Cristã e na Reforma Protestante do século dezesseis, de modo a preparar a mente do leitor para entender claramente o conflito existente em nossos dias. Hoje, vemos que a instrução divina a respeito da estrutura do livro o tornou de inestimável valor para o público em geral. No entanto, na época de sua escrita, Ellen White o considerava primordialmente como uma mensagem para a igreja, como todos os seus escritos anteriores. Por isso, abordou alguns assuntos e utilizou muitas frases e expressões especialmente adaptadas aos adventistas do sétimo dia.

Nesse contexto, os passos na preparação desse livro podem ser de interesse. Primeiro, os artigos que Ellen White já havia escrito, cobrindo os eventos desde o final da história no volume III até o fim do conflito, foram reunidos, e aqueles relacionados aos atos dos apóstolos foram deixados de lado. Então, os artigos escritos sobre a destruição de Jerusalém e a apostasia da igreja cristã foram trazidos e lidos por Ellen White, com o auxílio de Marian Davis, sua assistente literária. W. C. White, muitas vezes, esteve presente quando os primeiros esboços dos capítulos desse livro estavam sendo lidos. Ele afirma que a leitura era muitas vezes acompanhada de discussão sobre a força da descrição, a extensão dos capítulos etc.

Ellen White então escreveu partes da história que não havia apresentado anteriormente. Ao meditar em oração, surgiam claramente em sua mente as visões dadas anos antes. Então, à medida que ela se esforçava para aperfeiçoar a narrativa, preenchendo lacunas, o Senhor lhe dava visões noturnas, novas visões ou uma renovação de visões anteriores, o que resultou na reescrita de muitas cenas já descritas, agora com maiores detalhes.

Enquanto escrevia “O Grande Conflito”, algumas cenas foram apresentadas a Ellen White repetidas vezes. A visão da libertação do povo de Deus, conforme apresentada no Capítulo XL (edições de 1888 a 1911) repetiu-se três vezes. E em duas ocasiões – uma em sua casa em Healdsburg e outra no Sanatório Santa Helena – membros de sua família que dormiam em quartos próximos foram acordados pelo seu clamor, em tom claro e musical: “Eles vêm! Eles vêm!” (Ver “O Grande Conflito”, p. 636.)

Se Ellen White tivesse escrito mais de um manuscrito sobre o mesmo assunto, ela pedia à Srta. Davis para estudá-los, eliminar as repetições e reorganizar o assunto de forma a tornar a apresentação mais clara e impactante. Quando preparava um capítulo dessa maneira, ela o lia para Ellen White, que muitas vezes acrescentava algo ao que havia escrito anteriormente. Então o capítulo era recopiado, mas antes de ir para a gráfica, o material recebia a leitura final e a aprovação de Ellen White.

Normalmente, Ellen White escrevia de forma abrangente sobre o assunto a ser apresentado, e ocasionalmente havia uma diferença de opinião entre ela e os editores quanto à quantidade de informações fornecidas. Ela ficava mais feliz quando o assunto era apresentado de forma bem completa, mas os editores preferiam quando o assunto era condensado ou abreviado para que os livros não ficassem muito grandes. Ela às vezes consentia com isso. Mas havia ocasiões em que, depois de capítulos importantes serem preparados da forma mais concisa possível e enviados para a gráfica, uma nova apresentação do assunto era dada a Ellen White, e ela então escrevia partes adicionais e insistia na sua incorporação.

Ellen White não era uma mera escritora, de forma mecânica. As profundas impressões muitas vezes causadas no leitor de seus escritos devem-se em parte à sua própria intensidade de espírito enquanto escrevia. Às vezes, em correspondências, ela mencionava a profundidade de seus sentimentos ao escrever as mensagens solenes do céu para um mundo que perece. Assim, em 19 de fevereiro de 1884, ao se aproximar do fim da obra “O Grande Conflito”, ela escreveu em uma carta ao Pastor Urias Smith:

Escrevo de quinze a vinte páginas por dia. Agora são onze horas e escrevi catorze páginas de manuscritos para o Volume IV. […] Enquanto escrevo meu livro, sinto-me intensamente comovida. Quero divulgá-lo o mais rápido possível, pois nosso povo precisa muito dele. Devo terminá-lo no próximo mês, se o Senhor me der saúde, como me tem dado. Não tenho conseguido dormir à noite, por pensar nas coisas importantes que acontecerão. Três horas, às vezes cinco, é o máximo que consigo dormir. Minha mente está tão profundamente agitada que não consigo descansar. Escreva, escreva, escreva. Sinto que devo, e não demorar. Grandes coisas estão diante de nós e queremos chamar as pessoas de sua indiferença para um estado de preparação. Assuntos eternos aglomeram-se em minha visão dia e noite. As coisas temporais desaparecem da minha vista. – Carta 11, 1884

Primeira Edição do Colportor

No outono de 1884, o livro estava pronto para distribuição. O preço foi fixado em $1, harmonizando-se assim com os três primeiros livros da série. Logo se descobriu que poderia ser vendido para aqueles que não eram de nossa fé. Então os editores pegaram as chapas de impressão e imprimiram uma edição ilustrada, a ser vendida por $1,50 por assinatura. Durante os primeiros quatro anos após sua publicação, dez edições desse livro, totalizando nada menos que 50.000 exemplares, foram impressas e vendidas.

De 1885 a 1887, Ellen White visitou a Europa. Enquanto estava lá, seu contato com o povo europeu e suas visitas a lugares históricos lhe trouxeram à mente muitas cenas apresentadas em visão durante os anos anteriores, algumas delas duas ou três vezes, e outras cenas muitas vezes. E quando planos foram discutidos para a publicação de “O Grande Conflito” nas principais línguas europeias, ela decidiu fazer acréscimos ao livro. Foi, assim, capaz de escrever de forma mais gráfica e completa sobre alguns eventos importantes, ao preparar o manuscrito para tradução.

O que Ellen White escreveu são descrições feitas de representações que recebeu, muitas vezes na forma de cenas ou panoramas, com relação às ações de homens e a influência delas sobre a obra de Deus para a salvação da humanidade, juntamente com visões do passado, presente e futuro em sua relação com essa obra. A seguir, ela fala sobre a fonte das informações apresentadas sobre o grande conflito e a comissão de escrevê-la:

Mediante a iluminação do Espírito Santo, as cenas do prolongado conflito entre o bem e o mal foram patenteadas à autora destas páginas. De quando em quando me foi permitido contemplar a operação, nas diversas épocas, do grande conflito entre Cristo, o Príncipe da vida, o Autor de nossa salvação, e Satanás, o príncipe do mal, o autor do pecado, o primeiro transgressor da santa lei de Deus. […] À medida que o Espírito de Deus me ia revelando à mente as grandes verdades de Sua Palavra, e as cenas do passado e do futuro, era-me ordenado tornar conhecido a outros o que assim fora revelado — delineando a história do conflito nas eras passadas, e especialmente apresentando-a de tal maneira a lançar luz sobre a luta do futuro, em rápida aproximação. — O Grande Conflito, Introdução, p. 12, 13.

O Lugar da História

Para que o leitor possa compreender os princípios do conflito entre o bem e o mal e entender claramente a “a luta do futuro, em rápida aproximação”, certas partes de “O Grande Conflito” são sobretudo de natureza histórica. Contudo, Ellen White não
escreveu como historiadora. Além disso, em todos os seus escritos, os detalhes da história sempre estiveram subordinados ao grande tema do grande conflito.

