Roger W. Coon
Secretário associado do Patrimônio
Literário Ellen G. White, Washington, D.C.

Vamos analisar a “carta Watson”, pois ela contém a informação de que Ellen White ocasionalmente enviava seu dízimo  diretamente a uma projeto especial.

“Durante   a maior parte do tempo, desde minha ligação com o trabalho de mamãe, em 1881, um dízimo integral de seu salário é restituído para o tesoureiro da igreja ou Associação.”[1] Assim escreveu W. C. White, filho de Ellen White, perto do fim da vida. No entanto, houve algumas exceções para essa regra. Às vezes a Sra. White deu parte de seus dízimos diretamente para ministros adventistas que estavam sofrendo privações financeiras. Por que ela agiu assim, quando seu conselho aos outros era para encaminharem o dízimo através da tesouraria da igreja?

A Obra especial de Ellen White

A dimensão do quadro é exposta por Arthur L. White, neto de Ellen White, em sua biografia da profetisa.[2] Os fatos básicos são estes: Parte da comissão divina dizia respeito ao suprimento das necessidades do ministros idosos que não tinham condições de trabalhar e  ganhar salários. Ela declara: “ Recebi o encargo de não negligenciar ou passar por alto os que estivessem sendo tratados com injustiça. … Se eu vir os que se encontram em posições de confiança negligenciando os ministros idosos, cumpre-me apresentar o assunto àqueles cujo dever é deles cuidar. Ministros que fizeram fielmente sua obra não devem ser esquecidos ou negligenciados  ao se tornarem  débeis na saúde.”[3]

Essas palavras foram escritas em 1906, cinco anos antes de a Igreja instituir um plano de pensão para obreiros denominacionais  aposentados, e muito antes de o Governo do Estados Unidos  criar um a pensão para aposentados americanos, em 1935, com o Seguro Social.

Hoje, os obreiros da Igreja, não apenas nos Estados Unidos mas também em  muitos outros países, podem viver com a aposentadoria da Igreja e da Previdência Social. Mas antes de 1911, quando um ministros se aposentava, seu salário cessava. Alguns então eram destituídos. E havia outros que eram dispensados mesmo antes de se aposentarem.

Quando casos especiais de obreiros empobrecidos eram levados ao conhecimento da Sra. White, ela primeiro entrava em contato com os administradores da Associação. Geralmente isso era suficiente, e a ajuda erra providenciada. Mas, de quando em quando, havia problemas, particularmente no sul dos Estados Unidos, onde as entradas eram poucas, e com freqüência quase não existiam. Em tais circunstâncias a Sra. White participava, usando uma parte de seu próprio dízimo e ocasionalmente ela juntava a essa porção o dízimo de outros  de membros da igreja.

Por muitos anos Ellen White sentiu uma extraordinária preocupação pela obra no sul dos Estados Unidos.  Seu filho, Edson White, compartilhou do mesmo sentimento. Com a aprovação da administração da Associação Geral, Edson fundou a Sociedade Missionária Sulista em 1895. Esta Sociedade favoreceu amplamente obra entre os negros nos Estados sulistas. A Sra. White ás vezes  fazia apelos particulares para os membros da igreja ajudarem esse necessitado e promissor empreendimento.

Dinheiro que não alcançou seu destino

 Durante os primeiros seis meses de 1896 a Associação Internacional da Escola Sabatina levantou 10.878 dólares – uma enorme quantia naqueles dias –  para a  “obra no sul dos Estados Unidos”.[4]  Embaraçosamente, esses fundos nunca alcançaram seu destino. O dinheiro foi primeiramente depositado numa conta da Pacific Press (editora adventista). É dito que a Pacific Press decidiu reter permanentemente o dinheiro em substituição a uma quantia equivalente que a Associação Geral lhe devia. A administração da Pacific Press aparentemente esperava que a Associação Geral enviasse o mesmo o valor à Sociedade Missionária Sulista. Mas isso não é feito – os cofres da Associação Geral estavam vazios.

Esse infeliz incidente ocorreu  18 anos antes da criação do Serviço de Autoria da Associação Geral, em 1914.  Hoje todos os fundos da Igreja, e seus responsáveis, são monitorados periodicamente em seus respectivos níveis para reduzir a incidências de mal gerenciamento em todos os graus.

O incidente de Colorado

Em 1904, quando a situação no Sul era, mais delicada, W. O. Palmer, um dos líderes da Sociedade Missionária Sulista, foi a Colorado para solicitar fundos entre as igrejas. Uma congregação contribuiu com cerca de 400 dólares, e uma parte era dinheiro de dízimo. O procedimento como um todo foi considerado irregular. A Associação Colorado viu o ato como errado e censurável. E seu presidente resolveu tratar com severidade o caso.

