Arthur L. White

Línguas nos Primórdios de Nossa História

Experiências de êxtase religioso não eram ocorrências raras entre cristãos sinceros as décadas de 1830 e 1840. Alguns daqueles que posteriormente se tornaram nossos antepassados espirituais, estiveram envolvidos nelas. Tais experiências podem ser consideradas sob os seguintes aspectos: (1) prostração física; (2) exclamação de louvores a Deus; (3) falar em línguas desconhecidas; (4) cura divina. Ao olharmos para trás desde a nossa atual posição, parece haver convincente evidência de que algumas dessas experiências contrafações foram genuínas. Há também evidência de que algumas não passavam de ou eram auto provocadas em períodos de excitação. Numa série de artigos, investigaremos estas experiências em seu contexto histórico e determinaremos o relacionamento de Ellen G. White com elas. Ao rememorar suas primeiras experiências no Movimento Adventista antes de receber visões, Ellen White relata uma porção de ocasiões em que ficou prostrada sob o poder da presença do Espírito. Crê-se que uma dessas experiências teve lugar em 1843: “Quando todos se ajoelharam para orar, prostei-me com eles, trêmula. Depois de algumas pessoas haverem orado, alcei a voz em oração, antes que disso me apercebesse. […] Louvei a Deus de todo o meu coração. Tudo parecia excluído de mim, exceto Jesus e Sua glória, e perdi a consciência do que se passava em redor. “O Espírito de Deus pousou sobre mim com tal poder que não pude ir para casa aquela noite. Quando voltei para casa, no dia seguinte, grande mudança ocorrera em meu espírito. Dificilmente parecia ser eu a mesma pessoa que deixara a casa de meu pai na noite anterior. Esta passagem estava continuamente em meu pensamento: ‘O Senhor é meu pastor; nada me faltará.’ (Sl 23:1). Meu coração transbordava de felicidade, enquanto eu suavemente repetia essas palavras.” (Testemunhos Para a Igreja, vol. 1, p. 31).

Subjugada pelo Espírito

Relatando outro incidente durante sua experiência cristã dos primeiros tempos quando era uma jovem milerita, ela nos conta como, em companhia de outros, participou de uma reunião aproximadamente seis meses após a descrita acima. O capítulo onde esta informação é apresentada intitula-se “Oposição de Irmãos Formalistas”. Eis sua narrativa: “Por vezes, o Espírito do Senhor vinha sobre mim com tal poder que minhas forças diminuíam. Para alguns que haviam saído das igrejas tradicionais, isso era um teste e faziam observações que muito me afligiam. Muitos não podiam acreditar que alguém pudesse ser tão plena do Espírito Santo, enquanto separada de todas as suas forças. “Havíamos estabelecido diversos lugares na cidade para acomodar aqueles que desejavam assistir às reuniões de oração. A família que mais fortemente se opusera a mim assistiu a uma dessas reuniões. Nessa ocasião, enquanto a congregação se achava em oração, o Espírito do Senhor Se fez presente à reunião, e um dos membros dessa família ficou prostrado como morto. Seus parentes choravam, friccionavam-lhe as mãos e procuravam reanimá-lo. Por fim, ele recuperou parcialmente as forças para louvar a Deus, abrandar seus temores e aclamar em triunfo a notável evidência do poder de Deus sobre si. O jovem não pôde voltar para casa naquela noite.” (Testemunhos Para a Igreja, vol. 1, p. 44 e 45).

Indisposição para crer

Embora a família envolvida aceitasse aquele fato como uma manifestação do poder do Espírito de Deus, havia, contudo, resistência em crer que era o poder divino que algumas vezes se manifestava sobre Ellen, retirando dela sua força natural e enchendo sua alma com a paz e amor de Jesus. Consideravam-na como uma iludida e influenciada por excessos de sentimentalismo. Isto deixou Ellen em grande perplexidade, e ansiosamente buscou ao Senhor. Relata alguns dias depois daquilo: “Enquanto estávamos curvados diante do Senhor, meu coração se abriu em oração e se encheu com a paz que só Cristo pode proporcionar. Eu me regozijava no amor do Salvador e minhas forças desapareceram. Com fé semelhante a de uma criança eu apenas pude dizer: ‘O Céu é meu lar e Cristo é o meu Redentor.’ “Alguém da família antes mencionada que era contra as manifestações do poder divino em mim, nessa ocasião afirmou crer estar eu sob incitamento, e achava ser meu dever dominá-lo. Mas, pensava ele, em lugar de fazer isso eu estava incentivando essas emoções como evidência do favor divino. Suas dúvidas e oposição não me afetavam mais, pois parecia estar escudada pelo Senhor e erguida acima de todas as influências exteriores. Ele, porém, mal acabara de falar, quando um homem forte, um consagrado  e humilde cristão, foi prostrado por terra pelo poder de Deus, diante de seus olhos, e a sala encheu-se com a presença do Espírito Santo. “Depois de ele se recuperar, eu estava muito feliz por dar meu testemunho em favor de Cristo e falar de Seu amor por mim. […] “O irmão que se havia oposto a mim ergueu-se, e em lágrimas confessou que seus sentimentos a meu respeito haviam sido equivocados. Humildemente pediu-me perdão e disse: ‘Irmã Ellen, nunca mais porei sequer uma palha em seu caminho. Deus mostrou-me a frieza e obstinação de meu coração, que foram subvertidas pela demonstração de Seu poder. Eu estava muito errado.’ […] ‘Meu coração está convencido de que tenho estado lutando contra o Espírito Santo.’” (Testemunhos Para a Igreja, vol. 1, p. 45-47). Quando se reportava, em 1860, à história de sua vida no livro Spiritual Gifts, vol. 2, recordando o ano de 1843, escreveu: “O Espírito do Senhor muitas vezes agia sobre mim em grande medida. Meu débil organismo não podia suportar o peso da glória que a mente absorvia com avidez, e minha força amiúde me deixava.” (p. 29).

Uma Experiência em Seguida à Primeira Visão

Numa visão que lhe foi dada, provavelmente no principio de 1845, e logo após sua primeira visão, recebida em dezembro de 1844, ela declara: “Minha força me foi retirada e caí ao solo. Parecia-me estar na presença dos anjos.” (Life Sketches, p. 71).

Essas experiências repetiam-se vez após vez. E houve ocasiões em que outros sob a influência do Espírito de Deus, ficaram prostrados. Escrevendo com respeito a uma experiência vivida logo após seu casamento em 1846, estando muito enferma a ponto de os vizinhos julgarem-na às portas da morte, disse: “Muitas orações foram oferecidas ao Senhor em meu favor, contudo pareceu bem ao Senhor provar nossa fé. Após outros terem orado, o irmão Henry [Nichols] começou a fazê-lo. Parecia inteiramente subjugado, e com o poder de Deus jazendo sobre si, ergueu-se de sobre os joelhos, atravessou o quarto e, depondo as mãos sobre minha cabeça, disse: ‘Irmã Ellen, Jesus Cristo a torna sã’. A seguir, caiu prostrado pelo poder de Deus. Acreditei que aquilo fora obra de Deus e a dor me deixou.” (Spiritual Gifts, vol. 2, p. 84). Pouco depois desse incidente, o Sr. e a Srª. Ralph também foram prostrados: “No domingo passado estávamos em casa do irmão Ralph e orávamos para que o Senhor nos instruísse de modo especial sobre se deveríamos mudar-nos para Nova Iorque ou permaneceríamos em Connecticut. O Espírito veio, e tivemos uma poderosa  manifestação. O irmão e a irmã Ralph ficaram ambos prostrados e permaneceram dominados por algum tempo.” (Carta 1, 1848).

Expressando Louvores a Deus

Nos primórdios de 1850, o segundo filho de Tiago e Ellen White, James Edson, de apenas seis meses de idade, encontrava-se muito enfermo. Eis o relato que fez Tiago White: “O bebê estava doente e Ellen o ungiu e orou por ele. O poder veio mais e mais e todos clamamos e louvamos ao Senhor até quanto nos demos conta. Nesse estado de espírito entre nós, Ellen foi tomada em visão.” (Carta de Tiago White para Leonardo Hastings, 10 de janeiro de 1850). No transcorrer do ano, por ocasião de uma assembléia realizada em Paris, Maine, os crentes manifestaram seu júbilo em altos louvores a Deus. Ellen White rememora a experiência numa carta escrita a 7 de novembro: “Nossa assembléia de Topsham foi de profundo interesse. Vinte e oito pessoas fizeram-se presentes e todas participaram da reunião. “No domingo, o poder de Deus veio sobre nós como um poderoso vendaval. Todos se levantaram sobre os pés e louvaram a Deus em alta voz. Foi algo semelhante à ocasião em que os fundamentos da casa de Deus foram lançados. As vozes de choro não podiam ser discernidas das vozes de júbilo. Foi uma ocasião triunfante; todos foram fortalecidos e refrigerados. Nunca testemunhara antes uma tal exibição de poder.” (Carta 28, 1850). Os registros, publicados e não publicados, em anos subsequentes, indicam que, em certas ocasiões de especial derramamento do Espírito de Deus, os santos uniam-se em expressões de louvor a Deus.

Manifestações em línguas desconhecidas

Há em nossa história dos primeiros tempos, quatro experiências registradas quanto ao falar em línguas. A primeira teve lugar em 1847, aparentemente com o fim de conduzir um jovem ao ministério. A segunda, em 1848, envolve um ponto doutrinário. A terceira, em 1849, representou direção para o esforço missionário, e a quarta, em 1851, refere-se a um relato descrevendo o testemunho do Espírito Santo quando manifestava “a presença e poder de Deus”.

O incidente envolvendo um ponto doutrinário será analisado posteriormente nesta série. No presente artigo, cuidaremos das demais três experiências com mais pormenores. Dois nomes figuram com destaque nas primitivas experiências de línguas – Ralph e Chamberlain. As primeiras experiências de glossolalia de que temos registro estão relatadas num depoimento assinado por crentes pioneiros de inquestionável integridade, conhecidos por sua respeitabilidade como membros de responsabilidade na igreja.

“Dom de línguas”

“Nós também podemos testificar da manifestação do dom de línguas. Ao nos acharmos numa reunião em North Paris, Maine, talvez em 1847 ou 1848. Foi uma reunião geral. O irmão e a irmã White estavam presentes e também os irmãos Ralph e Chamberlain, de Connecticut, bem como outros. Ao desenvolver-se a reunião, o Espírito de Deus manifestou-se numa maneira especial. O irmão Ralph falou numa língua desconhecida. Sua mensagem foi dirigida ao irmão J. N. Andrews: de que o Senhor o chamara para trabalhar no ministério evangélico e de que precisava preparar-se para isso. O irmão E. L. H. Chamberlain imediatamente levantou-se e interpretou o que ele havia dito.” (Srª. S. Howland, Srª. Frances Howland Lunt, Srª. Rebeckah Howland Winslow, N. N. Lunt, Battle Creek, Michigan dos arquivos de documentos do Patrimônio Literário Ellen G. White, n.º 311).

A terceira experiência de línguas, em 1849, envolvia esforço missionário pessoal. Hiram Edson narra sua experiência com S. W. Rhodes em Present Truth (dezembro de 1849) poucos dias após o incidente: “S. W. Rhodes havia trabalhado diligentemente no grande despertamento adventista sob a liderança de Guilherme Miller. Era um homem de recursos, mas dedicara seus bens materiais à proclamação da mensagem. Quando o tempo do ansiado advento de Cristo passou, Rhodes ficou humilhado. Isolou-se do contato público, escondendo-se nas florestas do Estado de Nova Iorque. Manteve-se por meio da caça e da pesca além de conservar uma pequena horta. Hiram Edson conhecia seu paradeiro, e por duas ocasiões viajou a pé até seu esconderijo tentando persuadir Rhodes a unir-se a seus irmãos. Ambas as tentativas foram inúteis. No dia 7 de novembro de 1849, Edson pela terceira vez tentou salvar o irmão Rhodes. Após caminhar 14 milhas (aproximadamente 22 km), sentiu-se constrangido a retornar, ao ser impressionado de que a ocasião não era oportuna. Com este assunto tendo prioridade em sua mente, o irmão Edson assistiu a uma assembléia realizada em Centerport, Nova Iorque, no sábado e domingo, dias 17 e 18 de novembro de 1849. Ali encontrou os irmãos Ralph e Belden vindos de Connecticut, e Tiago e Ellen White, do Maine. O relato é de que a reunião foi “uma ocasião de refrigério”.