Isso é verdade não apenas quanto à edição original de 219 páginas, publicada em 1858, mas também para o mesmo tema à medida que foi amplamente expandido nos livros posteriores. Mesmo nos trechos em que fatos da Bíblia ou da história secular são introduzidos, há sempre um pano de fundo característico do invisível, forças conflitantes entre o bem e o mal, como nenhum outro escritor jamais fez. Sua visão quanto ao papel da história, conforme exemplificado em seus próprios escritos, é expressa nas seguintes palavras:

Nos anais da história humana, o desenvolvimento das nações, o nascimento e queda dos impérios, aparecem como que dependendo da vontade e proeza do homem; a configuração dos acontecimentos parece determinada em grande medida pelo seu poder, ambição ou capricho. Mas na Palavra de Deus a cortina é afastada, e podemos ver acima, para trás e pelos lados as partidas e contrapartidas do interesse, poder e paixões humanos — os agentes do Todo-misericordioso — executando paciente e silenciosamente os conselhos de Sua própria vontade. — Profetas e Reis, p. 253.

Devemos ver na História o cumprimento da profecia, estudar as operações da Providência nos grandes movimentos reformatórios, e entender o progresso dos acontecimentos ao ver as nações mobilizando-se para o final combate do grande conflito. — A Ciência do Bom Viver, p. 379.

Tendo recebido por revelação as grandes cenas do grande conflito, do início ao fim, era natural que Ellen White fosse levada a um interesse profundo no estudo de conteúdos históricos, cobrindo as eras passadas que lhes foram apresentadas em visão.

Quando W. C. White era apenas uma criança, ele ouvia Ellen White ler a “História da Reforma”, de D’Aubigné, para seu pai. Ela lia para ele nas tardes de sábado e às vezes à noite. Ela também lia outras histórias da Reforma. Essa leitura ajudou-a a localizar e identificar muitos dos eventos apresentados a ela em visão.

Juntamente com a escrita dos eventos da história antiga e moderna, e especialmente da história da Reforma Protestante do século dezesseis, ela às vezes fez uso de declarações históricas para ajudar a esclarecer ao leitor as coisas que estava tentando apresentar. Além disso, ao corroborar o que lhe havia sido revelado com evidências históricas indiscutíveis, ela ganharia a confiança do leitor geral nas verdades apresentadas.

Edições de 1888 e 1911

Em seu ministério público, Ellen White sempre demonstrou habilidade para selecionar do depósito da verdade materiais bem adaptados às necessidades da congregação diante dela. Ela também reconhecia que, na escolha do material para publicação em seus livros, deveria mostrar bom senso ao selecionar o que melhor se adaptava às necessidades dos leitores. Portanto, quando a nova edição americana de “O Grande Conflito”, ampliada e preparada enquanto estava na Europa, foi lançada em 1888, destinada à circulação geral, foram omitidas várias páginas instrutivas para os adventistas, mas não apropriadas para leitores não adventistas. Um exemplo disso pode ser visto no capítulo intitulado “Os Ardis de Satanás” (páginas 518-530 na edição de 1911). Partes desse capítulo, conforme presentes na edição anterior, foram omitidas no livro revisado e ampliado, com publicação inicial em 1888. Mais recentemente, as partes omitidas foram reimpressas em outro local para nossos obreiros (ver “Testemunhos para Ministros”, p. 472-475).

Em 1911, devido às chapas eletrotípicas do livro estarem muito gastas, foi necessário diagramar novamente “O Grande Conflito”. Quando isso foi feito, ele foi reilustrado, as referências a citações históricas foram inseridas e, em alguns casos, elas foram substituídas por outras mais claras, com a expressa aprovação do autor. Em 25 de julho de 1911, logo após receber cópias dessa nova edição do livro, Ellen White escreveu sobre sua satisfação com relação a ela:

Vejo essa nova edição com grande satisfação. Prezo mais o livro “O Grande Conflito” do que prata ou ouro, e desejo grandemente que seja apresentado ao povo. Enquanto escrevia o manuscrito de “O Grande Conflito”, eu me sentia muitas vezes consciente da presença dos anjos de Deus. E muitas vezes as cenas das quais estava escrevendo me eram novamente apresentadas em visões da noite, de modo que se achavam frescas e vívidas na minha mente. — Carta 56, 1911.

“Patriarcas e Profetas”

Depois que as cenas finais do grande conflito foram apresentadas de maneira mais completa, para uso tanto dos adventistas do sétimo dia quanto do mundo, Ellen White se voltou para o início do conflito, e a história das eras antigas foi reescrita e publicada em “Patriarcas e Profetas”, tornando-se um livro complementar a “O Grande Conflito”. Este volume foi publicado em 1890.

A Escrita de “O Desejado de Todas as Nações”

Ao longo dos anos, sempre foi o desejo de Ellen White abordar a vida de Cristo de forma bem completa – Seu ministério, ensinamentos e sacrifício por nós. O que ela havia escrito sobre essa fase do grande conflito na década de 1870, publicado nos volumes II e III de “Spirit of Prophecy” e em vários folhetos, pareceu-lhe depois ser insuficiente. Portanto, quando o livro “Patriarcas e Profetas” foi concluído, seus pensamentos se voltaram para a preparação de um tratado mais abrangente sobre a vida de Cristo. Para tanto, ela carregou um grande fardo, e em suas cartas encontramos muitas referências à sua esperança de poder em breve colocar o livro em andamento.

Quando ela foi para a Austrália no outono de 1891, tinha a expectativa de que a tão esperada obra sobre a vida de Cristo pudesse ser preparada em breve. De 1892 a 1898, ela passou muito tempo escrevendo capítulos para esse livro.

Um vislumbre da intensidade com que ela trabalhou na preparação de “O Desejado de Todas as Nações” pode ser visto em uma carta escrita em 1892 ao Pastor O. A. Olsen, então presidente da Associação Geral:

Ando com tremor diante de Deus. Não sei como falar ou traçar com a pena o grande assunto do sacrifício expiatório. Não sei como apresentar os assuntos na força viva em que estão diante de mim. Tremo de medo de que venha a amesquinhar o grande plano da salvação por palavras vulgares. Inclino minha alma em respeitoso temor e reverência diante de Deus, e digo: Quem é suficiente para estas coisas? — Carta 40, 1892.

Uma carta escrita dois anos depois nos dá um vislumbre da vida ocupada de Ellen White, e explica a demora em preparar uma cópia para o próximo livro. Ela diz:

Agora, depois de estar neste país há quase três anos, ainda há muito a ser feito antes que o livro esteja pronto para publicação. Muitos ramos da obra têm exigido a minha atenção. Sinto-me muito sobrecarregada com o trabalho de escrever os testemunhos, cuidar dos pobres e viajar com meu próprio transporte por oito, onze e até treze milhas para visitar as igrejas. — Carta 89, 1894.

Sobrecarregada com esses fardos e preocupações, muitas vezes escrevia quando os outros estavam dormindo. “Meu tempo para escrever geralmente começa às três horas da manhã”, diz ela, “quando todos na casa estão dormindo. Muitas vezes sou acordado ao meio-dia e meia, uma ou duas horas.” — Carta 114, 1896.

O Ministério do Sofrimento

É bem sabido que algumas das obras-primas da literatura, da poesia e dos hinos evangélicos foram moldadas na bigorna da dor, e o mesmo aconteceu com parte dos escritos de Ellen White sobre a vida e o ministério de Jesus. Algumas das passagens mais admiráveis em “O Desejado de Todas as Nações” vieram de sua pena quando estava confinada não apenas em seu quarto, mas na maior parte do tempo em sua cama ou em sua cadeira de escrever equipada com um descanso ajustável para o braço dolorido. Logo depois de chegar à Austrália, ela começou a sofrer de reumatismo inflamatório e, por onze meses, sofreu dores constantes. Sobre essa experiência, ela escreveu:

Tenho passado por grande prova, em forte sofrimento e desamparo, mas através de tudo tenho alcançado uma preciosa experiência que me é mais valiosa do que ouro.

Quando finalmente ficou melhor e pôde sair do quarto, Ellen White foi chamada a se envolver mais plenamente na obra que avançava rapidamente na Austrália, e os muitos pedidos por conselho e assistência, além escrever várias correspondências, dificultaram muito o progresso da obra “O Desejado de Todas as Nações”. Em uma carta escrita em 23 de outubro de 1895, ela diz:

Estou quase decidida a […] dedicar todo o meu tempo a escrever os livros que devem ser preparados sem mais demora. Gostaria de escrever sobre a vida de Cristo, sobre a Temperança Cristã [A Ciência do Bom Viver] e preparar o Testemunho n.º 34 [volume VI], pois é muito necessário. […] Sabeis que todo o meu tema, tanto no púlpito como em particular, pela voz e pela pena, é a vida de Cristo. – Carta 41, 1895.