Em 22 de janeiro de 1905, Ellen White, então visitando Mountain View, Califónia , tomou conhecimento dos detalhes e escreveu o que atualmente é conhecido como a “carta Watson”.

Esta carta é usada hoje por diversos ministros independentes para justificarem seus pedidos e a  aceitação de fundos do dízimo de outros membros da igreja. alguns trechos são geralmente publicados, mas nem sempre o documento é reproduzido na íntegra- por razões óbvias, é claro.

Por exemplo, uma versão da carta foi publicada e distribuída por um ministro independente sem constar este significativo trecho: “Não aconselharia ninguém a realizar uma prática de arrecadação do dinheiro do dízimo.”

A carta foi relativamente curta, considerando-se os padrões de Ellen White – apenas sete parágrafos. Reproduzi-la-emos aqui em sua totalidade:

A carta Watson

Meu irmão, desejo dizer a você: Seja cuidadoso com o modo como age. Você não está agindo sabiamente. Quanto menos você falara sobre o dízimo que é destinado para o mais necessitado e aos Campos mais carentes no mundo, mais sensível você será.

Durante anos tem sido mostrado a mim que o meu dízimo deveria ser remetido para ajudar os ministros brancos e negros que eram negligenciados e não recebiam o suficiente, e necessário para sustentar a família. Quando minha atenção se voltava para os ministros  idosos, brancos ou negros, era minha especial tarefa investigar suas carências e suprir suas necessidades. Essa deveria ser minha obra especial, e tenho feito isso em inúmeros casos. Nenhum homem deveria dar notoriedade ao fato de que em ocasiões especiais o dízimo é usado dessa maneira.

Com respeito à obra com os negros no Sul, aquele Campo foi e ainda está sendo roubando dos meios que deveriam começar chegar até seus obreiros. Se têm existido casos nos quais nossas irmãs têm destinado seus dízimos para o sustento de ministros que trabalham por pessoas negras no Sul, conserve-se cada homem, se for calado.

Tenho destinado meu dízimo para os casos mais necessitados que são trazidos ao meu conhecimento. Fui instruída a fazer assim; e como o dinheiro não retido da tesouraria  do Senhor, não é um assunto que deveria ser acompanhado de comentários, pois tornaria necessário meu envolvimento com essas coisas, o que não desejo fazê-lo, porque não é o melhor.

Alguns casos têm sido mantidos diante de mim durante anos, e tenho suprido suas necessidades do dízimo, conforme Deus me Deus me instruiu a fazer. E se  qualquer pessoa me disser: Irmã White, você poderá destinara o meu dízimo para onde você sabe que ele será mais necessário, eu direi: Sim, farei; e tenho agido assim. Elogio essas irmãs que têm aplicado seu dízimo onde é mais necessários para ajudar a realizar uma obra que está sendo neglicenciada, e se a esse assunto for dado publicado, fortalecerá um ponto de vista que seria melhor se fosse deixado como está. Não tenho interesse em dar publicidade a essa obra que o Senhor me indicou realizar, e a outros também.

Envio-lhe essa explicação para que você não cometa um erro. As circunstâncias alteram os casos. Não aconselharia ninguém a realizar uma prática de arrecadação do dinheiro  do dízimo. Mas, durante anos e ainda hoje, há pessoas que perderam confiança no método da aplicação do dízimo em minhas mãos, e dito que se não  pegasse, eles mesmos o encaminhariam para as famílias de ministros carentes que encontrassem. Tenho recebido o dinheiro, dado um recebido por ele, e dito a eles como foi aplicado.

Escrevo-lhe considerando que isso o ajudará  a  se manter quieto em vez de provocar estardalhaço e dar publicidade ao assunto, para que muitos outros não sigam seu exemplo.[5]

Tiremos agora algumas conclusões desse incomum incidente em nossa história denominacional:

1. Ellen White foi diretamente instruída por Deus para ajudar certos ministros acometidos de pobreza (brancos e negros).

2. A primeira tarefa de Ellen White era notificar à Associação das necessidades existentes. Somente quando não atendiam, ela dava o passo seguinte de buscar a solução com assistência de emergência.

3. O dinheiro aplicado desse modo era usado em despesas para benefícios  em favor de obreiros destituídos –  não para despesas operativas de instituições, publicações de literatura, etc.