Ao final da Assembléia, Edson apresentou o caso de Rhodes a Ralph e descobriu que tanto ele como Ralph estavam individualmente impressionados de que tinham um trabalho para fazer juntos. Naquela noite, umas seis pessoas reuniram-se para orar a respeito do caso de Rhodes. O irmão Edson refere: “O irmão Ralph pediu ao Senhor, em segredo, que derramasse Seu Espírito sobre nós e, caso fosse Sua vontade, que procurássemos o irmão Rhodes. “O Espírito foi derramado, e permaneceu entre nós, de modo que o ambiente ficou tremendo e glorioso. Enquanto inquiria o Senhor se Ele enviara Seu servo até ali para que fosse comigo em busca do irmão Rhodes, nesse instante o irmão Ralph manifestou-se numa nova língua, desconhecida de todos nós. Depois veio a interpretação. ‘Sim, para ir contigo.’” (Present Truth, dezembro de 1849, p. 35). Era, contudo, sabido pelo grupo, que nem Tiago, nem Ellen White tinham confiança na sensação experimentada por Rhodes; ademais, Ellen White fora explícita em sua advertência a Ralph, “para ter certeza de obter um claro dever da parte do Senhor”. Ela contou-lhe que julgava serem de mera simpatia os sentimentos de Edson com respeito a Rhodes. Edson continua a história: “Na manhã seguinte tivemos um período de oração, e o Espírito foi ricamente derramado, e o Senhor deu à irmã White a seguinte visão, que contrariava sua opinião e sentimentos anteriores com relação à nossa ida em busca do irmão Rhodes, até que o Espírito a arrebatasse em visão.” (Present Truth, dezembro de 1849, p. 35). Na descrição da visão, quase uma coluna inteira é utilizada para apresentá-la. Mencionaremos alguns trechos:

“Quando estava em visão, o anjo apontou para a Terra onde vi o irmão Rhodes em grandes trevas; mas ele ainda tinha a imagem de Jesus. Vi que era a vontade de Deus que os irmãos Edson e Ralph fossem após ele. […] Vi que os irmãos Edson e Ralph poderiam fazê-lo crer que havia esperança e misericórdia para ele, podiam atraí-lo e depois ele poderia vir para o rebanho; e anjos assisti-los-iam em sua jornada.” (Ellen G. White, Present Truth, dezembro de 1849).

Pouco depois da visão, os irmãos Edson e Ralph começaram seu trajeto para encontrar Rhodes. Encontraram-no trabalhando num campo às margens do Rio Negro. Disseram-lhe que haviam vindo no nome do Senhor, desejando ter novamente comunhão com ele para que, juntos, pudessem ir para o reino eterno.

Ralph fala em línguas

Houve, mais uma vez, o falar em nova língua. Hiram Edson, uma testemunha visual, relata: “Deus exibiu Seu convincente poder, e o irmão Ralph falou numa nova língua, dando-lhe a interpretação em poder e na revelação do Espírito Santo.” (Present Truth, dezembro de 1849, p. 36). Triunfantemente, Hiram Edson aludiu ao fato: “O irmão Rhodes finalmente consentiu em vir conosco, e saiu arranjando suas coisas a fim de partir. […]. Na sexta-feira, 23 de novembro, retornamos até a casa do irmão Arnold, de Volney. […] Todos se regozijaram por ver o irmão Rhodes.” E o interessante relatório conclui nos seguintes termos: “Ele permanece firme em toda a verdade presente; e todos alegremente desejamos-lhe êxito ao sair para buscar e alimentar o disperso e precioso rebanho de Jesus.” (Present Truth, dezembro de 1849). Com este relato de uma testemunha visual sobre tal experiência, publicado no Present Truth, uma publicação vastamente lida, há um generalizado conhecimento, tanto dentro como fora das fileiras da Igreja Adventista do Sétimo Dia, sobre esta experiência de línguas. Sua autenticidade não é questionada. Não nos é revelado se a “nova língua” falada pelo irmão Ralph foi um idioma conhecido ou não. Um ponto em ligação com esta experiência é de particular interesse, e consiste na indiferença de Ellen White para com a experiência. Mesmo após a demonstração de língua desconhecida, a Sra. White não se convencera de que a tentativa para salvar o irmão Rhodes fora uma providência de Deus e uma empresa justificável. Não até que uma visão lhe foi dada diretamente por Deus, então endossou ela os esforços para recuperar o irmão Rhodes. Este irmão tornou-se um poderoso obreiro na causa de Deus e, no ano seguinte, seu nome apareceu no expediente da Review and Herald como um membro da comissão de publicações. Uma quarta experiência de línguas teve lugar em Vermont no verão de 1851 e é referida na Review and Herald mediante uma carta escrita para Tiago White pela irmã F. M. Shimper. Ela fala da profunda experiência da igreja de East Bethel, no Vermont, e conta que o Senhor havia recentemente enviado “e abundantemente abençoado os labores de Seu servo, irmão Holt, entre nós. Após batizar seis dentre nosso número, nosso querido irmão Morse foi separado com a imposição de mãos, a fim de administrar as ordenanças da casa de Deus. O Espírito Santo testemunhou pelo dom de línguas, e solenes manifestações da presença e poder de Deus. O lugar estava solene, contudo glorioso. Nós sentimos realmente que ‘nunca o vemos deste modo.’” (Review and Herald, 19 de agosto de 1851).

Estudo Bíblico Enfrenta Experiências

Nas quatro experiências registradas sobre a glossolalia nos primórdios da história da Igreja Adventista do Sétimo Dia, a segunda relacionava-se com o desenvolvimento da doutrina. Todo o relato da maneira em que o Senhor dirigiu o Seu povo numa questão doutrinária é digno de pormenorizado estudo. Ao fazê-lo, devemos ter em mente que o Senhor guia Seu povo amante da verdade somente à medida que possam seguir sem que seja abalada sua confiança no que possa ser importante em sua experiência. Ele nunca conduz Seu povo numa maneira que minimize o estudo da Bíblia. Entre os primeiros adventistas, José Bates foi o apóstolo da verdade do sábado. Em agosto de 1846, publicara um livreto de 48 páginas sobre a obrigatoriedade da observância do sábado do sétimo dia. Pelo estudo acurado das evidências escriturísticas irrefutáveis apresentadas nesse livreto, Tiago e Ellen White aceitaram o sábado do sétimo dia, unindo-se a um grupo de quase 50 adventistas observadores desse dia. Eles começavam a observância sabática na noite de sexta-feira. Somente seis ou sete meses depois de terem começado a guarda do sábado é que Ellen White teve uma visão confirmando esta verdade e chamando sua atenção vividamente para a grande importância disso (ver Primeiros Escritos, p. 32-35).

Contudo, embora a evidência bíblica indique claramente que o sábado se inicia na tarde de sexta-feira, o tempo exato não parecia bem definido para os nossos pioneiros. José Bates, o velho capitão do mar, sabendo dos problemas quanto a esta observância baseada no tempo que varia em diferentes regiões do mundo, concluiu que na questão da observância do sábado o “tempo equatorial” deveria ser seguido. Ele, portanto, advogava que o sábado devesse começar às seis horas da tarde na sexta-feira e findar às seis horas da tarde do sábado. (Isto estava em evidente contraste com o sistema normal de calcular o início e fim do dia à meia-noite). Embora houvesse algumas diferenças de opinião entre os crentes sobre quando exatamente deveria começar o sábado, a posição das seis horas da tarde prevaleceu. Em 1848, alguns poucos dentre os adventistas observadores do sábado no Maine, lendo Mateus 28:1: “Ao findar do sábado, ao entrar o primeiro dia da semana”, defenderam a opinião de que o sábado começava e findava ao nascer do Sol. Foi dado a Ellen White uma visão em que ouvia um anjo repetindo Levítico 23:32: “Duma tarde a outra tarde, celebrareis o vosso sábado”. Isto assentou a questão e provava a falácia do tempo do nascer do Sol. Por volta desse tempo, numa reunião em Connecticut, enquanto os adventistas estavam debatendo o problema de quando iniciar o sábado, uma experiência de línguas teve lugar.

Tiago White escreveu: “Tem havido certas divisões quanto ao tempo do início do sábado. Alguns começam ao pôr do sol. A maioria, contudo, às seis da tarde. Há uma semana, fizemos disso um assunto de oração. O Espírito Santo Se manifestou e o irmão Chamberlain ficou repleto de poder. Neste estado, começou a clamar numa língua desconhecida. A interpretação seguiu-se e foi a seguinte: ‘Deem-me um giz, dêem-me um giz’”. “Bem, pensei. Se não houver nenhum na casa, então duvidarei disso, mas num instante um irmão aparecia com um bom pedaço de giz. O irmão Chamberlain tomou-o e, no poder, desenhou uma figura sobre o assoalho. “Isto representa as palavras de Jesus: ‘Não há doze horas no dia? Esta figura representa o dia, ou a última metade do dia. A luz está ao meio [no sentido de tempo de duração] quando o Sol se acha no zênite, isto é – exatamente no centro, entre cada horizonte, às 12 horas da manhã. Assim, percorrendo-se seis horas em cada direção, ter-se-á às doze horas do dia. A qualquer tempo do ano o dia termina às seis horas da tarde. É então que o sábado começa, às seis da tarde. Satanás quis afastar-nos desse tempo. Mas permanecemos firmes no sábado do Senhor como Ele no-lo concedeu a nós e ao irmão Bates.” (Carta de Tiago White para “Meu querido irmão”, 2 de julho de 1848, escrita de Berlim, Connecticut).

Esta experiência teve peso entre os crentes. Eles continuaram a observar o começo do sábado às seis horas. Foi em meio a este contexto geral que Deus proveu algumas diretrizes de longo alcance para Seu povo.

Visão concernente à confiança nas experiências extáticas

Em dezembro de 1850, enquanto em Paris, Maine, assistindo a uma assembléia onde todos os presentes sentiam profunda necessidade do derramamento do Espírito de Deus, foi dada a Ellen White uma visão: “Estávamos unidos em oração a noite passada, para que o Espírito do Senhor viesse sobre nós. Deus ouviu nossos ardentes clamores. Fui tomada em visão. Vi quão grande e santo era Deus. Disse o anjo: ‘Andai cuidadosamente perante Ele, pois é elevado e majestoso e o séquito de Sua glória enche o templo.’ Vi que tudo no Céu estava em perfeita ordem […] (O tópico suprimido não se aplica ao presente estudo]). “Disse o anjo: ‘Contemplai e sabei quão perfeito, quão bela é a ordem no Céu; segui-a’ […]. “Vi que as experiências extáticas corriam o grande perigo de ser adulteradas, e a crença e conhecimento que essas pessoas tinham antes influenciavam, em grande medida, essas práticas. Portanto, não se podia ter confiança implícita nelas. Mas se alguém se achasse insensível a tudo ao seu redor, deveria estar no estado em que Paulo se achava, (não podia dizer se no corpo ou fora dele) e Deus com Ele Se comunicava através de seu anjo – não haveria então perigo algum de engano. “Vi que deveríamos lutar em todo o tempo para estarmos isentos de excitações prejudiciais e desnecessárias. Vi que há grande perigo em deixar a Palavra de Deus para confiar e apoiar-se em experiências extáticas. Vi que Deus Se movia mediante Seu Espírito sobre vossa assembléia em algumas experiências e excitação deles; vi, porém, perigo à frente […].

“Vi que o peso da mensagem agora era a verdade. A Palavra de Deus deveria ser estritamente seguida e soerguida para o povo de Deus. E seria maravilhoso e lindo se o povo de Deus fosse atraído a um canto [lugar] para ver a operação de Deus mediante experiências de visões.” (Manuscrito 11, 1850).

