Entre as 100.000 páginas dos escritos de Ellen G. White, algumas pessoas têm apontado várias declarações difíceis de entender. Algumas destas declarações trazem perplexidade somente porque foram retiradas de seu contexto imediato. Outras declarações trazem problemas para aqueles que acreditam que os mensageiros de Deus são infalíveis, suas predições inalteráveis, e que suas palavras e expressões são comunicadas literalmente pelo Espírito Santo. Os adventistas do sétimo dia acreditam que estes pontos de vista são incompatíveis com o que se observa na Escritura. E certamente vão contra o que Ellen White reivindicou tanto para si mesma quanto para seus escritos. Pode-se também achar declarações que parecem desafiar uma explicação disponível ou que não podem ser cientificamente confirmadas na atualidade. A respeito disso, somos lembrados sobre a seguinte declaração relativa a supostas dificuldades nas Escrituras:

“Ao mesmo tempo em que Deus deu prova ampla para a fé, nunca removeu toda desculpa para a descrença. Todos os que buscam ganchos em que pendurar suas dúvidas, encontrá-los-ão. E todos os que se recusam a aceitar a Palavra de Deus e lhe obedecer antes que toda objeção tenha sido removida, e não mais haja lugar para a dúvida, jamais virão à luz” (O Grande Conflito , p. 527).

“Nunca se deve ensinar aos que aceitam o Salvador, conquanto sincera sua conversão, que digam ou sintam que estão salvos”

Uma olhada mais cuidadosa nas admoestações de Ellen G. White a respeito deste assunto revela que, no contexto, ela não está falando contra a certeza da posição atual do crente diante de Deus. Ela está advertindo contra o presunçoso ensinamento de segurança eterna que diz “uma vez salvo, salvo para sempre” – daqueles que reivindicam “estou salvo” enquanto continuam a transgredir a lei de Deus. Aqui está sua declaração completa:

“A queda de Pedro não foi repentina, mas gradual. A confiança em si mesmo induziu-o à crença de que estava salvo, e desceu passo a passo a vereda descendente até negar a Seu Mestre. Jamais podemos confiar seguramente em nós mesmos ou sentir, aquém do Céu, que estamos livres da tentação . Nunca se deve ensinar aos que aceitam o Salvador, conquanto sincera sua conversão, que digam ou sintam que estão salvos. Isto é enganoso. Deve-se ensinar cada pessoa a acariciar esperança e fé; mas, mesmo quando nos entregamos a Cristo e sabemos que Ele nos aceita , não estamos fora do alcance da tentação. A Palavra de Deus declara: ‘Muitos serão purificados, e embranquecidos, e provados’ (Dan. 12:10). Só aquele que sofre a tentação receberá a coroa da vida (Tiago 1: 12)” (Parábolas de Jesus, p. 155, ênfase adicionada).

Que Ellen White compreendia a base adequada para a verdadeira segurança cristã é evidenciado pela seguinte declaração que ela fez diante da igreja na sessão da Associação Geral:

“Cada um de vocês pode saber por si mesmo que tem um Salvador vivo, que Ele é o seu auxiliador e seu Deus. Vocês não precisam estar na condição de dizer: ‘Não sei se estou salvo’. Vocês acreditam em Cristo como seu Salvador pessoal? Se sim, então se regojizem” (General Conference Bulletin, 10 de abril de 1901).

Ellen White escreveu o seguinte para uma mulher que estava com dúvidas:

“A mensagem que Deus me enviou para ser dada a você é: ‘O que vem a mim, de modo nenhum o lançarei fora’ (João 6:37). Se você não tiver nada mais a pleitear diante de Deus a não ser esta única promessa de seu Senhor e Salvador, já tem aqui a garantia de que nunca, nunca será mandada embora. Pode lhe parecer que você está se agarrando a uma única promessa, mas aproprie-se dessa única promessa, e ela lhe abrirá o tesouro inteiro das riquezas da graça de Cristo. Apegue-se a essa promessa e você estará segura. ‘O que vem a mim, de modo nenhum o lançarei fora.’ Apresente esta certeza a Jesus, e você estará tão segura como se já estivesse dentro da Cidade de Deus” (Manuscript Releases , vol. 10, p. 175).