4. A situação financeira anterior a 1911 não existe mais nos Estados Unidos e em muitas outras partes do mundo. Agora estão disponíveis planos de aposentadoria que não havia quando ela escreveu essa carta.

5. Em cada parágrafo da carta existe ao menos uma frase na qual ela explicitamente desejava que o Pastor Watson mantivesse sigilo a respeito das condições vigentes. Esse era seu serviço especial, não o serviço especial de outros. Se cada um seguisse seu exemplo, a estrutura financeira da Igreja seria substancialmente prejudicada.

6. Ministros independentes que propagam essa carta tendo em vista interesses pessoais, com a intenção de justificar solicitações e/ou aceitar fundos do dízimo de seus irmãos membros da Igreja  Adventista do Sétimo Dia, estão fazendo exatamente o que Ellen White disse ao Pastor Watson que não fizesse.

7. O dinheiro não era “retido da tesouraria do Senhor” uma vez que estava sendo usado em favor de ministros reconhecidos denominacionais.

Apoio de Ellen White apenas para causas reconhecidas

Tanto quanto os registros indicam, todos os fundos de dízimo que passaram pelas mãos da Sra. White por volta da virada do século foram distribuídos para uma agência reconhecida da Igreja Adventista do Sétimo Dia – neste caso a Sociedade Missionária Sulista – ou para obreiros que foram sustentados ou endossados pela liderança da Igreja. Não se tem conhecimento de nenhum dos dízimos de White  ter ido para uma agência independente ou a um obreiro self- supporting ( de sustento próprio) que não  estivesse diretamente debaixo  do guarda-chuva da Igreja.

Embora a Sociedade Missionária Sulista fosse, por todos os propósitos práticos, uma organização self- supporting, ela foi fundada e continuou a funcionar “sob a instrução e portanto as credencias da Associação Geral.”[6]

Ao restituir uma porção do seu dízimo para a Sociedade Missionária Sulista restituindo para um empreendimento oficialmente aprovado pela Associação  Geral. 

O trabalho e lutas da Sociedade

A maior parte do trabalho da Sociedade foi a formação e manutenção de escolas da Missão e a publicação de literatura especialmente voltada para o Campo sulista. No entanto, a Sociedade também se dirigia para outras linhas de evangelismo entre caucasianos e americanos- africanos, e apoiava diversos ministros brancos e negros. Ela recebeu apenas uma subvenção simbólica dos fundos da Igreja.[7]

Na reorganização da denominacional na Sessão  da Associação  Geral  de 1901, foi criada a Associação União do Sul , e a Sociedade Missionária Sulista tornou-se um ramo da União do Sul. Porque a União do Sul era incapaz de se auto-sustentar  em seu nascimento, ela não tinha condições de prover qualquer expressivo apoio para a Sociedade. A posterior adoção significativa  pouco mais do que “adicional apoio e cooperação”.[8]

O Dinheiro do Colorado

O Pastor William C. White, filho de Ellen White e irmãos mais jovem do fundador da Sociedade Missionária Sulista, mais tarde recordou o uso dos fundos de dízimos enviados do Colorado para a Sociedade: “ O dinheiro era colocado na tesouraria da Sociedade Missionária Sulista e usado para pagamento de modo regular e econômico de obreiros aprovados que estavam empenhados na obra regular denominacional.”[9]

Quando o assunto do dízimo em Colorado prosseguiu ardentemente inflamado pelo Pastor Watson, o presidente da Associação Geral, Pastor Arthur G. Daniells, escreveu para Edson solicitando a sua versão da história. Numa resposta de oito páginas, Edson mencionou diversos fatos interessantes com respeito à operação da Sociedade Missionária Sulista, a qual era agora parte integrante da Igreja: “Os obreiros brancos para a população branca no  Sul são pagos do dízimos, mas por diversos anos a Sociedade Missionária Sulista tem apoiado de dois ministros ordenados entre a pessoas negras, e esse apoio tem vindo de doações recebida, mas as Associações não têm admitido que o sustento. …

“Algumas  pessoas têm  colocado seu dízimo nas mãos de mamãe e ela tem direcionado-o para nossa Sociedade, prontamente, para ajudar a cobrir as despesas da folha de pagamento do ministros. Recentemente três irmãs no Colorado enviaram seu dízimo para pagar os ministros negros no Sul. Considerável confusão foi criada com respeito a isso pelo presidente da Associação do Colorado. … O irmão Palmer nunca pediu a uma pessoa para enviar o dízimo, e ele certamente não pediu à igreja para enviara sei dízimo. …