O parágrafo que se segue reitera o pernicioso efeito de depender de experiências de arroubo religioso, especialmente quando na busca de sã doutrina: “Vi em nossa reunião de assembléia, alguns planejarem os trabalhos para que Deus Se manifestasse em experiências extáticas, e os rebeldes fossem expulsos da reunião. Então, pessoas sinceras e conscienciosas começaram a tremer: ‘Tenho medo de ser expulso’, e assim desviavam suas mentes de Jesus e as fixavam neles próprios e em outros, e a reunião os deixava em condição mais baixa do que os havia encontrado. Vi que precisamos tentar elevar nossas mentes acima do eu e fazê-las permanecer em Deus, o Grande e Sublime.” (Manuscrito 11, 1850).

A significação desta visão, dadas em 24 de dezembro de 1850, não pode ser superestimada. É um documento vital. Os crentes estavam orando por um derramamento do Espírito, possivelmente esperando observar alguma demonstração física. Os registros da época revelam uma aceleração em experiências extáticas.

Chegando ao ponto principal, foi-lhe mostrado que, nas experiências carismáticas, havia grave perigo de adulteração, dando-se que a crença anterior da pessoa envolvida, “influenciava, em grande medida, essa prática”. Sendo este o caso, não se podia ter confiança implícita em tais experiências.

Mas havia um meio de comunicação no qual se poderia firmemente confiar, e eram as visões que Deus dava aos profetas, no que “não haveria nenhum perigo de engano”.

Foram-lhe mostrados os possíveis efeitos negativos do excitamento “desnecessário”, e que havia grave perigo de desconsiderar a Palavra de Deus e “confiar nas experiências carismáticas”. Foi-lhe mostrado que havia genuínas experiências nas quais ocorriam provas carismáticas, mas que havia perigo à frente.

Nesta visão, a Palavra de Deus foi exaltada. Quando o povo de Deus se achasse em situações difíceis, Ele daria instrução e guia mediante as visões.

Insistência em mais estudo da Bíblia

Provavelmente a insistência da parte de alguns membros com respeito à questão do tempo de início do sábado, e as repetidas instruções, mediante o dom profético, que os conduziram à Bíblia, levou Tiago White1 em 1855, a instar J. N. Andrews, um jovem ministro residente em Paris, Maine, a levar a cabo uma cuidadosa investigação das Escrituras para encontrar evidência da Palavra de Deus sobre quando o sábado deveria começar. No verão, após várias semanas em cuidadosa investigação da Bíblia, ele demonstrou por nove textos do Antigo Testamento e dois textos no Novo, que o sábado começava ao pôr do sol.

Andrews leu suas conclusões na assembléia de novembro de 1855 em Battle Creek, e, com base na evidência escriturística assim trazida à luz, os presentes aceitaram a responsabilidade de mudar de seis horas da tarde para o pôr do sol o tempo de começar o sábado. A decisão, porém, não foi unânime. José Bates, o membro mais velho do grupo de pioneiros e apóstolo da verdade do sábado discordava. Não se demonstrava disposto a renunciar às suas opiniões fortemente estabelecidas. Ellen White, por seu turno, argumentava que, desde que já vinham observando o sábado daquela maneira por dez anos, por que deveriam agora mudar? Desse modo, uma divisão começou a se fazer notar.

Contudo, ao final da assembléia Ellen White recebeu uma visão na qual lhe foi mostrado que o sábado começa ao pôr do sol. Seu diálogo com o anjo nesta visão é esclarecedor: “Vi que isto era mesmo assim: ‘… Duma tarde a outra tarde, celebrareis o vosso sábado.’ (Lv 23:32). Disse o anjo: ‘Tomem a Palavra de Deus, leiam-na, compreendam-na e vocês não errarão. Estudem-na cuidadosamente, e ali descobrirão o que é tarde e quando começa.’ Perguntei-lhe se o desagrado de Deus esteve sobre Seu povo por iniciarem o sábado como haviam feito. Fui dirigida ao primeiro sábado observado pelos adventistas e acompanhei o povo de Deus até nossos dias, mas nada constatei que pudesse trazer sobre eles o desagrado divino. Indaguei porque as coisa haviam ocorrido dessa maneira e por que precisávamos mudar agora o tempo de início do sábado. Disse o anjo: ‘Vocês entenderão, mas não ainda, não ainda.’ E disse mais: ‘Se houvesse luz a respeito e essa luz fosse rejeitada, então haveria condenação e o desagrado divino, mas antes que a luz venha não há pecado, pois não existe luz rejeitada.’ Vi que alguns achavam que o Senhor havia mostrado iniciar-se o sábado pontualmente às seis horas da tarde, quando, na verdade, eu apenas vira que ele começava à ‘tarde’ e eles deduziram que ‘tarde’ significava às seis horas. Vi que os servos de Deus precisam unir-se e consolidar-se.” (Testimunhos Para a Igreja, vol. 1, p. 116). Dois pontos salientam-se: Primeiramente, os crentes deveriam dirigir-se à Palavra de Deus para orientar-se em assuntos de doutrina. Em segundo lugar, deveriam marchar unidos. Em anos subsequentes, Tiago White usou esta experiência para ilustrar o lugar do dom de profecia na igreja. O dom não deveria ir adiante do estudo da Bíblia, mas tinha o seu lugar em salvaguardar a igreja e confirmar a verdade. A Bíblia sempre deveria situar-se em posição elevada, sua autoridade nunca ficar subordinada aos sentimentos ou experiências extáticas.

Não há registro de Ellen White dando explícito apoio, ou expressando endosso a experiências extáticas com línguas desconhecidas, embora fosse testemunha visual de três dentre quatro de tais ocorrências. Ela provavelmente se manteve em silêncio ao acompanhar o desenrolar do caso do irmão Rhodes. Mesmo o falar em línguas pelo irmão Ralph não logrou convencê-la. Posteriormente, foi-lhe mostrado que o pensamento e sentimentos de uma pessoa têm grande influência sobre essas experiências. Ao delinear os eventos que conduziram à posição bíblica quanto ao tempo para iniciar o sábado, saltamos cinco anos além da visão de 1850, a qual advertia dos perigos advindos de se confiar desordenadamente em manifestações extáticas. Outras visões se seguiram e revelaram claramente que um espírito outro que não o Espírito Santo podia, em grande escala, afetar os sentimentos. Na visão de 1851 ela descreveu a experiência de certas pessoas que, independentemente de seu conhecimento, estavam sob a influência de um “espírito não santificado”, e declara que “tal espírito agia fortemente sobre os sentimentos, e esses sentimentos, muitos deles, ainda são considerados como sagrados, como [motivados pelo] Espírito Santo.” (Carta 2, 1851).

Além da dependência sobre sentimentos e experiências como a de línguas estranhas, havia perigo de falsa direção também nas prostrações.

Satanás opera em muitas maneiras

“Vi que Satanás estava operando por intermédio de instrumentalidades de diferentes maneiras. Estava operando por meio de ministros que rejeitaram a verdade e estão se entregando à operação do erro, para crerem na mentira e serem condenados. Enquanto estavam pregando ou orando, alguns caíram prostrados em abandono, não pelo poder do Espírito Santo, mas pelo poder que Satanás proporcionou a esses instrumentos, e por meio deles ao povo.” (Primeiros Escritos, p. 43, 44). Em anos posteriores, Ellen White advertiu sobre contrafações em experiências estáticas: “…onde quer e quando quer que o Senhor opere no conceder genuína bênção, revela-se sempre também uma falsificação, de modo a anular a obra verdadeira de Deus. Devemos, portanto, ser extremamente cuidadosos, e andar humildemente diante de Deus, para que possamos ter o colírio espiritual e distinguir a operação do Espírito  Santo de Deus da manifestação daquele espírito que quer introduzir desenfreada licença e fanatismo. “Pelos seus frutos os conhecereis.” (Mt 7:20). Os que estão realmente contemplando a Cristo serão transformados à Sua imagem, como pelo Espírito do Senhor, e crescerão à plena estatura de homens e mulheres em Cristo Jesus. O Espírito Santo de Deus inspirará aos homens amor e pureza; e manifestar-se-á refinamento em seu caráter.” (Mensagens Escolhidas, vol. 1, p. 142).

Em Face do Falso

Deus não deixa Seu povo ao poder enganador de Satanás sem um objetivo. Há uma causa para isto. Esta causa deveria ser investigada com o mais profundo sentimento de humildade para que um segundo engano não se siga, pior que o primeiro.

Encontros face a face com falsas experiências carismáticas exerceram forte influência modeladora sobre nossos pioneiros. O irmão Loughbough relembra um incidente ocorrido durante a primeira visita dos White em Michigan em 1853. Deveriam, como o irmão Loughborough, realizar reuniões em quatro ou cinco lugares, como sejam Tyrone, Jackson, Bedford, Battle Creek e Vergennes, onde havia grupos de crentes. Numa visão, logo após chegarem em Michigan, foram mostradas a Ellen White certas pessoas e certos grupos de irmãos que se deveriam reunir em conexão com o itinerário deles. Quando ela escreveu a respeito disto, pediu ao irmão Loughborough que lhe tirassem uma cópia. Seu trabalho em copiar o material causou-lhe profunda impressão. Leu a respeito de uma mulher que exercia considerável influência entre os adventistas observadores do sábado de sua comunidade, mas que não passava de uma impostora, e que quando reprovada, levantar-se-ia dizendo: “Deus conhece meu coração.” Chegando a Vergennes alguns dias depois, Ellen White reconheceu o lugar como aquele onde deveria encontrar a impostora. Também reconheceu os crentes, ao chegarem em seus carroções para os serviços religiosos do sábado de manhã. Ela assinalou para os que estavam próximos a si que aqueles da primeira carroça não tinham simpatia pela mulher enquanto outro grupo tinha, e ainda outro estava dividido, e assim por diante. Enquanto Tiago White falava, uma mulher de notável porte entrou acompanhada de dois homens. Estes caminhavam para frente enquanto ela se assentava próximo à porta. Ellen White logo teve oportunidade de falar, tão logo o esposo terminou. Como introdução a suas considerações, exortou os ministros a serem cuidadosos a fim de não macularem a obra de Deus. Disse que Deus não chamaria uma mulher para viajar pelo país em companhia de um homem que não fosse seu esposo. Finalmente, disse (conforme o relato do irmão Loughborough): “Aquela mulher que está ali, sentada perto da porta, professa ter sido chamada por Deus para pregar. Ela está viajando com este rapaz que está sentado bem aqui em frente da plataforma, enquanto esse velho homem, seu esposo – Deus tenha misericórdia dele! – fica em casa trabalhando para obter meios que eles estão usando para levar avante sua iniquidade. Ela pretende passar por muito santa – ser santificada. Com todas as suas pretensões e discursos a respeito de santidade, Deus me mostrou que ela e este rapaz têm violado o sétimo mandamento.” (Review and Herald, 6 de maio de 1884). Todos se volveram em direção à mulher imaginando qual poderia ser sua resposta. Após quase um minuto ela se pôs em pé, e com uma aparência de grande santidade, disse: “Deus conhece meu coração”. Estas palavras eram precisamente aquelas que foram preditas na visão de duas semanas antes. Durante um intervalo à hora do almoço na casa onde os White e o irmão Loughborough estavam hospedados, a sra. White recebeu outra visão. Ao sair da visão, relatou mais alguns pormenores do que o Senhor lhe havia mostrado com respeito à mulher sobre quem se focalizara a atenção: “Esta mulher professa falar em línguas [disse Ellen White], mas está equivocada. Ela não fala as línguas que declara falar. Na verdade, não fala em língua nenhuma. Se todas as nações da terra estivessem reunidas, e pudessem ouvi-la falar, nenhuma delas saberia o que ela diz; pois tão somente apresenta uma algaravia sem nexo.” Review and Herald, 10 de julho de 1884. Imagine-se a surpresa do irmão Loughborough ao retornar ao local da reunião e encontrar uma mulher falando no que dizia ser um dialeto da tribo indígena de Garlic, das proximidades. O que o irmão loughborough ouviu foi: “Kene, keni, kene, keno, kene, kene,” etc. (Review and Herald, 10 de julho de 1884). Numa reunião que realizou no dia seguinte, essa mulher falou sobre o tema da santidade, e durante seu discurso expressou-se novamente numa língua desconhecida. Um índio que havia sido convidado para vir ouvi-la falar sua língua levantou-se de um salto declarando: “Isso é muito mau linguagem de índio! Muito mau linguagem de índio!” Quando indagado sobre o que a mulher dissera, declarou: “Nada; ela não fala língua de índios”. Poucos dias depois, na presença de um intérprete indígena que conhecia 17 daqueles idiomas, ela falou e orou em sua algaravia, mas ele declarou que não proferira uma só palavra de qualquer idioma indígena. Sua influência teve pouca duração, não só por causa desta experiência, mas porque se descobriu que o homem com quem viajava e vivia não era seu marido. Isto foi confessado a tempo.