Alguns ficaram maravilhados com a extraordinária beleza da linguagem em “O Desejado de Todas as Nações”. A última frase da carta anterior, ao afirmar que esse era seu tema favorito, sugere o motivo da bela fraseologia do livro.

Ao preparar “O Desejado de Todas as Nações”, bem como na preparação de outras publicações posteriores, Ellen White não escreveu o livro de forma linear, capítulo por capítulo, na ordem em que eles aparecem na forma impressa. Isso não foi necessário, pois durante os trinta e cinco anos anteriores, ela havia escrito centenas de páginas sobre o tema, muitas das quais já haviam sido publicadas. Com essa base de materiais, ela instruiu aqueles que foram contratados como ajudantes a reunirem de seus livros, artigos, cartas e manuscritos publicados o que pudessem encontrar sobre o assunto. Com isso em mãos, ela escreveu muitos artigos adicionais à medida que as experiências de Cristo se abriam novamente para ela. Quando essas passagens recém-escritas, junto com o que havia escrito nos anos anteriores, foram agrupadas em sua ordem natural, ela estudou novamente a história em seus eventos conectados, e às vezes acrescentava novos eventos.

Seus escritos sobre a vida e os ensinamentos do nosso Salvador foram tão volumosos que não caberiam em um só livro. Portanto, parte do material que não pôde ser incluído em “O Desejado de Todas as Nações” foi usado para “O Maior Discurso de Cristo”, “Parábolas de Jesus” e uma parte de “A Ciência do Bom Viver”.

Trabalho dos Assistentes Literários de Ellen White

A declaração de que, no preparo de seus escritos para publicação, Ellen White contou com a ajuda de um ou mais obreiros eficientes na coleta e preparação do material, não significa que os livros ou artigos eram de alguma forma produtos da escrita deles. Não, de forma alguma.

Os assuntos revelados a Ellen White em visão geralmente não eram uma narração palavra por palavra dos eventos e suas lições. Geralmente, eram cenas rápidas ou grandes cenas panorâmicas mostrando as várias experiências dos homens, às vezes no passado, às vezes no futuro. Essas visões eram, em muitos casos, acompanhadas de instruções faladas. Às vezes, as atitudes e conversas de homens em grupos, ou de igrejas, conferências e multidões lhe eram reveladas, com uma clara percepção de seus propósitos, objetivos e motivações. Muitas vezes, ela recebia instrução divina quanto ao significado e uso a ser feito do que era assim revelado.

Quando chegou a hora de escrever tais revelações, Ellen White se esforçou para traçar em linguagem humana o que havia sido aberto diante dela em visões celestiais. Nenhuma força sobrenatural assumiu o controle mecânico de sua mão e guiou as palavras que ela escreveu, e muito raramente as palavras exatas que ela deveria usar foram ditadas pelo mensageiro celestial ao seu lado. Ellen White fala o seguinte sobre sua própria escolha da linguagem ao escrever suas visões:

Se bem que eu seja tão dependente do Espírito do Senhor ao escrever minhas visões como ao recebê-las, todavia as palavras que emprego ao descrever o que vi são minhas mesmo, a menos que sejam as que me foram ditas por um anjo, as quais eu sempre ponho entre aspas. — Review and Herald, 8 de outubro de 1867.

Sempre foi uma fonte de pesar para Ellen White que tenha passado tão pouco tempo na escola e, portanto, seu conhecimento das regras técnicas de redação fosse limitado. W. C. White diz que se lembra claramente dos primeiros anos de trabalho de sua mãe em Battle Creek, quando Tiago White, ao voltar para casa do escritório da Review and Herald, seria solicitado a ouvir o que Ellen White havia escrito e ajudá-la a prepará-lo de forma técnica para a publicação. Então, enquanto ela lia para ele, ele comentava o assunto, regozijando-se com o poder da mensagem, e apontava as falhas na redação e erros gramaticais.

Ela fez uma declaração em 1906 falando sobre tais experiências:

Enquanto meu marido viveu, desempenhou o papel de ajudador e conselheiro no envio das mensagens que me eram dadas. Viajávamos longamente. Por vezes eram-me concedidos esclarecimentos durante a noite, outras, de dia, perante grandes congregações. As instruções recebidas em visão eram fielmente escritas por mim, segundo eu tinha tempo e forças para a obra. Posteriormente examinávamos juntos o assunto, meu marido corrigia os erros gramaticais e eliminava as repetições desnecessárias. Então elas eram cuidadosamente copiadas para a pessoa a quem se dirigiam, ou para o prelo. — Ellen G. White, em The Writing and Sending Out of the Testimonies to the Church, p. 4.

Com o passar do tempo, a confecção de cópias de numerosos testemunhos individuais tornou necessária a contratação de um copista e, como seu marido não podia dedicar tempo à correção técnica de todos os seus escritos, o ônus de fazer correções gramaticais muitas vezes recaía sobre o copista. Várias pessoas foram empregadas como assistentes literários nos anos que se seguiram. Copiavam os testemunhos, preparavam os artigos para os periódicos e os capítulos de livros. Somente cristãos conscienciosos foram escolhidos como assistentes literários e, em seu trabalho, aderiram estritamente às instruções que lhes foram dadas a respeito de seu papel nessa tarefa.

Os secretários sabiam bem que apenas os pensamentos de Ellen White deveriam ser usados, e até mesmo as próprias palavras dela, tanto quanto gramaticalmente consistentes, para expressar esses pensamentos. Em nenhum caso foi permitido ao copista ou editor introduzir pensamentos não encontrados nos manuscritos de Ellen White. Nos casos em que parágrafos e sentenças perdiam parte
de seu poder devido à má organização, esperava-se que os secretários fizessem as transposições. Eles também eram instruídos a deixar de fora aquilo que era claramente uma repetição desnecessária. Ellen White dava cuidadosa atenção a esses rearranjos e omissões.

Com relação aos manuscritos de sua pena, seus assistentes dizem que variavam bastante em qualidade literária. Normalmente, os manuscritos originais escritos quando ela não estava sobrecarregada com viagens e pregações, ou preocupada com as condições da igreja, eram belos, vigorosos e eloquentes, com pouquíssimas imperfeições gramaticais. Mas não poucos dos manuscritos originais foram escritos às pressas, quando ela estava perplexa com os cuidados e encargos, trabalhando sob o sentimento de que o manuscrito deveria ser concluído rapidamente. Nessas ocasiões, ela prestava pouca atenção às regras de pontuação, letras maiúsculas e ortografia. Havia muita repetição e construção gramatical defeituosa. Sua expectativa era que essas questões fossem corrigidas pelo copista.

Referindo-se ao trabalho de seus ajudantes, Ellen White, em 1900, fez a seguinte declaração interessante sobre o papel desempenhado pela Srta. Marian Davis, que a ajudou por mais de vinte anos:

Os livros não são produções de Marian, mas minhas próprias, reunidas de todos os meus escritos. Marian tem um vasto campo do qual extrair, e sua habilidade de organizar os materiais é de grande valor para mim. Evita que eu me debruce sobre um grande volume de materiais, algo que não tenho tempo para fazer. — Carta 61a, 1900.

Outra de suas secretárias, posteriormente, escreveu o seguinte:

Os editores, de maneira alguma, mudam a expressão da irmã White caso esteja gramaticalmente correta e for evidente que seja uma expressão clara do seu pensamento. A irmã White, como instrumento humano, tem um estilo próprio, distinto, que é preservado em todos os seus livros e artigos, o que marca os materiais com sua individualidade. Muitas vezes, o manuscrito não precisava de nenhuma edição, às vezes, apenas de uma edição leve e, novamente, uma grande quantidade de trabalho literário; mas o artigo ou capítulo, com o que quer que tenha sido feito nele, é devolvido a ela pelo editor.” — Fannie Bolton, em A Confession Concerning the ‘Testimony of Jesus Christ’, escrito em 1901.