“Eu não alego ser uma profetisa”

Por que a Igreja Adventista do Sétimo Dia acredita que Ellen G. White recebeu o dom de profecia quando ela disse que não reivindicava ser uma profetisa? O freqüente mau emprego desta declaração de Ellen White é uma ilustração da importância do contexto apropriado. Aqui, em suas próprias palavras, está o que Ellen White quis e o que ela não quis dizer com esta declaração:

“Alguns tropeçaram no fato de haver eu dito que não reivindico ser profetisa; e têm perguntado: Por que é isto?

“Não tenho reivindicações a fazer, apenas que estou instruída de que sou a Mensageira do Senhor; de que Ele me chamou em minha mocidade para ser Sua mensageira, para receber-Lhe a Palavra, e dar clara e decidida mensagem em nome do Senhor Jesus.

“Cedo, em minha juventude, foi-me perguntado várias vezes: Sois uma profetisa? Tenho respondido sempre: Sou a mensageira do Senhor. Sei que muitos me têm chamado profetisa, porém eu não tenho feito nenhuma reclamação desse título. Meu Salvador declarou-me ser eu Sua mensageira ‘Teu trabalho’, instrui-me Ele, ‘é levar Minha palavra. Coisas estranhas surgirão, e em tua mocidade te separei para levar a mensagem aos errantes, levar a Palavra ante os incrédulos, e pela pena e pela voz reprovar pela Palavra ações que não são direitas. Exorta pela Palavra. Expor-te-ei Minha Palavra. Ela não será como língua estranha. Na verdadeira eloqüência da simplicidade, pela voz e pela pena, as mensagens que dou serão ouvidas, vindas de uma pessoa que nunca aprendeu nas escolas. Meu Espírito e Meu poder serão contigo.’…

“Por que não tenho reivindicado ser profetisa? – Porque nestes dias muitos que ousadamente pretendem ser profetas são um opróbrio à causa de Cristo; e porque meu trabalho inclui muito mais do que a palavra ‘profeta’ significa. …

“Reivindicar ser uma profetisa, é uma coisa que nunca fiz. Se outros me chamam assim, não discuto com eles. Mas minha obra tem abrangido tantos ramos que não posso chamar outra coisa senão mensageira, enviada a apresentar uma mensagem do Senhor a Seu povo, e a empreender trabalho em qualquer sentido que Ele me indique.

“Quando estive a última vez em Battle Creek, disse, perante uma grande congregação que não reivindicava o ser profetisa. Referi-me duas vezes a este assunto, tencionando a cada vez fazer outra declaração: ‘Não reivindico ser profetisa’. Se falei de outra maneira que não essa, compreendam agora todos que o que eu tinha em mente dizer era que eu não reclamo o título de profeta ou profetisa” (Review and Herald, 26 de julho de 1906, reimpresso em Mensagens Escolhidas, vol. I, p. 31-35).

“Durante o discurso eu disse que não reclamava ser profetisa. Alguns ficaram surpreendidos ante esta declaração, e como tanto se está falando sobre isto, darei uma explicação. Outros me têm chamado profetisa, eu, porém, nunca me atribuí esse título. Não tenho sentido que fosse meu dever designar-me assim. Os que se arrogam ousadamente serem profetas nesses nossos dias são muitas vezes um vitupério à causa de Cristo.

“Minha obra inclui muito mais do que esse nome significa. Considero-me uma mensageira a quem o Senhor confiou mensagens para Seu povo” (Carta 55, 1905; citada em Mensagens Escolhidas, vol. I, p. 35, 36).