A experiência de Wisconsin

A segunda experiência envolvendo manifestações carismáticas espúrias teve lugar na região central de Wisconsin em 1860 e 1861. Estiveram envolvidos T. M. Steward e esposa, crentes pioneiros naquele Estado, que alcançaram certa posição de liderança, e um certo Salomão Wellcome e família. A família Wellcome, adventistas do primeiro dia, procedentes do Maine, havia-se estabelecido em Wisconsin pelo fim de 1840. Em meados de 1850, dois filhos aceitaram a verdade do sábado, e começaram a pregar suas novas convicções. Salomão Wellcome logo travou relações com T. M. Steward. Desde o início fez-se claro que Wellcome abrigava falsas opiniões com respeito à santificação: “Foi-me mostrado que o pastor K [Salomão Wellcome] se encontrava em terreno perigoso. Ele não está em união com o terceiro anjo […]. Ele trouxe consigo uma teoria metodista de santificação, e apresenta-a, dando-lhe maior importância. E as sagradas verdades próprias para este tempo são por ele tidas em pouca consideração. […] Satanás lhe tem dominado a mente, e ele tem ocasionado grande dano à causa da verdade no norte de Wisconsin.” (Testemunhos Para a Igreja, vol. 1, p. 335). Precisamente o que estava envolvido nesta falsa santificação Ellen White não revelou. Há um interessante registro histórico descrevendo experiências extáticas que estavam tendo lugar numa igreja metodista naquela área por volta daquele tempo:  “Alguém começa a suspirar daqui um ‘ah’ e outro dali um ‘oh’. E esses ‘ahs’ e ohs’ tornam-se crescentemente mais fortes e numerosos até que toda ordem e calma parecem ter sido desprezadas. Eu deveria dispor de, pelo menos, uns 30 olhos ou ouvidos para poder ver todas aquelas gesticulações e ouvir todos os gemidos de devoção. […] Uma mulher arrancou seu chapéu da cabeça, atirou-o longe e desgrenhou os cabelos. […] Acolá uma mulher olhando em direção ao alto, apoiava as mãos sobre o peito, como se nada mais do que emoção espiritual nela houvesse, e proferia as palavras: ‘Vem, meu Jesus, vem meu querido Jesus, meu querido amante’, etc. Aqui e ali alguém pronunciava somente as sílabas ‘Ji! Ji!’ saltando no assento toda vez, como se houvesse sido picado por uma vespa. […] Um correu para frente e caiu ao chão enquanto vários outros dançavam ao seu redor como se estivessem possessos e clamavam: ‘O Espírito o dominou! Ele recebeu o Espírito Santo’, etc.” (Wisconsin Magazine of History, junho de 1942, p. 463-465).2 Após tomar conhecimento do crescente espírito de fanatismo em Wisconsin, Tiago White deixou sua esposa com um filho recém-nascido, John Herbert, em Battle Creek a fim de visitar a igreja de Mauston e outros grupos. Ele não foi bem recebido, e a publicação de seus sentimentos de apreensão quanto ao futuro da igreja em Wisconsin é significante: “Pensamos ser nosso dever declarar algo sobre o aparecimento desta obra aqui, a qual é chamada por alguns de ‘A Reforma’, mas para nós mais parece uma deformação… “Enquanto estávamos pregando, uma irmã interrompeu numa exclamação de oposição, e assim tivemos que esperar algum tempo até que parasse. Foi com dificuldade que concluímos a pregação… “Esta chamada reforma tem estabelecido alguns decretos muito importantes. É dito que um ou mais têm o espírito de profecia, e que têm visto coisas do mais profundo interesse. Por exemplo, o grupo de observadores do sábado que mantém a Review tem recebido epítetos vários, como ‘Advento’, ‘Babilônia’, ‘Caído’, ‘Organização’. Isto é muito significativo para carecer de mais comentários. Também [dizem] que os escritos da irmã White, com exceção do primeiro livreto, estão todos errados. […] Deixamos estes queridos e enganados amigos com nossa comiseração e nossas orações.” (Review and Herald, 13 de novembro de 1860). Primeiramente, Steward e seus mais íntimos associados responderam apenas parcialmente aos apelos e argumentos de Tiago White. Mas, não demorou muito, tornou-se claro que aquilo que era atribuído a Deus originara-se com o grande adversário. A Review and Herald de 22 de janeiro de 1861 trazia uma declaração intitulada “Um Engano Confessado” escrita por T. M. Steward: “A todos os queridos santos espalhados por vários lugares: “Quanto à pergunta que me tem sido repetidamente feita pelos que me escrevem, ‘Qual é a natureza da obra de Mauston?’ Gostaria de agora apresentar minha opinião a respeito. Ademais, sinto ser meu dever fazê-lo. Sinto estar inteiramente preparado para tanto, e minha oração é que o Senhor nos salve de todos os enganos de Satanás nestes últimos dias. “Estais bem cientes de que a obra havia começado há pouco quando o irmão White ali esteve, e, logicamente, eu não havia ainda me decidido. Roguei-lhes que me deixassem só até que houvesse investigado a questão para total elucidação. Tinha razões para duvidar, mas queria submetê-la a uma prova completa. “A razão por que advogava tal atitude não era por teimar quanto a ela, mas porque eu não podia ver nada menosprezado sem ter os sentimentos afetados. Às vezes descobria faltas, mas depois procuravam-nas justificar, dizendo: ‘Tudo será tornado claro no futuro’, o que me fazia procurar demonstrações mais claras.

Lutas com a dúvida

“Às vezes eu expressava dúvidas e a resposta vinha – ‘Não duvides’. Assim, tive que desistir disso por um tempo. Então, tentava ponderar sobre o caso e aconselhava-os a deixarem o bom senso decidir. Mas então mostravam-me que me achava sob terrível juízo e tentação. Desse modo, pensei finalmente em deixar que tudo viesse à tona por si.” Depois, Steward debateu com alguns daqueles que estavam envolvidos nessas experiências, sobre as visões que alegavam ter tido, e como tais visões poderiam estar em harmonia com a Mensagem: “Tínhamos, como imaginávamos, muitos dos dons. Eu, porém, não estava satisfeito com a maneira em que se manifestavam. Na noite de 2 de janeiro, contudo, enquanto estava em Portage, começou a revelar-se um novo fenômeno, e todos quantos estavam reunidos e sob sua influência, perderam completamente o controle de si (ou submeteram-se a fim de serem controlados pelo poder invisível), e as cenas que se seguiram não as posso descrever. Encontrava-me distante, em Cascade, realizando reuniões, tendo partido um dia antes. “Estas cenas começaram na casa do irmão Billings, onde se achavam presentes minha esposa, a irmã Kelley e o irmão e irmã Billings. Tais cenas prosseguiram até a noite posterior ao sábado, quando então se convenceram tratar-se de um engano. Agora somos unânimes em atribuir tal obra ao inimigo. Livre e completamente a denunciamos. Eu amo as verdades da mensagem do terceiro anjo como sempre, e desejo advogá-lo perante o mundo. “Irmãos, estai atentos para com os fortes enganos desses últimos dias! Este esboço vos dará nossos pontos de vista com respeito à natureza do assunto.” (Review and Herald, 22 de janeiro de 1861). Quando Tiago White recebeu este relatório ficou alegre em saber que o fanatismo havia cessado, ou pelo menos assim parecia, e acrescentou à confissão suas próprias observações: “Nota: Não é coisa de pouca importância cair sob os grandes enganos de Satanás, especialmente quando as pessoas passam por experiências carismáticas em que têm o corpo e a mente dominados pelo que imaginam ser o Espírito Santo. Tais pessoas perdem o equilíbrio e o seu discernimento quanto a coisas espirituais de tal modo que raramente os recuperam. Durante os quinze anos passados temos observado a experiência cristã desses, e em nenhuma oportunidade temo-los visto seguirem uma rota serena de modo a exercerem uma influência benfazeja, a menos que tenham escolhido uma posição humilde na igreja dependendo mais do julgamento daqueles que têm tido uma boa experiência do que sobre o seu próprio.  “Deus não permite que Seu povo seja submetido ao poder enganador de Satanás sem uma finalidade. Há uma causa para isso. Esta causa deveria ser investigada com o mais profundo sentimento de humildade, para que não aconteça que um segundo engano surja causando maior dano do que o primeiro. O grande objetivo de Satanás neste engano ocorrido no norte de Wisconsin sem dúvida teve por mira fazer com que o tema da perpetuidade dos dons espirituais caísse em desgraça e fosse objeto de dúvida. Um extremo é geralmente seguido de outro. E seremos grandemente surpreendidos se não descobrirmos que aqueles que estiveram sob o espírito do erro e do fanatismo abandonaram inteiramente a questão dos dons espirituais, erro este que será mais fatal do que o primeiro.” (Review and Herald, 22 de janeiro de 1861).

Embora o fanatismo haja cessado, a igreja ainda sofreu as consequências por alguns anos. Os Steward, que precisaram de algum tempo para se recuperar totalmente, tornaram-se finalmente obreiros de confiança. A filha da família, Maria, trabalhou por muito tempo como revisora na Review and Herald e como secretária da Srª. White.

O Dom de Línguas em Portland, Maine

Têm uma algaravia sem sentido a que chamam língua desconhecida, desconhecida não só ao homem, mas ao Senhor e a todo o Céu. A terceira experiência dos tempos primitivos que Ellen White comenta em espaço considerável passou-se em Portland, Maine, nos anos de 1864 e 1865. Ao que parece, Portland, local onde Ellen White recebera a primeira visão, tornou-se alvo especial do inimigo. Por anos a obra fora enfraquecida por manifestação de fanatismo. Um desses episódios teve lugar em meados de 1860 envolvendo um tal S. C. Hancock. Era ele um observador do sábado, mas se envolvera profundamente com experiências carismáticas, particularmente ligadas a línguas. Na Review and Herald de 14 de março de 1865 há uma breve nota em que uma certa Srª. D. A. Parker, de Portland, Maine, descreve sua experiência. Ela reporta-se a 1854, quando de um movimento de marcação de data. Foi por esse tempo que ela ouviu a doutrina do advento e, em suas palavras, “alegremente acatei a opinião de que Jesus voltaria no outono de 1854”. Esse movimento com base em tempo, porém, provou-se inconsistente e falso. A Srª. Parker narra a história: “Por essa ocasião um grupo surgiu advogando possuir a verdadeira luz sobre o ‘levantar-se e preparar as lâmpadas’, ‘a chuva serôdia’, e ‘a restauração dos dons na igreja’. Pesquisei as Escrituras e verifiquei que os dons eram para a igreja, e crendo que éramos o povo de Deus, aderi inteiramente ao movimento e recebi pouco depois o que cria na realidade ser o ‘dom de línguas’, e sinceramente segui neste rumo até cerca de seis meses atrás, quando em minha mente surgiram dúvidas a respeito da genuinidade daquilo tudo. Havia algumas coisas que me pareciam às vezes bastante estranhas. Ouvia coisas em ‘línguas’ em que não confiava, e após constatar os resultados, ficava ainda mais abalada em minha posição. “Em nossa assembléia em Portland, há aproximadamente três meses, cheguei a ficar completamente desgostosa com nossa posição. […] “Descreverei alguns dos cultos: falar em línguas, dançar no Espírito e contorcer-se no Espírito. Eu concordava plenamente com as línguas, mas não com aquelas danças e contorções, que eram práticas peculiares ao irmão Hancock.  “Poderia falar muito mais, porém isto é suficiente. Posso agora dizer que sou grata por meus olhos se terem aberto para ver esses enganos que compartilhei em parte desde 54; pois partilhava das mesmas opiniões e sentimentos daqueles com quem me unira.” (p. 116, 117). Dentro deste contexto histórico, volvamo-nos agora a Testemunhos Seletos, vol. 1, onde Ellen White tece comentários referentes ao que se passou em Portland: “Algumas dessas pessoas têm formas de culto a que chamam dons, e dizem que o Senhor os pôs na igreja. Têm uma algaravia sem sentido a que chamam língua desconhecida, desconhecida não só ao homem, mas ao Senhor e a todo o Céu. Tais dons são manufaturados por homens e mulheres ajudados pelo grande enganador. O fanatismo, a exaltação, o falso falar línguas e os cultos ruidosos, têm sido considerados dons postos na igreja por Deus. Alguns têm sido iludidos a esse respeito. Os frutos de tudo isto não têm sido bons. ‘Pelos seus frutos os conhecereis.’ (Mt 7:20). O fanatismo e o ruído têm sido considerados indícios especiais de fé. “Algumas pessoas não se satisfazem com uma reunião, a menos que experimentem momentos de poder e de alegria. Esforçam-se por isso, e chegam a uma confusão dos sentimentos. A influência dessas reuniões, porém, não é benéfica. Ao passar o auge do sentimento, essas pessoas imergem mais fundo que antes da reunião, pois sua satisfação não proveio da devida fonte. As mais proveitosas reuniões para o bem espiritual são as que se caracterizam pela solenidade e o profundo exame do coração, cada um procurando conhecer-se a si mesmo e, com sinceridade e profunda humildade, buscando aprender de Cristo. … [“De acordo com a luz que Deus me concedeu, haverá ainda uma grande classe suscitada no Leste que obedecerá à verdade. Aqueles que seguem no rumo desviado que escolheram, serão deixados a admitir erros que finalmente provocarão sua ruína; mas por algum tempo serão pedras de tropeço para aqueles que receberiam a verdade.3]”.