Para algumas pessoas, talvez a dúvida possa persistir se os escritos, ao passarem pelas mãos dos assistentes literários, não tenham sido alterados de alguma forma no pensamento, ou recebido acréscimos aos pensamentos da autora. Essa pergunta é claramente respondida por declarações escritas de vários assistentes de Ellen White, encontradas em nosso acervo.

D. E. Robinson, que foi assistente literário por muitos anos, disse em 1933:

Em sã consciência, posso testemunhar que nunca fui presunçoso o suficiente para me aventurar a acrescentar quaisquer ideias minhas ou fazer outra coisa senão seguir com o mais escrupuloso cuidado os pensamentos da autora.

Em 1900, W. C. White testemunhou:

Nenhum dos auxiliares da mamãe está autorizado a acrescentar pensamentos próprios aos manuscritos.

No mesmo ano, a senhorita Marian Davis escreveu:

Partindo do meu próprio conhecimento da obra, bem como das declarações da própria irmã White, tenho fortes motivos para não acreditar que tal coisa [a adição de pensamentos pelo copista] tenha sido feita.

A Srta. Fannie Bolton, que foi uma das auxiliares por vários anos, testemunhou em 1894:

Posso dizer que, na medida em que são consistentes com a gramática e a retórica, suas expressões permanecem intactas.

Essas afirmações claras estão em harmonia com a declaração de Ellen White escrita em 1906. Depois de falar sobre a ajuda que recebeu do marido e outros, conforme citado anteriormente, ela disse:

À medida que o trabalho aumentava, outras pessoas passaram a me auxiliar na preparação de materiais para publicação. Após a morte de meu marido, fiéis ajudantes juntaram-se a mim, os quais trabalharam incansavelmente na obra de copiar os testemunhos e preparar artigos para publicação. Mas os relatos que circulam, de que qualquer um de meus ajudantes tem permissão para acrescentar coisas ou mudar o significado das mensagens que escrevo, não são verdadeiros. — The Writing and Sending Out of the Testimonies to the Church, p. 4.

Uma Declaração Sobre Livros Posteriores

Como os livros posteriores foram preparados? Poderíamos responder a essa pergunta de forma pontual: Ellen White escreveu extensivamente sobre muitos tópicos. Para complementar o que foi escrito de forma específica para um determinado livro, o assistente literário reunia materiais de vários escritos – artigos publicados, manuscritos, cartas e relatórios de palestras – outros pensamentos preciosos que estivessem relacionados. Trabalhando juntos, Ellen White e seus assistentes planejavam o rascunho dos livros e prepararam o assunto capítulo por capítulo. Então, em sua forma final, os manuscritos eram lidos novamente e recebiam a aprovação final de Ellen White. Em seguida, eram enviados para a gráfica.

A História do Conflito Concluída

Embora as características marcantes do grande conflito tenham sido abordadas em “Patriarcas e Profetas”, “O Desejado de Todas as Nações” e “O Grande Conflito”, ainda restavam duas grandes lacunas no retrato do conflito entre o bem e o mal desde a queda até a restauração final. Um desses períodos abrangeria desde a morte de Davi até o nascimento de Cristo, e outro, o primeiro século da igreja cristã. Quando tinha uma folga de outros compromissos, Ellen White e seus assistentes literários empreendiam com entusiasmo a tarefa de reunir e preparar material para mais dois volumes complementares à série. Como no caso de “O Desejado de Todas as Nações”, centenas de páginas já impressas cobrindo parte desses períodos poderiam ser encontradas em livros e artigos de periódicos. Além disso, muitos capítulos ou partes de capítulos poderiam ser extraídos do acervo de manuscritos. Então, muitos novos materiais eram escritos por Ellen White especificamente para a obra em preparação.

A limitação de espaço nos permite apenas uma breve declaração de Ellen White quanto à preparação desses volumes. Uma carta escrita em 16 de outubro de 1911 nos dá um vislumbre do trabalho em andamento na ocasião:

Meu trabalho no livro “Os Atos dos Apóstolos” está finalizado. Em algumas semanas você terá uma cópia. Tive excelente ajuda na preparação dessa obra para a gráfica. Há outros escritos que desejo apresentar ao nosso povo, para que falem quando minha voz se calar. O livro sobre a história do Antigo Testamento [“Profetas e Reis”], que esperamos lançar em seguida, exigirá grande esforço. Sou grata pela ajuda que o Senhor está me dando no trabalho de obreiros fiéis e treinados, e porque eles estão prontos para levar avante essa obra o mais rápido possível.” — Carta 88, 1911.

Alguns meses após a escrita da declaração acima, “Os Atos dos Apóstolos” saiu da prensa e recebeu calorosas boas-vindas. Logo, grandes esforços passaram a ser empreendidos na preparação de “Profetas e Reis”, mas devido à pressão de outras tarefas importantes, ele avançava lentamente. A autora sofreu um acidente enquanto os últimos capítulos estavam sendo preparados. Então, como Ellen White estava impossibilitada de continuar sua cuidadosa análise e aprovação dos trabalhos feitos sobre o manuscrito, a obra parou. Citamos algumas palavras extraídas de “Life Sketches” sobre a conclusão do livro:

À época do acidente, em fevereiro de 1915, todos os capítulos haviam sido finalizados, menos os dois últimos, […]. Esses capítulos finais haviam sido suficientemente esboçados ao ponto de que pudessem ser concluídos, com a inclusão de um material adicional do seu acervo de manuscritos. — Life Sketches, p. 456.

Instrução dada por Deus

Em seus últimos anos, Ellen White frequentemente gostava de reler os livros que havia escrito sobre a história do grande conflito. Ao rever sua experiência na publicação desses livros, ela coloca a origem da informação e instrução muito além de sua própria mente. Em 1902, falando sobre a fonte de luz ali apresentada, ela disse:

A irmã White não é a originadora desses livros. Eles contêm a instrução que Deus lhe tem dado ao longo de sua vida de trabalho. Contêm a preciosa e reconfortante luz que Deus graciosamente deu à Sua serva para ser dada ao mundo. De suas páginas, essa luz deve brilhar no coração de homens e mulheres, conduzindo-os ao Salvador. — The Publishing Ministry, p. 354.

Quem poderá questionar a alegação da humilde mensageira de que ela estava apresentando luz e instrução recebidas do céu? Quem poderá, de forma consistente, contradizer a fonte divina das informações e conselhos dados nesses volumes, ao apresentarem a história do conflito de maneira a “a lançar luz sobre a luta do futuro, em rápida aproximação”? Não devemos nós, com profunda gratidão, dar graças a Deus, que através do método de comunicação para com Seu povo escolhido por Ele, iluminou seu caminho com preciosa luz do céu?

Os “Testemunhos para a Igreja”

No artigo de abertura, apresentamos o trabalho de Ellen G. White ao escrever e publicar a importante instrução encontrada na “Série Conflito dos Séculos”. Nesta continuação da história de seus escritos, abordaremos seus esforços para transmitir a indivíduos e à igreja mensagens que foram dadas para aconselhar, guiar ou reprovar, bem como encorajar o peregrino no caminho cristão.

Muito cedo em seu ministério, Ellen White recebeu mensagens de repreensão a vários tipos de fanatismo e erro que ameaçavam o bem-estar dos crentes que, desanimados e distraídos, procuravam encontrar luz em meio às trevas. Também recebeu visões que ora confirmavam as conclusões alcançadas pelos primeiros crentes através do estudo profundo das Escrituras, ora apontavam conclusões errôneas e falsas interpretações da Bíblia. Também foram dadas orientações quanto ao estabelecimento e ampliação da obra, possibilitando assim o lançamento de bases sólidas para o futuro.