“Matemos uma conta separada da pequena soma de dízimo que chega até nós  por este meio e o aplicamos integralmente no pagamento dos ministros que trabalham pelas pessoas negras.”[10]

Edson expressou interesse quanto ao fato de que o dízimos deveriam a sua organização, considerando que a irmandade das Associações na União Sulista recusavam ajudar – tanto para aliviá-los do aperto financeiro  como de vários outros problemas -,ele  decidiu aceitá-los quando oferecido. E continuou: “Muitas vezes recusei dízimos que foram oferecido  a mim, e senti que eu necessitava reconhecer meu terreno. Eu sabia que o dinheiro seria usado para pagar ministros quando seu pagamento nos era recusado do dízimo de outros lugares, mas tínhamos o direito de recebê-lo.”[11]

O Sistema de distribuição do dízimo

A obra mundial da Igreja Adventista do Sétimo Dia é posta hoje em perigo quando o sistema de distribuição do dízimo sofre qualquer tipo de alteração. Cada Associação coleta o dízimo de suas igrejas constituídas, retém uma quantia específica, estabelecida pelas praxes, para atender às necessidades das despesas do ministério local, e envia o restante para a União e Associação Geral. Assim , podem ser supridas as necessidades de outros Campos mundiais mais carentes.

Se os irmãos adventistas desviarem seus dízimos, mesmo para projetos meritórios no país ou  estrangeiros, o reservatório básico para consolidar nossa obra mundial será posto em perigo. Era essa a posição em que Ellen White tinha em mente quando, em 1890, advertiu os membros e líderes de nossa Igreja : “Irmãos, não sejam infiéis em sua parte. Permaneçam em seu lugar. Não sejam infiéis, pois sua negligência da tarefa aumenta nossas dificuldades financeiras;”[12]

Em 1911 , o mesmo ano em que a denominação instituiu seu plano de aposentadoria, Ellen White foi abordada quanto a sua disposição de continuar recebendo dízimos diretamente de membros da igreja. Pressão agora estava no passado, a necessidade original agora virtualmente não existia. Sua resposta continua útil como foi  a instrução naquela época.

Ela escreveu: “Você pergunta-se aceitarei o seu dízimo  e o aplicarei na causa de Deus onde estiver mais necessitada. Em resposta direi que não recusarei fazer isso, mas ao mesmo tempo direi a você que existe um caminho que é melhor de todos. É melhor pôr confiança nos ministros da Associação em que você fregüenta. Procure-os.”[13]

No mesmo espírito do apóstolo Paulo, ao escrever á igreja de Corinto: “ Porém eu vou mostrar a vocês o caminho que é melhor de todos” (I Cor. 12:31, BLH), Ellen White desejava que os irmãos da igreja atendesse ás amplas necessidades mundiais da Igreja, objetivando reduzir ao mínimo as deficiência e suas trágicas conseqüências. Vamos seguir o que Ellen White chamou  e “o melhor de todos os caminhos”. Logo a igreja militante dará lugar à triunfante. Naquele dia, todos os que agora são fiéis certamente ficarão orgulhosos de terem seguido integralmente o conselho do Senhor.

PDF: Conselho e Prática de Ellen G. White – V


Referências:                                                 

[1] Citado por Arthur L.White, Ellen G. White: The Early Elmshaven Years, 1900-1905, pág. 393.

[2] Ibid.,  págs. 389-397.

[3] Mensagens Escolhidas,  vol.1, pág. 33.

[4] Ronald Graybill, Mission to Black America, págs. 107 e  108.

[5] Citado por Arthur L. White em Ellen G.White: The Early Elmshaven Years, 1900-1905, págs. 395 e 396

[6] “James Edson White”, Seventh-day Adventist Encyclopedia, 1976 ed., pág. 1589;  “Southern Missionary Society”, ibid., pág. 1.396.

[7] Arthur L. White , “Sra. Ellen G, White e o Dízimo”, em “A História e Uso do Dízimo”,  documento inédito, Depositários de Ellen White, revisado em fevereiro de 1990, pág. 30.

[8] “Southern  Missinary  Society”. Seventh-day Adventist Encyclopedia, ed. 1976, pág. 1.397.

[9] Citado por Arthur L. White em Ellen G. White: The Early Elmshavem Years, 1900-1905, pág. 394.

[10] Carta de J. Edson White para Arthur G. Daniells, 26 de março de 1905.

[11] Ibid.

[12] Special Testimonies, Séries A, nº1,  págs. 27 e 28.

[13] Manuscript Release, vol. 1,  pág. 196.