“Os pastores que trabalham na palavra e na doutrina devem ser obreiros competentes, e apresentarem a verdade em sua pureza, todavia com simplicidade. Devem alimentar o rebanho com forragem limpa, cabalmente joeirada. Há estrelas errantes que professam ser ministros enviados por Deus, os quais andam pregando o sábado de lugar em lugar, mas que têm a verdade misturada com o erro, e estão lançando ao povo a massa de seus discordantes pontos de vista. Satanás os empurrou para dentro a fim de causar desagrado aos inteligentes e judiciosos que não são membros. Alguns desses têm muito a dizer sobre os dons, e são muitas vezes especialmente agitados. Entregam-se a sentimentos desordenados e produzem sons ininteligíveis, a que chamam o dom de línguas, e certa classe parece encantada com essas estranhas manifestações. Reina entre essa classe um espírito estranho, que subjuga e passa por cima de quem quer que os reprove. O Espírito de Deus não está nessa obra e não acompanha a tais obreiros. Eles têm outro espírito. Todavia, esses pregadores têm êxito entre certa classe. Isto, porém, aumenta grandemente o trabalho dos servos a quem Deus enviou, os quais se acham habilitados a apresentar perante o povo o sábado e os dons em seu devido aspecto, e cuja influência e exemplo são dignos de imitação.” (p. 161, 163)

E depois, Ellen White comenta: Alguns se regozijam e exultam em possuir os dons que os outros não têm. “Que Deus guarde Seu povo de tais dons.” (p. 167). Pergunta a seguir se eles “mediante o exercício desses dons, [são] levados à unidade da fé?”, e se “convencem os descrentes de que Deus está em verdade com eles?” Suas observações subsequentes são significantes: “Quando esses dissidentes, sustentando suas várias ideias, se reúnem e há considerável agitação, e língua desconhecida, fazem sua luz brilhar de tal modo, que os descrentes dizem: Esta gente não está em seu juízo; são levados por um falso reavivamento, e conhecemos que não possuem a verdade. Esses tais colocam-se diretamente no caminho dos pecadores; sua influência é eficaz em impedir outros de aceitar o sábado. Essas pessoas serão recompensadas segundo suas obras. Prouvera a Deus que eles se reformassem ou abandonassem o sábado! Assim não se atravessariam no caminho dos descrentes.” (p. 168).

Com este conselho imperativo de Ellen White, baseado nas visões que Deus lhe concedera, logo o fermento de fanatismo entre os observadores do sábado em Portland, Maine, se extinguiu. Não admira, pois, que ao defrontar-se em anos futuros com experiências carismáticas, ela se haja comportado de maneira reservada e cautelosa, procurando apreender os verdadeiros elementos envolvidos.

O caso do sr. Ralph Mackin e sua esposa

Foi o que fez no episódio de 1908 em que o Sr. e Srª. Ralph Mackin apelaram ao seu conselho para esclarecer se sua experiência de falar em línguas e cantar no espírito seriam divinamente inspirados. Com relação a isto, Ralph Mackin insistia com Ellen White para que tornasse clara a questão de conveniência de esperar-se alguma demonstração física em conexão com a obra do derramamento do Espírito de Deus. Citamos sua indagação e a declaração de Ellen White em resposta: “R. Mackin: Em conexão com o recebimento de poder do alto, há uma pergunta que me parece tão pertinente agora como o foi nos dias dos apóstolos – qual é a evidência? Se o recebemos, não se produzirá o mesmo efeito fisiológico sobre nós como se deu naquela ocasião? Pode-se esperar que falaremos conforme o Espírito nos dê palavras.” “Ellen G. White: No futuro teremos sinais especiais da influência do Espírito de Deus – especialmente em ocasiões em que nossos inimigos se mostram mais poderosos contra nós. Virá o tempo em que testemunharemos coisas estranhas; mas exatamente de que maneira – se semelhante a algumas das experiências dos discípulos após terem recebido o Espírito Santo depois da ascensão de Cristo – não posso precisar.” (Manuscrito 115, 1908, publicado na Review and Herald, 17 de agosto de 1972). Pouco depois disso, foi-lhe mostrado em visão que a experiência de Mackin era espúria. É interessante observar que Ellen White, a despeito das muitas e muitas visões que lhe foram dadas através dos anos, e defrontando-se com muitas e muitas experiências, sentia-se incapaz de declarar sem sombra de dúvida que haveria experiências carismáticas, tais como o falar em línguas desconhecidas, em ligação com o derramamento do Espírito – às vezes referido como batismo do Espírito Santo – a experiências carismáticas. Ensinou que a experiência do Pentecostes capacitara os discípulos a falar fluentemente em línguas conhecidas. Isto também se aplica ao episódio registrado em Atos 19:6.

Curas Miraculosas

Quando Cristo enviou seus discípulos “a pregar o reino de Deus e a curar os enfermos” (Lc 9:2), assegurou-lhes que em nome dEle expeliriam demônios, falariam novas línguas, imporiam as mãos sobre os enfermos e curariam tais pessoas (ver Mr 16:17, 18). Antigas fontes de informações sobre os adventistas referiam-se frequentemente a milagres de cura. Certas ocorrências na Igreja, hoje em dia, indicam que o dom de curar ainda está entre nós. Ao examinar os relatos antigos, devemos ter em mente que em meados do século 19 havia grande ignorância a respeito da causa e do tratamento das enfermidades. Desconhecia-se a noção acerca dos micróbios. O ar da noite era considerado deletério. Substâncias tóxicas eram receitadas livremente, ocasionando elevado índice de mortalidade. Se alguém estivesse com febre, o médico extrairia provavelmente cerca de meio litro a um litro de sangue das veias do paciente, pois era voz corrente que a febre denotava excesso de sangue. Desconheciam-se analgésicos. A cirurgia era rudimentar e, quando encerrava certa amplitude, quase sempre era fatal. Quando surgiam epidemias, elas dizimavam a população. Quase todas as espécies de doenças eram motivo de terror. Quando a doença se agravava, dizia-se que o sofredor estava “destinado para a sepultura”. Quão preciosa parecia ser, então, a promessa de Tiago 5, que recomendava a unção com óleo e a oração pela cura, afirmando que “E a oração da fé salvará o enfermo, e o Senhor o levantará.” (v. 15). Relatos da década de 1840 contêm diversas narrativas sobre a maneira em que Deus atendeu as orações durante o desespero, os sofrimentos e as enfermidades daquele período. Por exemplo: num dia primaveril, vários crentes estavam reunidos em Topsham, Maine, no lar de Stockbridge Howland. Sua filha, Frances, estava deitada no quarto de cima, acometida de febre reumática e sob cuidados médicos. Suas mãos estavam tão terrivelmente inchadas que não se podiam distinguir as juntas. Ellen G. White relata o seguinte: “Quando, sentados, falamos de seu caso, o irmão Howland foi interrogado se tinha fé que sua filha poderia ser curada em resposta à oração. Respondeu que procuraria crer que sim, e imediatamente declarou que cria ser possível. “Ajoelhamo-nos todos em oração fervorosa a Deus em favor dela. […] Um dos irmãos presentes exclamou: ‘Há aqui uma irmã que tenha fé para tomá-la pela mão e mandar que, em nome do Senhor, se levante?’

“A irmã Frances estava deitada no quarto de cima, e antes que ele acabasse de falar, a irmã Curtis já se dirigia à escada. Entrou no quarto da enferma, com o Espírito de Deus sobre si, e tomando a doente pela mão, disse: ‘Irmã Frances, em nome do Senhor, levante-se e sare.’ Nova vida atravessou as veias da jovem enferma, fé santa se apoderou dela e, obedecendo-lhe aos impulsos, levantou-se do leito, ficou em pé, e andou pelo quarto, louvando a Deus pelo seu restabelecimento”. (Vida e Ensinos, p. 71). Frances vestiu-se e desceu à sala em que se achavam os crentes, “com o rosto iluminado de indizível alegria e gratidão.” No dia seguinte, ela andou a cavalo quatro e meio quilômetros; e, posto que estivesse chovendo, não lhe adveio disso mal algum, e continuou melhorando. No mesmo relato, Ellen G. White fala de Guilherme Hyde, que se achava gravemente acometido de disenteria. “Seus sintomas eram alarmantes, e o médico declarou que o seu caso quase era desesperador.” (Life Sketches, p. 75).

Pouco depois, os que tinham fé reuniram-se ao lado da cama, implorando que Deus curasse o doente. Ellen G. White acrescenta: “Raras vezes tenho testemunhado tal apego às promessas de Deus. Manifestou-se a salvação do Espírito Santo, e o poder do Alto desceu sobre nosso irmão enfermo e sobre todos os presentes. O irmão Hyde vestiu-se rapidamente e andou para fora do quarto, louvando a Deus e com a luz do Céu estampada no semblante.” (p. 76). Ele sentou-se à mesa com os familiares, comeu com sofreguidão, e Ellen G. White afirma que “seu restabelecimento foi completo e permanente”. Em 1848 Ellen G. White narrou a cura da irmã Penfield, logo após a primeira das conferências sobre o sábado, em Rocky Hill, Connecticut: “Na última quarta-feira, por volta das seis horas da tarde, chegou um irmão de Portland, a uns 18 quilômetros daqui, pedindo que fôssemos orar em favor de sua esposa, pois ela simplesmente estava viva, e isso era tudo! Ficou tão mal que tiveram que chamar um médico. Ele procurou ajudá-la, mas não pôde causar-lhe bem, e disse que ela iria morrer. Consultaram um outro médico mais famoso de Middletown, Connecticut.

“A irmã Penfield recomendara que o marido recorresse ao povo de Deus, e nos mandou buscar. Foi-me um tanto penoso partir para lá, pois estava chovendo e eu me sentira muito fraca o dia todo, mas resolvi ir. Tiago achou que deveria fazer o mesmo. O irmão e a irmã Ralph também foram a pedido daquela irmã. Oramos em seu favor às dez horas da noite, e o seu espírito começou a acalmar-se. Ela estivera em grande agonia, mas nós a ungimos com óleo em nome do Senhor, e então nossas fervorosas súplicas ascenderam a Deus em busca de poder restaurador. “Deus começou a operar, cessou a dor, mas não alcançamos aquela noite a vitória completa que almejávamos. Ela repousou bem à noite, e não sentiu dores. De manhã tornamos a unir-nos em oração em seu favor. O poder desceu como forte vento impetuoso, o aposento encheu-se da glória de Deus, e eu fui absorvida pela glória e arrebatada em visão. Vi a boa vontade de Deus para curar os aflitos e atribulados. […] “A obra sanadora foi efetuada de modo cabal. Ela adquiriu maior vigor físico e mental. […] A irmã Penfield está forte. Louvado seja o Senhor!” (Carta 1, 1848).