À medida que a causa se ampliava e progredia, e o campo com observadores do sábado se expandia, tornava-se cada vez mais difícil alcançar os membros dispersos do “pequeno rebanho” com as mensagens dadas para a igreja remanescente. Testemunhos orais foram dados por Ellen White a pequenos grupos de crentes em suas viagens aqui e ali. Muitos testemunhos foram escritos e enviados aos líderes ou pessoas a quem foram originalmente endereçados.

Primeiro “Testemunho” em Forma de Livreto

A mudança do escritório da Review e da gráfica de Rochester, Nova Iorque, para Battle Creek, Michigan, no outono de 1855, marcou o início de uma importante obra dos adventistas observadores do sábado. Em novembro, vários líderes reuniram-se em Battle Creek para considerar o avanço da obra. Eles encontraram muitos aspectos encorajadores nos quais se alegrar, mas estavam profundamente preocupados com a evidente perda de zelo espiritual entre os crentes.

O relatório da conferência declara que a segunda-feira, 19 de novembro, foi gasta

Em oração, comentários e confissões relativas ao evidente afastamento do povo remanescente em relação ao espírito da mensagem, e à postura humilde e direta daqueles que primeiro a abraçaram. Fortes desejos foram expressos e fervorosas orações foram oferecidas ao Céu pelo retorno do espírito de consagração, sacrifício e santidade outrora desfrutado pelo remanescente.” – Review and Herald, 4 de dezembro de 1855.

Nesse momento, enquanto os líderes estavam preocupados com o corpo da igreja e buscavam ajuda do céu para um reavivamento, o Senhor decidiu respondê-los de maneira muito significativa. No encerramento da reunião, Ellen White recebeu uma visão, sobre a qual ela escreveu mais tarde:

 

Fac-símile do primeiro “Testemunho” em forma de livreto
(Testemunhos Para a Igreja, nº 1)

Em 20 de Novembro de 1885, enquanto me achava em oração, o Espírito do Senhor veio súbita e poderosamente sobre mim, e fui arrebatada em visão. Vi que o Espírito do Senhor tem estado a extinguir-Se na igreja. — Testemunhos para a Igreja, vol. 1, p. 113.

Essa visão mostrou claramente algumas das razões para a triste condição da igreja, a qual havia levado os irmãos a esse período de oração. A visão foi escrita e surgiu a dúvida sobre como deveria ser disponibilizada às pessoas a quem se destinava. Seis líderes que estiveram presentes quando a visão foi dada expressaram sua convicção nos seguintes termos:

Nós, abaixo assinados, sendo testemunhas oculares quando a visão acima foi dada, consideramos altamente necessário que ela seja publicada, para o benefício da igreja, devido às importantes verdades e advertências que contém [grifo nosso].
[Assinado] José Bates
J. H. Waggoner
G. W. Amadon
M. E. Cornell
J. Hart
Urias Smith
– Testemunhos para a Igreja [n. 1, 1855], p. 8.

Na noite do sábado seguinte, esse importante testemunho foi lido aos membros da igreja de Battle Creek, e foi votado unanimemente pelos presentes que deveria ser publicado e, assim, disponibilizado a todo o corpo de crentes. O material foi colocado nos tipos e, junto com alguns outros testemunhos, foi impresso na prensa manual e encadernado como o primeiro “Testemunho”, na forma de um livreto de dezesseis páginas. Os seguintes tópicos foram abordados: “Guardador dos Irmãos”, “Tempo de Início do Sábado”, “Opositores da Verdade”, “Responsabilidade Paterna”, “Fé em Deus”, “O Grupo do Messenger”, “Preparo para Encontrar o Senhor”.

Apenas algumas centenas de cópias foram impressas e distribuídas gratuitamente. Muitas cópias foram enviadas pelo correio, e Ellen White inseriu a seguinte nota na Review:

Enviei (pós-pago) a irmãos em diferentes estados cerca de 150 exemplares de “Testemunho para a Igreja”. Ele pode ser obtido enviando uma carta endereçada a mim em Battle Creek, Michigan. Ficarei feliz em ouvir daqueles que desejam recebê-lo. Os que quiserem incentivar a circulação desse material podem fazê-lo auxiliando a sua publicação. — Review and Herald, 18 de dezembro de 1855.

Mal sabia alguém, naquela época, que esse pequeno panfleto era o primeiro de uma série de “Testemunhos para a Igreja”, e que, no decorrer de 55 anos, totalizaria quase cinco mil páginas.

Segundo “Testemunho” em Forma de Livreto

Na primavera seguinte, em conexão com a Conferência Anual realizada em Battle Creek, assuntos da mais solene importância para a igreja foram novamente revelados a Ellen White. Alguns meses depois, um segundo livreto de dezesseis páginas intitulado “Testemunho para a Igreja”, contendo o registro dessa visão memorável, foi publicado e distribuído. Na última página, esta interessante nota explicativa pode ser encontrada, assinada por dois dos líderes da igreja de Battle Creek:

Aos Santos em Países do Exterior
O testemunho anterior foi dado na presença de aproximadamente cem irmãos e irmãs reunidos na casa de oração, a quem, aparentemente, causou profunda impressão. Desde então, foi lido perante a igreja em Battle Creek, que deu seu voto unânime a favor de sua publicação para o benefício dos santos no exterior.
[Assinado]
Cyrenius Smith
J. P. Kellog
— Testemunho para a Igreja [No. 2, 1856 ed.].

O material desse livreto apareceu pela primeira vez impresso como um artigo. Posteriormente, foi dividido em três capítulos, com os títulos: “Os Dois Caminhos”, “Conformidade com o Mundo”, “Esposas de Pastores”.

Na Review, foi publicada uma nota semelhante à circulada após a distribuição do primeiro “Testemunho para a Igreja”, nove meses antes, afirmando que foi enviado gratuitamente para todos.

Dez Aparecem em Forma de Panfleto

Após esse começo modesto, foram lançados, em intervalos variados, números adicionais de “Testemunhos para a Igreja”. Entre 1855 e 1864, um total de dez foram enviados. Todos foram publicados em forma de livretos com capas de papel e, a princípio, enviados gratuitamente. Mais tarde, à medida que o tamanho aumentava, eram vendidos a dez ou quinze centavos o exemplar. Os panfletos foram numerados consecutivamente à medida que eram escritos, e esses números foram incluídos em nossa atual série de nove volumes de “Testemunhos para a Igreja”.

Os leitores da Review percebiam as notas informativas sobre cada número, à medida que saíam da gráfica, e muitos enviavam seus pedidos por livretos. Claro, nem todos aceitavam os “Testemunhos”. Alguns rejeitaram e se opuseram a eles. Mas como as mensagens foram, no geral, aceitas, importantes reformas foram introduzidas na igreja e aconteceu um grande avanço.
Nesses primeiros números de “Testemunhos para a Igreja”, apenas artigos de caráter geral eram lançados. Os assuntos tratados diziam respeito ao bem-estar de todos os crentes. Mas, além dessas mensagens gerais, Ellen White recebeu muitos testemunhos pessoais para indivíduos. Estes ela deveria entregar oralmente ou por escrito.

A Publicação de Testemunhos Pessoais

Muitos dos testemunhos pessoais que foram escritos e enviados aos seus destinatários tratavam de perigos e problemas enfrentados por outras pessoas em circunstâncias semelhantes. Logo ficou evidente que a instrução encontrada em muitos deles também seria de grande benefício para os membros da igreja em geral, e decidiu-se incluí-los nos “Testemunhos” publicados. Sobre isso, Ellen White escreveu:

Visto as advertências e instruções ministradas por meio de testemunhos a casos individuais se aplicarem com igual propriedade a muitos outros que não foram neles especialmente mencionados, pareceu-me um dever publicar esses testemunhos individuais em benefício da igreja. No Testemunho n.º 15, falando da necessidade de assim proceder, disse: “E eu não conheço maneira melhor de apresentar meus pontos de vista sobre os perigos gerais e os erros, e o dever de todos os que amam a Deus e guardam Seus mandamentos, do que pela publicação destes testemunhos. Talvez não haja meio mais direto e eficaz de tornar público o que o Senhor me tem mostrado.” — Testemunhos Para a Igreja, vol. V, p. 658, 659.

