Ellen White jamais aconselhou quem quer que fosse a depositar seu dízimo em qualquer outro lugar que não “tesouraria denominacional”

Roger W. Coon
Secretário associado do Patrimônio
Literário Ellen G. White, Washington, D.C.

P – Sendo que Ellen  White algumas vezes deixou de enviar seu dízimo por meio da igreja local e pelos canais da Associação, estou liderado para seguir seu exemplo?

R- Alguns pastores independentes, no esforço de justificar o recebimento e/ou a solicitação do dízimo de membros adventistas, defendem sua prática baseando-se no fato de que na virada do século a Sra. White usou algumas vezes seu dízimo para assistir pastores brancos e negros em necessidade – mormente nos Estados Unidos do Sul, muitos dos quais eram aposentados.

É preciso compreender que naqueles dias não existia um programa denominacional de aposentadoria (previamente chamado de “plano de sustentação”) e nem a pensão estadual para os aposentados (nos Estados Unidos chamada de Seguro Social). O plano de aposentadoria da Igreja ainda estava seis anos no futuro (e a previdência social do governo, 30 anos), quando a Sra. White escreveu uma carta em 1905 a George F. Watson, presidente da Associação do Colorado, falando do eventual uso de alguns de seus dízimos para necessidades especiais da Igreja.

Esta breve carta d sete parágrafo pode ser lida hoje em sua inteireza na biografia  que Arthur L. White escreveu sobre sua avó 1 – estou mencionando isto porque algumas pessoas, ao reproduzirem a carta deixam de lado sentenças como “Eu não aconselharia a quem quer que seja a tornar o ato de coletar o dinheiro do dízimo uma prática.

Qual a base para esta afirmação? O presidente Watson havia descoberto recentemente que um representante da Sociedade Missionária do Sul havia vindo ao seu Campo com o fim de solicitar fundos para uma iniciativa missionária  muito  necessitada. O representante havia recebido cerca de $400 dólares de uma igreja, incluindo alguns dízimos. Em sua indignação, Watson estava para tornar pública essa preeminente violação do protocolo de denominacional.

No dia 22 de janeiro de 1905, a Sra. White escreveu para Watson a fim de adverti-lo a não se preocupar tanto com esse assunto. Mencionou o fato de ter usado, vez por outra, alguns de seus dízimos,  bem como dízimo, bem como o dízimo de mais algumas pessoas, a fim de ajudar certos indivíduos apontados por Deus que se encontravam em situação financeira desesperadora.

Nessa carta e no artigo publicado no ano seguinte 2 , a Sra. White colocou os seguintes  pontos acerca de sua prática:

Ela foi diretamente instruída por Deus para ajudar certos pastores adventistas brancos e negros que estavam em situação de carência financeira.

Foi instruída por  Deus a notificar primeiramente os oficiais da Associação acerca da necessidade, e admoestá- los a ajudar.  Se, ou quando se recusassem, ela deveria assumir diretamente com ajuda imediata.

A situação era singular a ela enfatiza isso por meio de expressões como “minha obra especial” e “casos especiais”.

A Sra. White não tinha a intenção de tornar esse projeto especial um exemplo ou precedente, já que Deus havia instruído a ela só, especificamente.

O dinheiro não havia sido negado ao tesouro do Senhor, sendo que esses dízimos foram dados a pastores adventistas – regularmente empregados pela Sociedade Missionária do Sul (e assim, credenciados pelo setor ministerial da Associação Geral 3 ou aposentados sustentando as credencias de “honorários” que os pastores Adventistas do Sétimo Dia possuem no plano atual de aposentadoria).

Acentuou enfaticamente: “Eu não aconselharia a quem quer seja a tornar o ato de coletar o dinheiro do dízimo uma prática.”

Para os que, hoje, justificam sua aceitação e/ou solicitação do dízimo de seus irmãos adventistas, faríamos as seguintes perguntas:

Deus os apontou diretamente para a realização da obra de coletar ou aceitar esse dízimos?

A situação que a levou a adotar aquele programa de emergência na virada do século, existe  ainda hoje (ou está anulada pelas pensões de Estado e Igreja para obreiros aposentados)?

Caso a situação de hoje seja a mesma de 1905, entraram eles em contato com os oficiais da Associação com antecedência (como era de costume da Sra. White) para retificar a situação, ao invés de tomar a iniciativa por própria?

Estão eles gastando o dinheiro do dízimo que coletam para o mesmo propósito que motivou a Sra. White –  especialmente para pastores adventistas às portas pobreza?

Os fundos que são encaminhados a uma agência reconhecida pela Igreja Adventista do Sétimo Dia e/ou para obreiros aposentados carentes que estiveram a serviço da Igreja antes da aposentadoria?

Mais uma vez afirmamos que não existe qualquer registro sobre o fato de algum dinheiro ter sido enviado por Ellen White para alguma agência “independente “ou alguma pessoa fora da confirmação ou apoio oficial da Igreja Adventista.

P- Ouvi dizer que outras mulheres que se uniram ao “projeto de dízimo” da Sra. White em favor dos pastores do Sul ,não enviaram seu dízimo por meio dela, mas o enviaram diretamente aos pastores em necessidade, e que ela deve  ter aprovado aquela atitude. É verdade isso?