Oração pelo milagre de curar

Estes exemplos particulares (de que há muitos outros) ilustram a íntima relação que os crentes primitivos discerniam entre a cura física e o derramamento do Espírito Santo. A conveniência de pedir que Deus opere um milagre para curar os doentes nos tem sido apresentada em muitas mensagens de Ellen G. White. Em 1890 ela aconselhou: “Quanto a orar em favor dos enfermos, é assunto importante demais para que dele se trate de maneira descuidosa. Creio que devemos levar tudo ao Senhor e tornar conhecidas a Deus todas as nossas debilidades, e especificar todas as nossas perplexidades. (…) Se estamos enfermos do corpo, é sem dúvida coerente confiarmos Senhor, dirigindo súplicas ao nosso Deus em nosso próprio caso, e se nos sentirmos inclinados a pedir a outros, em quem confiamos, para se unirem conosco em oração a Jesus, que é o Poderoso Restaurador, por certo nos virá auxílio, se pedirmos com fé. Acho que somos todos muito sem fé, muito frios e indiferentes. “Entendo que o texto de Tiago deva ser posto em prática quando a pessoa está enferma em seu leito, se ela chama os anciãos da igreja, e eles seguem as indicações de Tiago, ungindo o doente com óleo em nome do Senhor, orando sobre ele a oração da fé. Lemos: “A oração da fé salvará o doente, e o Senhor o levantará; e, se houver cometido pecados, ser-lhe-ão perdoados.’ (Tg 5:15). […] “Oh! quão gratos devemos ser por Jesus estar desejoso e ser capaz de levar todas as nossas enfermidades, e fortalecer-nos e sarar todas as nossas doenças, se for para o nosso bem e para Sua glória! “Alguns morreram nos dias de Cristo e nos dias dos apóstolos, porque o Senhor sabia precisamente o que era melhor para eles.” (Medicina e Salvação, p. 16, 17). E em seu popular livro, A Ciência do Bom Viver, Ellen G. White dedica um capítulo inteiro à “Oração pelos Doentes”, em que escreve animadoramente: “’E Ele os livrou das suas necessidades. Enviou a Sua palavra, e os sarou, E os livrou da sua destruição.” (Sl 107:19, 20). “Deus está hoje tão desejoso de restabelecer os doentes como quando o Espírito Santo proferiu estas palavras por intermédio do salmista. E Cristo é agora o mesmo compassivo médico que era durante Seu ministério terrestre. NEle há bálsamo curativo para toda doença, poder restaurador para toda enfermidade.” (p. 225, 226).

Ela deu amplos conselhos sobre a pregação requerida à pessoa enferma e aos que irão orar, sobre a importância de orar em harmonia com a vontade de Deus, e sobre a sensatez de usar os melhores meios terapêuticos disponíveis. Fazer isto não constitui uma negação de nossa fé. Somos admoestados a não depender na doença inteiramente de curas miraculosas. Precisamos fazer tudo o que estiver ao nosso alcance. Devemos estudar a natureza da doença, descobrir sua causa e lutar inteligentemente contra ela, empregando todas as facilidades disponíveis. Se Deus atendesse a todos os pedidos referentes à cura de enfermidades, isto redundaria em presunção. Bem poucos alterariam o sistema de vida que originou a doença. Por este motivo deveriam ser estabelecidas entre nós instituições em que as pessoas não somente pudessem recuperar a saúde mediante tratamento apropriado, mas aprendessem também como evitar a doença.

Curas espúrias

Entretanto, assim como têm sido falsificadas outras bênçãos especiais conferidas pelo Espírito Santo, também há curas miraculosas espúrias. Ellen G. White adverte: “Não nutra ninguém a ideia de que providências especiais ou manifestações miraculosas devam ser a prova da genuinidade de sua obra ou das ideias que defende. […] “Satanás operará de maneira sutilíssima para introduzir invenções humanas revestidas de roupagens angélicas. Mas a luz da Palavra está a resplandecer por entre a escuridão moral; e a Bíblia nunca será suplantada por manifestações miraculosas. A verdade precisa ser estudada, precisa ser pesquisada como tesouros escondidos. Não serão dadas maravilhosas iluminações à parte da Palavra, ou para tomar o lugar dela. Apegai-vos à Palavra, recebei o enxerto da Palavra, que torna os homens sábios para salvação. […] “Será representado e apresentado o admirável, o maravilhoso. Mediante enganos satânicos, maravilhosos milagres, serão instantemente recomendadas as pretensões dos instrumentos humanos. Acautelai-vos de tudo isso. “Cristo deu advertências, de maneira que ninguém necessita aceitar a mentira pela verdade. O único veículo por que o Espírito opera, é o da verdade. […] Nossa fé e esperança fundamentam-se, não em sentimento, mas em Deus.” (Mensagens Escolhidas, vol. 2, p. 48, 49).

Ela explica por que não podemos confiar em milagres hoje em dia, embora Cristo trabalhasse frequentemente por meio de milagres: “A maneira por que Cristo trabalhava era pregar a Palavra, e aliviar o sofrimento por obras miraculosas de cura. Estou, porém, instruída de que não podemos agora trabalhar dessa maneira, pois Satanás exercerá seu poder pela operação de milagres. Os servos de Deus hoje não poderiam trabalhar mediante milagres, pois espúrias obras de cura, pretendendo ser divinas, serão operadas. “Por essa razão o Senhor destinou um meio pelo qual Seu povo deve executar uma obra de cura física, aliada ao ensino da Palavra. Devem estabelecer-se hospitais, e com essas instituições devem estar ligados obreiros que façam genuína obra médico-missionária. Estende-se assim protetora influência em torno dos que vão aos sanatórios em busca de cura.” (Mensagens Escolhidas, vol. 2, p. 54). (itálicos acrescentados) Foram feitas muitas advertências semelhantes a estas: “O homem que torna a operação de milagres a prova de sua fé verificará que Satanás pode, por meio de uma variedade de enganos, efetuar prodígios que parecerão genuínos milagres. […] “Não permitais que passem os dias e preciosas oportunidades sejam perdidas de buscar o Senhor de todo o coração e mente e alma. Se não aceitamos a verdade no amor dela, podemos achar-nos no meio do número dos que verão os milagres operados por Satanás nestes últimos dias, e neles crerão. Muitas coisas estranhas parecerão admiráveis milagres, que deviam ser considerados enganos manipulados pelo pai das mentiras. […] “Homens, sob a influência de espíritos maus, operarão milagres. Eles farão com que as pessoas fiquem doentes mediante lançarem sobre elas encantamentos, removendo-os depois de repente, levando outros a dizerem que a pessoa doente foi miraculosamente curada. Isto Satanás tem repetidamente feito.” (Mensagens Escolhidas, vol. 2, p. 52, 53).

Ninguém necessita ser enganado

Temos a categórica afirmação de que, embora os enganos e as tentações sejam fortes, os que se apegaram à Palavra de Deus estarão seguros: “’A voz dos estranhos” (Jo 10:5) é a voz de alguém que nem respeita nem obedece à santa, justa e boa lei de Deus. Muitos têm grandes pretensões à santidade, e gabam-se das maravilhas que operam curando os doentes, quando não consideram essa grande norma de justiça. Mas pelo poder de quem são essas curas efetuadas? Acham-se os olhos de ambas as partes abertos a suas transgressões da lei? e tomam eles sua posição como filhos humildes, obedientes, prontos a obedecer a todas as reivindicações de Deus? João testifica dos professos filhos de Deus: ‘Aquele que diz: Eu conheço-O, e não guarda os Seus mandamentos, é mentiroso, e nele não está a verdade.’ (I Jo 2:4). “Ninguém, precisa ser enganado. A lei de Deus é tão sagrada como Seu trono, e por ela será julgado todo homem que vem ao mundo. […] “Se aqueles por quem são realizadas curas acham-se dispostos, por causa dessas manifestações, a desculpar sua negligência da lei de Deus, e continuam em desobediência, ainda que possuam poder em qualquer e toda extensão, não se segue que possuam o grande poder de Deus. Ao contrário, é o poder operador de milagres do grande enganador. Ele é transgressor da lei moral, e emprega todo ardil que possa usar para cegar os homens a seu verdadeiro caráter. Somos advertidos de que nos últimos dias ele trabalhará com sinais e prodígios de mentira. E continuará esses prodígios até ao fim da graça, para que os indique como prova de que ele é um anjo de luz e não de trevas. “Irmãos, precisamos acautelar-nos com a pretendida santidade que permite transgressão da lei de Deus. Não podem ser santificados aqueles que pisam essa lei e se colocam como norma por sua própria iniciativa.” (Mensagens Escolhidas, vol. 2, p. 50, 51). Seria possível apresentar este assunto de maneira mais clara? Quão atualizado é esse conselho! Que segurança confere ao povo de Deus!

Ellen G. White e o Batismo do Espírito Santo

Através dos 70 anos de seu ministério para a Igreja Adventista e para o mundo, Ellen White esteve intimamente ligada à obra do Espírito Santo – tão ligada que o espírito concedeu-lhe 2000 visões. Ela pôde declarar, por exemplo: “Enquanto eu estava orando junto ao altar da família, o Espírito Santo me sobreveio…” (Primeiros Escritos, p. 14). Meio século depois, disse: “O Espírito Santo é o autor das Escrituras e do Espírito de Profecia.” (Carta 92, 1900; Notes and Papers, p. 94). Repetidamente falava ela de estar abundantemente imbuída do Espírito, mas não há qualquer registro de ter falado em língua desconhecida ou em qualquer outro idioma que não o inglês. Em artigo anterior, em que examinamos quatro experiências registradas na história da época pioneira da igreja quando ocorreram manifestações de línguas estranhas, não encontramos nenhuma palavra de aprovação da parte de Ellen White, mas tampouco temos qualquer conhecimento de ter ela repudiado tais demonstrações. No que diz respeito à experiência de certos observadores do sábado em Portland, Maine, que estavam exibindo o que consideravam “dom de línguas”, Ellen White caracterizou as manifestações como “algaravia sem sentido […]desconhecida não só ao homem, mas ao Senhor e a todo o Céu”, e como sendo um falso falar em línguas (ver Testemunhos Seletos, vol. 1, p. 161). Escreveu sobre certos observadores do sábado que pareciam fascinados ao se entregarem “sentimentos desordenados e produzem sons ininteligíveis, a que chamam o dom de línguas.” Neste sentido, escreveu ainda: “as impressões e os sentimentos não são seguras provas de que uma pessoa esteja sendo dirigida pelo Senhor. Se não estivermos apercebidos, Satanás dará sentimentos e impressões.” (p. 163). Ao mesmo tempo, através dos anos Ellen White fez repetidas referências à necessidade do Espírito Santo, ao batismo do Espírito Santo, e a experiências em que o Espírito foi derramado. No Comprehensive Index to the Writings of Ellen G. White há 31 referências específicas ao batismo do Espírito Santo. Em nenhum caso ela liga as manifestações extáticas de línguas com o batismo do Espírito, seja numa perspectiva histórica ou profética. Nas declarações referidas nas 29 páginas do Index, dedicadas exclusivamente ao Espírito Santo, não faz qualquer referência a experiências extáticas como sinal de que Deus haja favorecido Seu povo com Seu Espírito. A evidência do verdadeiro batismo do Espírito, reiterava ela, revelar-se-ia por si mesma na crescente união entre os crentes e em nova motivação e capacitação para espalhar a mensagem do evangelho.