Quanto à aprovação do Senhor, ela diz:

Numa visão que tive a 12 de junho de 1868, foi-me revelado o que plenamente justificava o meu ato de publicar também testemunhos individuais. “Quando o Senhor discrimina casos particulares, especificando os seus erros, outros, que não foram mostrados em visão, frequentemente os admitem como exatos, ou aproximadamente semelhantes. Se alguém é repreendido por alguma falta especial, os irmãos e irmãs devem examinar cuidadosamente a si mesmos e indagar em que eles próprios têm faltado, e em que se têm feito culpados de idêntico pecado. — Id., p. 659.

A obra de corrigir erros e reprovar pecados não agradou ao grande inimigo das almas, e não é estranho que ele se esforçasse para impedir que a mensagem chegasse aos indivíduos que havia induzido ao pecado. Uma alusão a isso é encontrada nesse trecho de uma carta:

Os irmãos já deveriam ter esta em mãos há muito tempo, mas meus trabalhos têm sido tão intensos que não tive oportunidade de escrever a vocês. Todo lugar que visitávamos trazia-me à mente muito do que vira nos casos individuais, e eu escrevia durante as reuniões, mesmo enquanto meu marido estava pregando. A visão me fora dada cerca de dois anos atrás. O inimigo impediu-me de todas as maneiras de enviar às pessoas a luz que Deus lhes enviava por meu intermédio. — Id., Vol. I, p. 711.

É possível ter um vislumbre quanto às circunstâncias em que muitos materiais foram escritos em uma curta declaração escrita alguns meses depois:

Na terça-feira viajamos aproximadamente 52 quilômetros até Saint Charles, e ali pernoitamos na casa do irmão Griggs. Então escrevi quinze páginas de testemunho, e assisti a uma reunião. Na quarta-feira pela manhã decidimos retornar a Tuscola, caso o irmão Andrews pudesse atender ao compromisso em Alma. Ele concordou. Naquela manhã escrevi quinze páginas mais, assisti a uma reunião e falei durante uma hora. Viajamos cerca de 53 quilômetros com o casal Griggs, para encontrar o irmão Spooner, em Tuscola. Na quinta-feira pela manhã, fomos a Watrousville, a uma distância de 25 quilômetros. Escrevi dezesseis páginas e assisti a uma reunião vespertina, e dei um testemunho bem direto a alguém presente. Na manhã seguinte, redigi doze páginas antes do desjejum e voltei a Tuscola, escrevendo mais oito páginas.
— Id., Vol. II, p. 14.

Assim, muitas vezes sob circunstâncias desfavoráveis, e quando grandemente sobrecarregada com outros ramos de trabalho, Ellen White entregou fielmente as mensagens de forma oral, por correspondência pessoal e pela página impressa.

Primeiros Dez Reimpressos

“Testemunho para a Igreja”, número 10, saiu do prelo no início de 1864. Nessa época, as pequenas edições dos panfletos anteriores estavam esgotadas. Como os pedidos se tornaram urgentes, foi decidido que os números anteriores dos “Testemunhos” deveriam ser reimpressos. Na mesma época, os volumes III e IV de “Spiritual Gifts” estavam sendo preparados, e os “Testemunhos” reimpressos faziam parte do volume IV dessa série.

É interessante notar, a esse respeito, que na primeira reimpressão dos “Testemunhos” nem tudo o que constituía os dez primeiros números foi incluído. Ellen White comentou sobre o assunto e os motivos para tal em “Observações”, que se tornaram o prefácio da seção “Testemunho” de “Spiritual Gifts”, volume IV:

Durante os últimos nove anos, de 1855 a 1864, escrevi dez fascículos, intitulados Testemunhos Para a Igreja, os quais foram publicados e postos em circulação entre os adventistas do sétimo dia. Havendo-se esgotado a primeira edição da maioria desses folhetos, e havendo crescente procura dos mesmos, foi decidido reeditá-los, tais como aparecem nas páginas seguintes, omitindo assuntos locais e pessoais, e dando apenas as partes de prático e geral interesse e importância.

O motivo da conduta tomada nessa primeira reimpressão dos “Testemunhos” e da declaração escrita por Ellen White logo fica evidente. Embora ela reconhecesse que os testemunhos eram uma apresentação de mensagens do céu, destacou que alguns desses artigos, por sua própria natureza, não eram necessários para todos os membros da igreja em todos os tempos. Por isso, na reimpressão “Testemunhos”, foram selecionados apenas aqueles que pareciam ser de interesse e importância prática e geral.

Três categorias de materiais foram mencionadas como tendo sido omitidas:

Em primeiro lugar, questões de natureza local. Mesmo nove anos após a publicação dos primeiros “Testemunhos”, reconheceu-se que havia certos assuntos locais que não precisavam ser perpetuados para leitura geral.

Em segundo lugar, questões de natureza pessoal. Com o passar do tempo, Ellen White sentiu que mensagens específicas a respeito de pessoas cujas ações e influência afetavam os interesses gerais da obra apenas temporariamente, poderiam ser omitidas em edições futuras, destinadas à circulação geral.

Terceiro, o que foi repetido em outros volumes. Ellen White também sentiu que o volume de materiais incluídos nos “Testemunhos Para a Igreja” poderia ser diminuído pela supressão de assuntos incluídos em outros volumes já disponíveis.

Os primeiros dez números dos “Testemunhos” totalizaram cerca de 450 páginas. Após Ellen White ter feito uma seleção do que considerava ser “de interesse e importância prática e geral”, “omitindo assuntos locais e pessoais” e materiais já presentes em outras publicações, a série reimpressa foi reduzida para 160 páginas, ou um pouco mais de um terço do seu conteúdo original.

A seguinte pergunta poderia ser feita de forma muito apropriada. Como mensageira do Senhor, ela estava trabalhando dentro de seus direitos e prerrogativas quando omitiu, em reimpressões, uma parte do que havia sido publicado anteriormente em “Testemunho para a Igreja”?

Ao considerar esse assunto, podemos ter em mente que os escritos dos profetas bíblicos foram preservados para leitura geral, em todos os tempos. E podemos com razão concluir que os livros mencionados, mas não incluídos na Bíblia, e as mensagens dos profetas nomeados, mas que não contribuíram para o cânon das Escrituras, eram de importância imediata para as pessoas que viviam na época em que foram escritos. No entanto, sendo de caráter local, eles não eram necessários para todos as épocas, e com sensatez não foram incluídos nas Escrituras.

Parece que Ellen White exerceu discernimento ao omitir partes de um livro para circulação geral assuntos que já haviam servido ao seu propósito em lidar com situações específicas. Embora as mensagens lhe tenham sido dadas pelo Senhor, ela carregou em grande medida, sob a orientação do Espírito Santo e com o conselho dos irmãos, a responsabilidade de decidir como entregar essas mensagens a indivíduos ou à igreja no momento e local apropriados.