R- Não. Alberto Timm, diretamente do Centro de Pesquisas  Ellen G. White no IAE, preparou, recentemente, sua tese de doutorado dentro do programa de estudos da Universidade Andrews, EUA, sobre os usos especiais do dízimo por parte de Ellen White. Nessa tese ele salienta o seguinte:

“Apesar de não termos base nenhuma para supor que todos os dízimos particulares enviados aos Campos do Sul tenham sido enviados por direto aconselhamento de Ellen White, fica bem evidente que ela preferiu aceitar seu dízimo, dar um recibo e enviá-lo para onde ela sentia haver maior necessidade, aos invés de permitir que indivíduos o aplicassem como achassem por bem…”4

Na verdade, na “Carta a Watson”, a Sra. White afirma fracamente que (1) “Peguei o dinheiro”, (2) tinha um livro especial de recibos que usava para comprovar o recebimento do dinheiro e o fim a que se destinava, e então (3) voltava aos doadores a fim de dizer-lhes “quanto foi apropriado.”

P- Ouvi dizer, há pouco tempo, que existe um documento no Centro G. White, nos Estados Unidos, supostamente escrito por W.C. White, A. G. Daniells e W. W. Prescott, que parece indicar que a posição da Sra. White era a de que o dízimo da Igreja Adventistas do Sétimo Dia não tem a necessidade de ser entregue através dos canais regulares da Igreja. Isto é verdade?

R- No documento fichado sob o número DF 213, existe um memorando datilografado que (1) não tem  data e (2) não tem assinatura , o que sugere que talvez essa fosse sua posição. Mas nessa ficha existe, também, uma afirmação do arquivista do Centro de Pesquisa White, Timm L. Poirier, que parece ser uma nota admoestatória relativa a esse documento anônimo:

“Antes que se chegue a conclusões desautorizadas, deve-se lembrar que o memorando representa um esboço  de uma abordagem sugestiva (como  resposta ) do mau que o Dr. Stewart  faz da carta de Ellen White ao Pastor Watson. Não se apresenta nenhuma afirmação de Ellen White para apoiar a resposta planejada. Na realidade, não se pode ‘demostrar por seu  escritos’, o que o memorando parece sugerir. A carta a Watson é a única afirmação de Ellen White da qual eles tiraram suas conclusões, e ao ser lida com mais cuidado, nota-se que ela não sugere tanto um plano de ação impreciso quanto a planejada resposta aos princípios gerais. Para se fazer justiça ao comitê, deve-se enfatizar o fato de que o memorando, sendo anotações  supostamente preparadas  por seus próprios membros,  provavelmente não é uma afirmação completa e bem elaborada da conclusão a que chegaram seus membros”.5

Mas, mesmo assim, em consideração aos argumentos, suponhamos que White, Daniells e Prescott tivessem sido os autores.  Será que sua reconhecida proximidade com a profetisa garantiria uma interpretação infalível da posição da Sra. White sobre a distribuição apropriada do dízimo? Não. Um incidente ocorrido nos primórdios de nossa história denominacional apoia essa negativa.

Em pelo menos duas ocasiões no início de seu ministério profético (novembro de 1846, e outra vez em 1849), a Sra. White  recebeu  visões de “outros mundos”  habitados. Tiago  White e José Bates estavam entre os que testemunharam a primeira dessa visões.

À medida em que a Sra. White ia descrevendo um planeta  depois do outro, Bates – um capitão aposentado da Marinha, especialista em navegação astronômica – ficou muito entusiasmado e ofereceu sua identificação pessoal de cada um dos corpos celestes, `a medida em que a Sra. White os descrevia cada  um por sua vez: Júpiter, Saturno e Urano.

Posteriormente, Tiago White 6 e o primeiro historiador adventista, J.N. Loughborough 7 , imprimiram a história da visão, usando a identificação de Bates  sobre os respectivos plenetas vistos. (A própria Ellen, nem na ocasião, nem mais tarde, atacou qualquer uma dessas identificação, como salienta seu defensor F. D. Ninhol.)8

Hoje sabemos que Bates identificou os  planetas errados, e Tiago White e Loughborough perpetuaram  essa má aplicação na imprensa. Todos os três eram pessoas muito próxima à Sra. White, e os três interpretaram erroneamente uma faceta importante dessa visão. Proximidade com um profeta não garante exatidão.

É possível que W. C. White, A. G. Daniells e W. W. Prescott tenham  sido os autores desse memorando anônimo nos arquivos do Centro de Pesquisas White. Mas o único caminho seguro a ser seguido quanto à posição da Sra. White em relação ao dízimo, é deixar que ela fale por si mesma.

E  é fato inegável que a Sra. White  jamais aconselhou a quem quer que fosse a depositar sei dízimo em qualquer outro lugar que não  na “tesouraria” denominacional.

PDF: Dízimo: Conselho e prática de Ellen White – II


Referências:

1 Arthur L. White, Ellen White: The Early Emshaven Years, 1900-1905, págs. 395 e 396.

2 Selected Messages, vol. 1, págs. 33, da Review and Herald, 26 de julho de 1996.

3 “Southern Missionary  Society”, Seventy-day Adventist  Enciclopedia, edição revista, 1976, pág. 1396.

4 Alberto R. Timm “Na Analysis  of Four Statements of Ellen G. White on Special Uses of Tithe”, tese de doutorado não-publicada, CHIS 613, Seminário Teológico Adventista, Universidade, Universidade Andrews, abril, 1991, pág.14 (o documento tem 20 páginas.)

5 (Timothy L. Poirier), “A Note Regarding thr Document ‘A Memorandum of Plans Agreed Upon in Dealing With the Blue Book”, documento não-publicado, Centro  de Pesquisas Ellen White, Arquivo do Documentos 213, pág.1.

6 Tiago White (ed.), A Word to the Little Flock, pág. 22.

7 J. N. Loughborough, Rise and Progress of Seventh-day Adventists, pág. 126, e sua seqüência, The Great Second Adventt Movement, págs. 258 e 259.

8 Francis D. Nichol, Ellen G. White and Her Critics, capítulo 7, págs. 91-101.