O derramamento de Battle Creek

Tendo em vista um incidente ocorrido no Colégio de Battle Creek em 1893 em que ocorrera um derramamento especial do Espírito de Deus, escreveu da Austrália: “Regozijo-me ao ouvir que o Espírito Santo foi derramado sobre nosso povo na  América e tenho aguardado ansiosamente novos acontecimentos na América como os vistos após a descida do Espírito Santo no dia de Pentecostes. Pensei que frutos semelhantes haveriam de ser testemunhados, que o espírito missionário de Deus arderia nos corações de todos a quem o Espírito de Deus estava manifestamente movendo.” (Carta B-9 a, 1893). Ellen White indica claramente os resultados do batismo do Espírito Santo. Note-se o seguinte trecho, escrito em 1887: “Batizados com o Espírito de Jesus, haverá um amor, uma harmonia, uma mansidão, um ocultar do eu em Jesus que a sabedoria de Cristo será dada, o entendimento iluminado; aquilo que parece escuro far-se-á claro. As faculdades serão ampliadas e santificadas. Ele pode conduzir aqueles que está preparando para a trasladação ao Céu a mais elevadas alturas do conhecimento e mais ampla visão da verdade.  “A razão por que o Senhor pode realizar tão pouco em favor daqueles que manejam verdades solenes é que tantos conservam estas verdades apartadas de suas vidas. Conservam-nas em injustiça. Suas mãos não estão limpas, seus corações estão maculados pelo pecado, e se o Senhor operasse por eles no poder de Seu Espírito correspondendo à magnitude da verdade que tem aberto à sua compreensão, seria como se sancionasse o pecado.” (Counsels to Writers and Editors, p. 81). Declarações lindas também aparecem nos Testemunhos: “Imprimam sobre todos a necessidade do batismo do Espírito Santo, a santificação dos membros da igreja, de modo que venham a se tornar árvores da plantação do Senhor, vivas, crescentes e produtoras de frutos.” (Testemunhos Para a Igreja, vol. 6, p. 86). “Deus deseja refrigerar Seu povo pelo dom do Espírito Santo, batizando-os de novo com Seu amor. Não há necessidade de haver escassez do Espírito na igreja. Depois da ascensão de Cristo, o Espírito Santo desceu sobre os discípulos, que com fé e oração O estavam esperando, e desceu com plenitude e poder tais que atingiu todos os corações. Futuramente a Terra há de ser iluminada com a glória de Deus. Santa influência há de irradiar para o mundo, procedente dos que são santificados pela verdade. A Terra há de ser circundada de uma atmosfera de graça. O Espírito Santo há de operar em corações humanos, revelando aos homens as coisas de Deus.” (Testemunhos Seletos, vol. 3, p. 305).

Ellen White descreve os efeitos do batismo do Espírito: “O batismo do Espírito Santo dissipará as imaginações humanas, derrubará as barreiras criadas pelo próprio eu, e fará cessar os sentimentos de ‘eu sou mais santo do que tu’. Haverá um espírito humilde em todos, mais fé e amor; não será exaltado o próprio eu. […] O espírito de Cristo, Seu exemplo serão manifestados em Seu povo. Seguiremos mais estritamente os caminhos e obras de Jesus. […] O amor de Jesus nos permeará o coração.” (Para Conhecê-lo, Meditações Matinais de 1965, p. 114).

Evidências do batismo discerníveis facilmente

Reportando-se a uma reunião campal de 1875, Ellen White disse: “Nossa campal desde seu começo até agora tem sido muito solene e o Espírito do Senhor tem se manifestado numa maneira bastante assinalada nas reuniões sociais e nos cultos. […] “Fiz uma aplicação prática destas palavras [Lc 19:14, 42] ao povo de Deus. O solene poder de Deus estava sobre mim e sobre os ouvintes. Os olhos lacrimosos e os olhares ansiosos revelavam o verdadeiro estado dos sentimentos.” (Carta B-16, 1875).

Descrevendo uma reunião em 1889, escreveu: “Sexta-feira foi um dia precioso. […] Tudo se passou sem excitamento ou extravagância. O fermento da justiça de Cristo foi introduzido na experiência e retemperou a alma. Oh, que continue a operar em seu misterioso poder até que sua difusa influência aqueça as almas mornas com que entrar em contato.  “Suave e silenciosamente o poder do Espírito divino realiza sua obra, despertando os sentidos adormecidos, aquecendo a alma e estimulando suas sensibilidades até que cada membro da igreja seja verdadeiramente a luz do mundo.” (Carta 85, 1889). Enquanto na Austrália, Ellen White referiu-se a um derramamento especial do Espírito de Deus que se dera no Ginásio de South Lancaster. “Num lugar em que estivermos trabalhando na América [South Lancaster, Massachusetts], e ali todos os jovens em nosso colégio […] se converteram ao contornarmos a eles a singela história da cruz, vindo a Jesus tal qual se achavam […]. “Parecia às vezes, ao início da reunião, que a glória de Deus estava a ponto de sobrevir-nos, mas não vinha apenas a uns poucos, porém desta vez despejava-se como uma grande vaga sobre a congregação, e que tempo de regozijo. “Não havia demonstrações selvagens, pois o louvor a Deus não leva a tanto. Nunca ouvimos de coisas dessa natureza na vida de Cristo, como pular e girar, gritar e clamar. Não; as obras de Deus apelam aos sentidos e à razão dos homens e mulheres. “Não há tais demonstrações exteriores. O Espírito de Deus, contudo, tem uma influência sobre o coração humano que se revela no semblante, e o resplendor de toda face revela o Jesus inerente. Foi, pois, um milagre da misericórdia de Deus que se apossou de todo estudante naquela escola e os transformou em caráter e os enviou como missionários. Dois dos professores que estão agora no Taiti como missionários estavam naquela reunião. A luz da glória de Deus esteve ali.” (Manuscrito 49, 1894).

Um sentimento temporário de entusiasmo

Em 1900 ela estabeleceu uma comparação entre a experiência genuína e a falsa assinalando que as experiências espúrias geram sentimentos de entusiasmo que logo desvanecem: “Toda influência será posta em ação pelas agências satânicas a fim de desviar as mentes da obra genuína que porá os homens a trabalharem em associação com Deus. Todos quantos não se empenharem agressivamente na campanha onde Cristo, o poderoso general dos exércitos, é o líder, estará no partido oposto, fazendo parte dos exércitos do príncipe das trevas. Estes desviarão as pessoas dos assuntos importantes que deviam ocupar suas mentes e corações e prepará-las para distinguir entre a voz do mundo e a voz de Jesus Cristo. Precisamos, de nossa parte, ser muito vigilantes e sempre orar para que possamos ser capazes de compreender a voz do enganador em contraste com a voz dAquele que sempre fala a verdade. Aqueles que recebem a ação do Espírito Santo não são levados por um sentimento de entusiasmo que logo se desfaz em trevas. O fascínio da influência de Cristo é permanente. ‘Aquietai-vos e sabei que Eu sou Deus’. Esta é uma solene e perdurável quietude em Deus. “Há perigo de que todos nós teremos excessivo zelo, e demasiado pouco de prudência e plena sabedoria de Cristo. Cada um deve permanecer individualmente como uma agência ativa e operosa para o Mestre, contemplando Sua obra como é ela indicada em Sua Palavra para nossa prática. Individualmente, devem pensar por si mesmos. Com uma Bíblia aberta perante si, devem estudar sob a influência e presença de Jesus Cristo, inquirindo e sabendo para seu proveito individual qual é o caminho do Senhor.” (Carta 77, 1900).

Evitar uma religião sentimental

Nos registros da sessão da Conferência Geral de 1901 em Battle Creek, encontramos uma interessante declaração de Ellen White feita num tempo em que sérias e abarcantes decisões tinham de ser tomadas. Tendo permanecido por nove anos na Austrália, ela se encontrava em Battle Creek para sua primeira sessão da Conferência Geral em dez anos. Pouco antes de a assembléia ser aberta falou das importantes decisões que deviam ser tomadas e de como o Senhor desejava que cada um se pusesse em acertada posição para com Ele. Falou de como havia necessidade de mais oração e menos conversação. E assegurou que “Deus fará Sua luz brilhar no coração de quantos nesta assembléia se situem em correta relação com Ele.” Depois, declarou: “Alguns disseram que julgavam que nesta assembléia vários dias deveriam ser dedicados a orar a Deus pedindo o Espírito Santo, como se deu no Pentecostes. Desejo dizer que as questões que se levarão a termo nesta assembléia são tanto uma parte do serviço de Deus como o é a oração. A assembléia em reunião deve estar tanto sob a direção do Espírito quanto a reunião de oração. Há perigo de que obtenhamos uma religião sentimental, impulsiva. “Que os assuntos tratados nesta assembléia sejam mantidos em caráter tão sagrado que a hoste angélica possa aprová-la. Devemos conservar os ramos comerciais de nossa obra de maneira muito sagrada. Cada ramo de negócios promovidos aqui deve estar de acordo com os princípios celestiais. “Deus deseja que vos estabeleçais numa posição onde Ele possa soprar sobre vós o Santo Espírito, onde Cristo possa habitar no coração. Ele deseja que, ao início desta assembleia, deixeis de lado quaisquer controvérsias, disputas, dissensões ou murmurações que tiverdes albergando. Precisamos é de ter muito mais de Cristo e nada do ego. O Salvador diz, ‘Sem Mim, nada podeis fazer’. […] “Temos chegado a um ponto em que Deus está pronto para trabalhar por Seu povo. Ele deseja que este seja um povo representativo, distinto de todos os demais povos de nosso mundo. Deseja que se poste em terreno vantajoso porque Ele deu Sua vida a fim de que pudesse permanecer ali. Não desapontemos ao Senhor.” (Manuscrito 29, 28 de março de 1901). Este incidente deveria merecer muita ponderação. A ocasião apela urgentemente para a guia e bênção do Espírito de Deus. Ellen White, contudo, não encoraja um abandono do trabalho a ser feito para que se passe um período apenas buscando o Espírito de Deus. Torna claro que esta experiência de buscar ao Espírito deveria ser tal que permeasse nossas dedicadas atividades no serviço de Deus. Podemos ser levados a perguntar: haveria no coração de alguns o sentimento de que deveriam estar procurando uma demonstração? O conselho de Ellen White dirigiu-os a um melhor caminho.

Outras línguas

Ellen White fez várias declarações concernentes à obra do Espírito Santo ao preparar homens e mulheres para espalharem a mensagem entre aqueles que falam outros idiomas: “Deus dispensa Seus dons como Lhe agrada. Concede um dom a um, e outro dom a outro, mas todos para o bem de todo o corpo. É plano de Deus que alguns sejam de utilidade em algum ramo da obra, e outros em outros ramos – todos operando sob o mesmo espírito. […] “Se na providência inicial de Deus tornar-se necessário erigir uma casa de cultos em alguma localidade, o Senhor […] concede sabedoria e prepara-o para a realização da obra necessária. “Ele envia homens para levarem Sua verdade a povos de língua estranha, e às vezes tem aberto as mentes de Seus missionários, capacitando-os a aprender rapidamente o idioma. Aqueles mesmos a quem vieram para ajudar espiritualmente, ser-lhes-ão uma ajuda na aprendizagem do idioma. Por esta relação os nativos estão preparados para ouvir a mensagem do evangelho quando for transmitida em sua própria língua.” (Special Testimonies, Séries B, n.º 11, p. 26). Em outra ocasião, enquanto realizava sua viagem de dois anos à Europa, durante a qual muitas vezes percorria as igrejas, falando mediante intérpretes, relatou à Review and Herald um de seus itinerários e depois declarou: “É com ardente expectativa que vislumbro o tempo em que os eventos do dia de Pentecostes serão repetidos com poder ainda maior do que por aquela ocasião. João declara: ‘Vi descer do céu outro anjo, que tinha grande autoridade, e a Terra se iluminou com a sua glória’. Então, como por ocasião do Pentecostes, o povo ouvirá a verdade proclamada a cada um em seu próprio idioma. Deus pode insuflar nova vida a cada alma que sinceramente deseja servi-lo, e pode tocar os lábios com uma brasa viva do altar, e torná-los eloquentes com seu louvor. “Milhares de vozes serão imbuídas com o poder para falar das maravilhosas verdades da Palavra de Deus. A língua gaguejante será feita livre e o tímido será feito forte para dar destemido testemunho da verdade.” (The Seventh-day Adventist Bible Commentary, vol. 7-A, p. 1.055).