Reimpresso Novamente em 1871

Outros nove números dos “Testemunhos” apareceram em forma de panfleto entre os anos de 1865 e 1870. No ano de 1871, embora muitos dos números posteriores estivessem disponíveis no escritório de publicação, os números anteriores estavam novamente esgotados. Para atender à demanda crescente, os números 1-16 foram impressos e encadernados em dois livros de cerca de 500 páginas cada. A respeito dessa reimpressão, Tiago White faz a seguinte declaração, na qual explica a publicação de todos os “Testemunhos” por completo nessa nova série. Ele escreveu no Prefácio:

Por dezesseis anos, Ellen White publicou os ‘Testemunhos para a Igreja’ em uma série de panfletos, que, nesta data, totalizam vinte. Mas como as edições dos primeiros números eram pequenas e há muito se esgotaram, não podemos fornecer a série completa aos numerosos amigos que posteriormente se tornaram adventistas do sétimo dia. Sendo grande a demanda por esses ‘Testemunhos’, nós os republicamos e oferecemos neste formato. E estamos felizes em fazê-lo, na medida em que os ‘Testemunhos’, dados sob as difíceis e sempre mutáveis circunstâncias dos últimos dezesseis anos, sempre expressando o mesmo espírito elevado da piedade bíblica, contêm em si mesmos as melhores evidências de ser o que professam ser. Há neles assuntos de caráter local e pessoal, que não têm uma relação direta com o nosso tempo. Mas, a tantos quantos o desejaram, nós os fornecemos por completo [grifo nosso]. — Testimonies for the Church, Vol. I, edição de 1871.

Partes Omitidas Reinseridas

Há dois pontos nessa declaração do Pr. Tiago White que particularmente notamos. Primeiro, a evidência da integridade dos Testemunhos. Tiago White regozijou-se com o fato de os “Testemunhos” terem sido apresentados em sua totalidade, pois sempre expressavam “o mesmo espírito elevado da piedade bíblica”, embora fossem “dados sob […] difíceis e sempre mutáveis circunstâncias.” Em segundo lugar, a função secundária dos testemunhos locais e pessoais. Em resposta ao desejo de muitos, as porções dos Testemunhos nº 1-10 que haviam sido omitidas por Ellen White na primeira reimpressão foram agora reinseridas. No entanto, ao preparar a primeira reimpressão, Tiago White reconheceu, assim como sua esposa, que essas porções “locais e pessoais” não “tinham uma relação direta com nosso tempo”.

28 números disponíveis em 1870

Nos oito anos seguintes, foram publicados os números 20-28 da série “Testemunhos”. Nessa época, os “Testemunhos” atingiram sua maior circulação e eram mais conhecidos na forma de panfletos, numerados consecutivamente. O plano de agrupar vários deles em volumes encadernados continuou ao longo dos anos até que, em 1879, havia seis volumes, inclusive contendo os números 1-28 dos “Testemunhos”. Esses volumes não foram numerados e não devem ser confundidos com o nosso volume atual.

Em 1883, os editores foram novamente incapazes de fornecer coleções completas dos “Testemunhos”, seja em forma de panfleto ou volumes encadernados, e para atender à constante demanda por essa preciosa instrução para a igreja, decidiu-se republicar todos os números de 1-30. Os números 29 e 30 foram publicados nessa época. Houve certos problemas relacionados com a proposta referente à impressão dessa terceira edição. No entanto, achou-se por bem que deveriam ser devidamente considerados. Vários dos “Testemunhos” foram escritos sob circunstâncias muito desfavoráveis, e na pressa de trazê-los perante o povo, várias imperfeições gramaticais foram deixadas sem correção nas obras publicadas. Agora que os “Testemunhos” seriam reimpressos, Ellen White e seus associados reconheceram que essas imperfeições deveriam ser corrigidas de modo a apresentar as mensagens numa melhor forma literária.

Princípios Vitais Enunciados

A questão era de tão vital importância que foi levada à Assembleia Geral de 1883. Nessa reunião, foram tomadas decisões importantes que não apenas afetaram a reimpressão desses “Testemunhos”, mas também serviram para que se registrasse a compreensão da igreja quanto a certos princípios fundamentais relacionados ao Espírito de Profecia. Abaixo, citamos atas da reunião:

32. CONSIDERANDO QUE, Alguns dos volumes encadernados dos ‘Testemunhos para a Igreja’ estão esgotados, de modo que coleções completas não podem ser obtidas no escritório: e,
CONSIDERANDO QUE, Há uma demanda constante e urgente para a reimpressão desses volumes; portanto,
Resolveu-se que recomendemos sua republicação de forma a fazer quatro volumes de 700 ou 800 páginas cada.
33. CONSIDERANDO QUE, Muitos desses testemunhos foram escritos nas circunstâncias mais desfavoráveis, a autora estando por demasiado pressionada pela ansiedade e pelos trabalhos para se dedicar à perfeição gramatical, sendo os escritos impressos com tanta pressa que se permitiu que essas imperfeições passassem sem correção; e,
CONSIDERANDO QUE, Acreditamos que a luz dada por Deus a Seus servos é pela iluminação da mente, transmitindo assim os pensamentos, e não (exceto em casos raros) as próprias palavras nas quais as ideias devem ser expressas [grifo nosso]; portanto,
Resolveu-se que, na republicação desses volumes, tais mudanças sejam feitas para remover as imperfeições acima mencionadas, tanto quanto possível, sem mudar o pensamento em nenhuma medida; e ainda,
34. Resolveu-se que este corpo nomearia uma comissão de cinco pessoas para se encarregar da republicação desses volumes, de acordo com os preâmbulos e resoluções acima. — Review and Herald, 27 de novembro de 1883.

Assim, reconheceu-se que as mensagens dadas a Ellen White não foram transmitidas por meio de uma inspiração verbal mecânica, mas sim através da iluminação da mente. Ellen White sempre desejou que as mensagens a ela confiadas fossem apresentadas de maneira a transmitir mais perfeitamente aos outros os pensamentos recebidos nas revelações. Essas revelações foram muitas vezes apresentadas em cenas ou panoramas que passavam diante dela. Ela deveria então descrevê-las da melhor maneira possível e, ao fazer isso, esforçou-se para usar a linguagem mais adequada ao seu alcance. Assim, ao preparar o manuscrito para publicação, quaisquer alterações mecânicas ou editoriais feitas por ela ou seus secretários, ou quaisquer alterações ou acréscimos que ela mesma pudesse fazer para trazer à tona o pensamento com mais clareza ou força, estavam totalmente justificados. Da mesma forma, nos “Testemunhos” publicados, mudanças mecânicas, gramaticais ou editoriais, dentro dos limites descritos, também eram apropriadas.

Nº 1-30 Publicados como Volumes I-IV

Em consonância com as decisões tomadas na Assembleia Geral, uma comissão de cinco pessoas foi nomeada para examinar os trinta números dos “Testemunhos” envolvidos. Eles fizeram um trabalho cuidadoso e colocaram todos os assuntos importantes perante Ellen White para sua aprovação. Conforme planejado, a nova edição saiu em uma página de tamanho maior, um tipo mais apropriado foi usado e os números de 1-30 foram publicados em quatro volumes — os volumes I-IV da nossa atual série de nove volumes de “Testemunhos para a Igreja.”

Sobre o preparo dessa edição, a seguinte declaração dos editores aparece no “Prefácio da Terceira Edição”:

Na primeira impressão dos “Testemunhos”, geralmente eram usados espaços em branco ou iniciais para os nomes das pessoas endereçadas. Nesses casos, agora foram substituídos pelas letras do alfabeto, começando com A em cada número. Nas visões anteriores, as palavras ‘eu vi’ eram inseridas com muita frequência. Quando a autora considerou que algo não faz parte do registro do que foi visto, às vezes essa expressão foi omitida. Algumas mudanças gramaticais e retóricas também foram feitas por uma questão de expressão e clareza. Ao fazer essas mudanças, muito cuidado foi tomado para se preservar todas as ideias, e em nenhum caso sentenças foram omitidas, a menos que indicadas acima, para evitar repetições desnecessárias. – Testimonies for the Church, vol. I, pp. iii, iv.

Volumes V-IX

A nova edição de 1885 foi muito bem-recebida, e seus volumes amplamente divulgados exercem influência marcante na vida dos membros e nas diretivas da igreja em geral. Números posteriores foram adicionados a essa coleção e, em 1889, o volume V foi publicado, contendo os números 31, 32 e 33. Os volumes VI, VII, VIII e IX foram publicados como volumes completos e, com o volume IX, a série chegou ao seu encerramento em 1909. Os nove volumes contêm quase cinco mil páginas de instruções e conselhos para a igreja, e hoje estão convenientemente encadernados no conjunto de quatro volumes.