Critérios de Origens Divinas

Como podemos distinguir entre o genuíno e o espúrio? Podemos estar certos de que Deus não nos deixará confundidos numa época em que as questões envolvidas são tão cruciais que, se fosse possível, seriam enganados até os próprios eleitos. Ellen G. White apontou reiteradas vezes para a Palavra de Deus como nossa segurança. Encontramos na Palavra de Deus os critérios a serem usados para julgar entre o verdadeiro e o simulado, entre o genuíno e o espúrio. Se há um ponto sobre o qual Deus fez as mais solenes e enfáticas advertências, acima de qualquer outro, é sobre este ponto. Ninguém precisa ser enganado; muitos, porém, serão iludidos. Referindo-se ao tempo da chuva serôdia, no capítulo “Como Alcançar Paz de Alma”, Ellen White declara o seguinte na página 464 de O Grande Conflito: “O Espírito e o poder de Deus serão derramados sobre Seus filhos. Naquele tempo muitos se separarão das igrejas em que o amor deste mundo suplantou o amor a Deus e à Sua Palavra. Muitos, tanto pastores como leigos, aceitarão alegremente as grandes verdades que Deus providenciou fossem proclamadas no tempo presente, a fim de preparar um povo para a segunda vinda do Senhor.” Então, em linguagem profética, ela descreve como o inimigo imporá a sua presença: “O inimigo das almas deseja estorvar esta obra; e antes que chegue o tempo para tal movimento, esforçar-se-á para impedi-la, introduzindo uma contrafação. Nas igrejas que puder colocar sob seu poder sedutor, fará parecer que a bênção especial de Deus foi derramada; manifestar-se-á o que será considerado como grande interesse religioso. Multidões exultarão de que Deus esteja operando maravilhosamente por elas, quando a obra é de outro espírito.” Em outro lugar ela deu ênfase à sutileza do conflito: “Satanás tem descido nestes últimos dias, a fim de operar com todo o engano de injustiça naqueles que perecem. Sua majestade satânica realiza milagres à vista de falsos profetas, em presença de homens, alegando que ele é realmente o próprio Cristo. Satanás confere seu poder aos que o auxiliam em seus enganos; por isso, os que pretendem ter o grande poder de Deus só podem ser discernidos pelo grande revelador – a lei de Jeová. “O Senhor declara que, se fosse possível, eles enganariam os próprios eleitos. A cobertura de pele de ovelha parece tão real, tão genuína, que o lobo só pode ser discernido quando recorremos ao grande padrão de moral dado por Deus, descobrindo assim que eles são transgressores da lei de Jeová.” (Review and Herald, 25 de agosto de 1885).

Onde encontrar segurança

Nessa declaração encontra-se a chave para os critérios que darão segurança aos adventistas do sétimo dia e a outros que buscam a verdade – a lei de Deus. Os que pretendem possuir a salvação e os dons do Espírito ao mesmo tempo que  desconsideram os reclamos da lei de Deus, não se acham em harmonia com a Bíblia. É mantido na Bíblia um importante equilíbrio entre a fé e as obras. Ouvimos o grito: “Creia somente em Jesus, e será salvo”. A salvação não é, porém tão simples assim. Ellen G. White adverte: “A fé em Cristo que salva a alma não é o que muitos dizem a esse respeito. ‘Creia, creia’, é o seu clamor; ‘creia somente em Cristo, e será salvo. É só isso que lhe compete fazer’. “Conquanto a verdadeira fé confie inteiramente em Cristo para salvação, resultarão em perfeita conformidade com a lei de Deus. A fé é manifestada pelas obras. E o apóstolo João declara: ‘Aquele que diz: Eu O conheço, e não guarda os Seus mandamentos, é mentiroso, e nele não está a verdade’.  “É perigoso confiar nos sentimentos ou nas impressões; eles não são guias seguros. A lei de Deus é o único padrão correto de santidade. É por esta lei que deve ser avaliado o caráter. Se alguém que anda em busca da salvação perguntasse: ‘Que farei para herdar a vida eterna?’ os modernos mestres de santificação responderiam: ‘Creia somente que Jesus salva a você’. Mas quando esta pergunta foi feita para Cristo, Ele disse: ‘Que está escrito na lei? Como lês?’” (Review and Herald, 5 de outubro de 1886). Ellen G. White não está ensinando a salvação pelas obras. Ninguém expressou esta questão com mais clareza do que ela: “Mas o homem não se pode transformar pelo exercício de sua vontade. Não possui faculdade por cujo meio esta mudança possa ser efetuada. […] A energia renovadora precisa vir de Deus. A mudança só pode ser efetuada pelo Espírito Santo. Todos que quiserem ser salvos, nobres ou humildes, ricos ou pobres, precisam submeter-se à atuação deste poder.” (Parábolas de Jesus, p. 96, 97). “Para ser salvos, temos de conhecer por experiência o significado da verdadeira conversão. É erro funesto, seguirem os homens e mulheres, dia a dia, a rotina da vida, professando-se cristãos, sem ter direito a esse nome. À vista de Deus, a profissão nada é, nada é a posição. Ele pergunta: Está a vida em harmonia com os Meus preceitos? Há muitos que supõem estar convertidos, mas não suportam a prova do caráter apresentada na Palavra de Deus. […] “Não nos esqueçamos de que em sua conversão e santificação, o homem deve cooperar com Deus. ‘Operai a vossa salvação com temor e tremor’, diz a Palavra; ‘porque Deus é o que opera em vós tanto o querer como o efetuar, segundo a Sua boa vontade.’ (Fp 2:12, 13).” (Nos Lugares Celestiais, Meditação Matinal de 1968, p. 20).

Dois remos

Ela ilustrou a relação entre a fé e as obras do seguinte modo: “O Senhor insta com todos os que julgam saber o que é fé a que tenham certeza de não estarem fazendo tração com um só remo, de que seu pequeno barco não esteja dando voltas e mais voltas, sem sair do lugar. A fé sem obras inteligentes é morta, se estiver sozinha. A fé no poder restaurador de Deus só poderá salvar se estiver unida a boas obras.” (Manuscrito 86, 1897). Deixou também a seguinte advertência: “Se formos fiéis no cumprimento da parte que nos toca, cooperando com Ele, Deus operará por nosso intermédio [para executar] o Seu beneplácito. Mas Ele não poderá operar por nosso intermédio, se não fizermos nenhum esforço. Se temos de alcançar a vida eterna, precisamos trabalhar, e trabalhar fervorosamente. […] Não nos permitamos ser enganados pela asserção constantemente repetida: ‘Tudo o que tendes que fazer é crer’. Fé e obras são dois remos que precisam ser usados com igualdade, se esperamos progredir contra a corrente da incredulidade. […] Pela fé e boas obras ele [o cristão] mantém sua espiritualidade forte e saudável, e sua força espiritual cresce ao procurar ele praticar as obras de Deus.” (Review and Herald, 11 de junho de 1901).

Ela declarou enfaticamente que a genuína experiência da plenitude do Espírito Santo será assinalada por “conscienciosa consideração a todos os mandamentos de Deus”. “Nossa fé deve aumentar diariamente. Embora digamos: ‘Sei que sou um pecador’, também podemos dizer: ‘Sei que tenho um Salvador’. Jesus morreu pelos pecadores, e perdoará meus pecados, se eu me arrepender sinceramente. É inútil pretender crer em Cristo se não reconhecemos os reclamos da lei de Deus e não procuramos obedecer diariamente a seus preceitos.” (Manuscrito 25, 1886). “A verdadeira santificação será evidenciada por conscienciosa consideração a todos os mandamentos de Deus, por meticuloso aproveitamento de todos os talentos, por conversação no falar, e revelando em todos os atos a mansidão de Cristo. […] “Conquanto professam estar sem pecado, e se vangloriem de sua justiça, os  pretensos possuidores de santificação ensinam que os homens estão livres para transgredir a lei de Deus, e que os que obedecem a seus preceitos caíram da graça. A apresentação dos reclamos dessa lei desperta oposição da parte deles, e suscita rancor e desdém. […] É a lei de Deus que traz convicção ao pecador.” (Review and Herald, 5 de outubro de 1886). Ellen G. White salientou quão difícil é persuadir os que julgam possuir as evidências da aprovação divina enquanto transgridem Sua lei. Ela declara que até mesmo os adventistas do sétimo dia serão tentados neste ponto: “Durante as reuniões em Orebro, fui incentivada pelo Espírito do Senhor a apresentar Sua lei como a grande norma de justiça, e advertir nosso povo contra a falsa santificação moderna que tem sua origem no culto à vontade própria, e não na submissão à vontade de Deus. Este erro está inundando rapidamente o mundo, e como testemunhas de Deus seremos chamados a dar decidido testemunho contra ele. É um dos maiores enganos dos últimos dias, e será uma tentação para todos os que crêem na verdade presente. “Aqueles cuja fé não está firmemente estabelecida na Palavra de Deus serão iludidos. O aspecto mais deplorável de tudo isso é que bem poucos dos que são enganados por esse erro encontram o caminho de volta para a luz.” (Review and Herald, 5 de outubro de 1886). “Ninguém que teve a luz da verdade entrará na cidade de Deus como transgressor dos mandamentos. Sua lei é o fundamento de Seu governo na Terra e no Céu. Se eles espezinharam e desprezaram intencionalmente Sua lei na Terra, não serão levados para o Céu a fim de realizarem ali a mesma obra; não haverá mudança de caráter quando Cristo vier. […] “Haverá apenas duas classes de pessoas sobre a Terra: os obedientes filhos de Deus e os desobedientes.” (Review and Herald, 25 de agosto de 1885).

João, nosso exemplo

Quão cuidadosos deveríamos ser para que não sejamos arrastados pelo moderno movimento ecumênico que pretende unir os homens em toda a parte sob o estandarte do amor. O apóstolo João deparou com este problema, e escreveu palavras de advertência em suas Epístolas. Seu amor pelas almas impregnou os seus escritos, mas ele recusou transigir com o mal.  “As epístolas de João respiram o espírito de amor. É assim como se ele escrevesse com a pena molhada no amor. Mas quando entrou em contato com os que estavam a quebrar a lei de Deus, embora declarando estar vivendo sem pecado, não hesitou em adverti-los de seu perigoso engano. […] “Estamos autorizados a ter na mesma consideração indicada pelo discípulo amado os que alegam permanecer em Cristo ao mesmo tempo que vivem em transgressão da lei de Deus. Existem nestes últimos dias males semelhantes àqueles que ameaçavam a prosperidade da igreja primitiva; e os ensinos do apóstolo João sobre estes pontos deveriam ser cuidadosamente considerados. […] “Conquanto devamos amar as almas por quem Cristo morreu, não nos devemos comprometer com o mal. Não nos podemos unir aos rebeldes e chamar a isto caridade [amor]. Deus requer de Seu povo nesta fase do mundo que permaneça firme pelo direito tanto quanto João, em oposição aos erros que arruínam a alma. “O apóstolo ensina que embora devamos manifestar cortesia cristã, estamos autorizados a tratar em termos claros com o pecado e os pecadores; que isto não está em desarmonia com a verdadeira caridade [amor].” (Atos dos Apóstolos, p. 554, 555). Quão astuta e desveladamente o grande adversário conseguiu enlear os que pretendiam permanecer firmes e leais à Palavra de Deus! O que se requer que façamos não será fácil nem nos tornará populares. Precisamos abster-nos dos outros com amor no coração; mas a nossa segurança reside unicamente em manter diante de nós os critérios estabelecidos por Deus.


Referência

1 Tiago White na Review and Herald de 1855, declarou: “Nunca nos convencemos totalmente com o testemunho apresentado em favor da [posição das] seis horas […]. O assunto nos perturbou, contudo jamais encontramos tempo para investigá-lo inteiramente.

2 Este fato histórico foi fornecido por um de nossos ministros de Wisconsin, Adriel Chilson. Embora não identifiquemos positivamente esta experiência particular com a obra de Salomão Wellcome, há forte evidência de que muitas semelhanças existiam.

3 O trecho entre colchetes não consta da tradução em português dos Testemunhos Para a Igreja, mas no original aparece na página 414 do vol. 1, exatamente neste contexto, com itálicos acrescentados.