Seleção de Artigos para Publicação

Os primeiros números dos “Testemunhos”, publicados em pequenos livretos, continham mensagens de interesse e valor imediatos para a igreja na época em que as mensagens foram dadas. Esses “Testemunhos” publicados, porém, continham apenas uma parte do que havia sido escrito, pois muitas das mensagens eram de natureza tão pessoal ou local que não havia necessidade de sua publicação. Desde o início, foi necessário escolher os artigos mais adequados para a circulação geral. Ao fazer essa escolha, Ellen White nem sempre confiou apenas no próprio julgamento, mas recebeu o conselho de obreiros de longa experiência na causa. Em 1906, ela comentou sobre sua prática de consultar os irmãos pastores, quando possível, sobre a melhor maneira de apresentar as visões:

Requer muita sabedoria e são discernimento, avivados pelo Espírito de Deus, o conhecer o tempo e a maneira apropriados para apresentar as instruções dadas. […] Nos primeiros tempos desta causa, se alguns dos irmãos dirigentes se achavam presentes quando eram apresentadas mensagens do Senhor, consultávamos com eles quanto à melhor maneira de pôr diante do povo as instruções. — Writing and Sending Out of the Testimonies to the Church, p. 5.

Naquele momento, o Pr. Tiago White, com seu conhecimento geral das condições do campo, estava bem qualificado para dar conselhos quanto ao uso dos materiais. No caso do primeiro número dos “Testemunhos”, as mensagens foram lidas à igreja de Battle Creek e, por voto dos presentes, decidiu-se que deveriam ser publicadas para circulação geral. A escolha do que deveria ser impresso para circulação geral não recaiu, entretanto, inteiramente sobre conselheiros humanos. Bem no início de seu trabalho, ela recebeu a garantia:

Não estás só na obra para que o Senhor te escolheu. Serás ensinada por Deus quanto a apresentar a verdade em sua singeleza perante o povo. O Deus da verdade te susterá, e será dada prova convincente de que Ele te guia. Deus te dará de Seu bom Espírito, e Sua graça e sabedoria e poder protetor estarão contigo. – Id., p. 11.

Enquanto muitos dos “Testemunhos”, por sua natureza, davam instruções de aplicação universal, outros abordavam questões específicas. Muitos expunham conselhos para o avanço da obra oportunos para aquele momento. Na escolha de artigos para os “Testemunhos” publicados posteriormente, se um assunto de interesse geral já tivesse sido tratado em um número anterior dos “Testemunhos”, o artigo posterior não era publicado, via de regra. Como um conjunto cumulativo de escritos, eles cresceram em escopo e valor com o passar do tempo, pois quanto mais questões eram atendidas, e mais variadas, conselhos eram dados nos “Testemunhos” para resolver tais problemas. À medida que crescia o volume de escritos e aumentava o campo de assuntos abordados, maior cuidado tinha de ser exercido na escolha dos materiais, a fim de evitar repetições indevidas.

Não apenas a escolha dos artigos era uma tarefa importante, mas Ellen White deveria dar maior atenção à fraseologia. As mensagens deveriam ser apresentadas da forma mais clara possível, para que não fossem mal interpretadas. Em 1901, ela falou sobre o seu trabalho na coleta e análise de material para publicação no volume VI. Aqui estão as palavras dela:

Tenho muito o que fazer antes de ir para a Conferência. Há algumas coisas a serem concluídas para o “Testemunho 34” (Vol. VII). […] Pensei em passar um tempo no sanatório, mas parece que precisam
de mim aqui. Devo selecionar os assuntos mais importantes para o “Testemunho” e então examinar tudo o que foi preparado para ele, e ser minha própria crítica. Isso porque eu não gostaria que algumas coisas, que são totalmente verdadeiras, fossem publicadas, pois temo que alguns se aproveitem delas para ferir os outros. Depois que o material para o “Testemunho” estiver preparado, cada artigo deve ser lido por mim. […] Tento trazer à tona princípios gerais, e se vejo uma frase a qual temo que daria a alguém uma desculpa para ferir outra pessoa, sinto-me em perfeita liberdade para reter a frase, mesmo que seja perfeitamente verdadeira. Durante minha doença, trabalhei todos os dias, exceto no sábado, sentada na cama com travesseiros. — E. G. White, Carta 32, 1901.

Alguns meses depois, ela falou sobre a escrita de cartas e a relação delas com futuros livros:

Desde o início do ano [1902], escrevi cerca de 700 páginas. Grande parte desse material são cartas para pessoas diferentes. Essas cartas serão usadas nos “Testemunhos” e, espero, serão uma ajuda para nosso povo. Às vezes, meu cérebro está tão intensamente ativo que parece impossível para mim escrever as ideias tão rapidamente quanto elas vêm a mim. – E. G. White, Carta 68, 1902.

“Tesouros dos Testemunhos”

Os nove volumes dos “Testemunhos para a Igreja” sempre terão uma distribuição e uso muito amplos. No entanto, há muitas famílias que não estão essencialmente preocupadas com os detalhes da condução da obra e que acham suas cinco mil páginas um pouco difíceis no sentido de compreender a leitura. Assim, pelo próprio tamanho do conjunto completo, não poucas pessoas são suprimidas de seus benefícios. A fim de fornecer os principais conselhos dos Testemunhos em formato compacto e popular, de fácil manuseio e leitura, os depositários das Publicações de Ellen G. White selecionaram cerca de um terço dos artigos dos nove volumes de “Testemunhos” e os reimprimiram em três volumes intitulados “Testimony Treasures”. Esses artigos selecionados, incorporando uma representação de cada fase importante dos conselhos para a igreja mundial presentes nos “Testemunhos, está sendo rapidamente traduzido e publicado nas principais línguas do mundo. Em breve teremos em todo o mundo, em inglês e em outros idiomas importantes, um conjunto padrão e uniforme de três volumes de seleções dos “Testemunhos”.

Em muitas famílias, mesmo naquelas que possuem os nove volumes completos e os usam em obras de referência, os “Testimony Treasures” servirão como livros nos quais os conselhos importantes serão lidos em sua ordem consecutiva. Instruções, informações e conselhos vitais para cada membro de igreja serão encontrados nesses três volumes.
Neles, não estão incluídas mensagens de importância local e pessoal, e conselhos relativos a determinadas instituições. Tampouco os “Testimony Treasures” contêm artigos com paralelo muito próximo em outros livros amplamente conhecidos de E. G. White, como os cinco volumes da “Série Conflito dos Séculos”.

Via de regra, os artigos são selecionados na íntegra e dispostos na ordem em que foram originalmente publicados. Nenhuma mudança foi feita no corpo do texto, exceto conforme necessário para seguir as normas atuais de pontuação e ortografia e para corrigir um erro gramatical ocasional. A fonte original de cada artigo é claramente fornecida. Os “Testimony Treasures” são publicados como parte da popular série Christian Home Library, e o volume III contém um índice para o conjunto dos três livros.

Foi reconhecido desde o início que tal seleção de materiais não poderia e não tomaria o lugar do conjunto completo dos “Testemunhos”. Hoje, como nos anos anteriores, nossos obreiros e muitos estudantes desejarão o conjunto completo. Nunca houve qualquer intenção de revisar ou aposentar o conjunto de nove volumes. Eles sempre terão o seu lugar e continuarão a ter ampla circulação e estudo sistemático. Mas a publicação, de baixo custo, dos “Testimony Treasures”, relacionados com a experiência cristã e a preparação para encontrar nosso Senhor, abre agora o caminho para que milhares de famílias adventistas se beneficiem de conselhos de vital importância para todo crente. Assim, os “Testimony Treasures” terão um amplo campo de utilidade e ajudarão a tornar possível a louvável meta estabelecida por Ellen White quando ela escreveu:

“Os Testemunhos devem ser introduzidos em cada lar de observadores do sábado.” — Testemunhos Para a Igreja, vol. IV, p. 390.

 

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