Sábado da Herança – 24 de junho de 1978
Dons Espirituais – Por quê?

Theodore Carcich
Promoção do Serviço do Espírito de Profecia, DSA e USB

“Subindo ao alto, levou cativo o cativeiro, e deu dons aos homens… E ele mesmo deu uns para apóstolos, outros para profetas, e outros para evangelistas, e outros para pastores e doutores, querendo o aperfeiçoamento dos santos para a obra do ministério, para edificação do corpo de Cristo; até que todos cheguemos à unidade da fé, e ao conhecimento do Filho de Deus, o varão perfeito, à medida da estatura completa de Cristo. Para que não sejamos mais meninos inconstantes, levados em roda por todo o vento de doutrina, pelo engano dos homens que com astúcia enganam fraudulosamente”. – Efésios 4: 8, 11-14.

A Dupla Tarefa da Igreja

Deus deu à Sua Igreja uma dupla tarefa. A primeira consiste em que os membros individuais da igreja atinjam em Cristo unidade e maturidade, bem como a medida completa da vida cristã, de acordo com a própria vida e caráter de Cristo, representando assim, corretamente, diante de um mundo cético, o caráter de um Deus justo, misericordioso e amante.

A segunda tarefa é que a igreja, radiante com a justiça de Cristo, leve “o evangelho eterno… aos que habitam sobre a terra, e a toda a nação, e tribo, e língua, e povo, dizendo com grande voz: Temei a Deus, e dai-lhe glória; porque vinda é a hora do seu juízo. E adorai aquele que fez o céu, e a terra, e o mar, e as fontes das águas”. (Apoc. 14: 6, 7). Este não é um novo evangelho, mas o “evangelho eterno”, apresentando o Salvador crucificado, ressurreto, recebido na glória, intercessor e prestes a vir, como a única esperança de Salvação do homem.

Inquestionavelmente, a igreja de Cristo é uma instituição divina, com objetivos divinos. Os homens, não importa quão dotados, não podem levar avante sozinhos a obra da Igreja. A sabedoria humana, o intelecto humano e os talentos humanos, importantes como sejam, não são suficientes para levar os homens do pecado para a justiça. Os fins espirituais somente podem ser alcançados por homens que possuem dons espirituais.

Seguramente essa era uma questão superlativa na mente do divino Cabeça da igreja, ao chegar o tempo de Sua ascensão da Terra para o Céu. Olhando para os poucos fiéis comissionados de levar o evangelho ao mundo, Ele sentiu suas limitações para a tremenda tarefa que os aguardava. Conhecendo muito bem a feroz oposição que enfrentariam, disse-lhes: “…Ficai, porém, na cidade de Jerusalém, até que do alto sejais revestidos de poder”. (Lucas 24: 49).

Exatamente antes de ascender ao céu, a promessa foi novamente enfatizada: “Mas recebereis a virtude do Espírito Santo, que há de vir sobre vós; e ser-me-eis testemunhas, tanto em Jerusalém, como em toda a Judéia e Samaria, e até aos confins da terra” (Atos 1:8). Notemos que nas duas ocasiões foi dito aos discípulos que, quando o Espírito Santo fosse derramado sobre eles, receberiam o poder necessário para o cumprimento de sua obra.

O Duplo Papel do Espírito Santo

É claro, através do Velho Testamento e Novo Testamento – a suprema revelação escrita de Deus aos homens – que o Espírito Santo provê um aumento pessoal e coletivo de poder. Primeiro, Ele fala a nós pessoalmente, pressionando-nos a caminhar pelo caminho direito. Cristo falou dessa obra quando disse: “Mas quando vier aquele Espírito de verdade, ele vos guiará em toda a verdade” (João 16:13). No Velho Testamento a narrativa do dilúvio enfatiza a mesma verdade: “Então disse o Senhor: Não contenderá o meu Espírito para sempre com o homem” (Gên. 6:3).

O segundo papel do Espírito Santo é trabalhar através de indivíduos para a salvação de outros. Essa função também é claramente delineada tanto no Velho como no Novo Testamento. É mencionada como sendo dons do Espírito. Quando Samuel como Saul, o primeiro rei de Israel, prometeu: “O Espírito do Senhor se apoderará de ti, e profetizarás” (I Samuel 10:6). A conexão entre o Espírito do Senhor e o dom de profetizar é clara. Mais tarde quando o Espírito do Senhor apartou de Saul, este não mais profetizou nem recebeu mensagens dos profetas e, com efeito, voltou-se para um falso profeta, a pitonisa de En-Dor. (Ver I Samuel 16:14 e I Samuel 28: 7,8). Em várias oportunidades o Novo Testamento enumera os dons do Espírito. (Ver I Coríntios 12:8-10,28; Efésios 4:11 e Romanos12). Aqui é apresentado com mais detalhes o papel do Espírito Santo ao trabalhar por intermédio daqueles que têm os dons.

Considerações Proféticas Quanto às Necessidades Humanas

O duplo papel do Espírito é demonstrado no trabalho do mensageiro profético. O mensageiro não apenas fala às necessidades pessoais, mas também às necessidades da igreja como um todo. Obviamente o dom de profecia, como manifestado no ministério de Ellen White, serviu para erigir uma igreja. Mas ele foi também usada sob a direção do Espírito Santo para falar a corações humanos individuais. É assim que ela o declara:

“Quando o Espírito Santo revela alguma coisa relativamente às instituições relacionadas com a obra do Senhor, ou referente à obra de Deus no coração e espírito humano, como Ele tem revelado essas coisas por esclarecimento vindo de Deus para aqueles que o necessitam”. (Mensagens Escolhidas, vol. 1, p. 38).

Notemos três coisas nessa declaração: primeiro, as mensagens são dadas para instituições; seguros, são dadas para o coração humano individual; e terceiro, e mais importante, são consideradas como luz dada por Deus.

Se a mensagem da profecia somente s relacionasse com as instituições e com o funcionamento formal da igreja como testemunha no mundo, seguramente haveria uma grande lacuna. É claro que o ministério de Ellen G. White tocou aquelas necessidades humanas que são comuns a todos. Seus escritos abrangeram saúde, nutrição, temperança, educação, lar e família e muitas outras áreas. Há conselhos específicos relativos a como evitar doenças como o câncer e problemas cardíacos, os dois maiores causadores de mortes dos tempos modernos. Seus conselhos são de valor inestimável no que se refere a distúrbios mentais, alcoolismo e outros problemas sociais e de saúde. Não é incomum ouvir autoridades não adventistas mencionando os princípios que ela enunciou. Com efeito, o mundo ao nosso redor, bem como a igreja, têm-se beneficiado com sua orientação e ensinos sobre saúde e bem-estar espirituais.

Mas infinitamente mais convincente do que aquilo que os olhos veem ou os ouvidos ouvem, é a convicção íntima nascida do Espírito Santo quando lemos os escritos de Ellen White. Seus livros possuem vida espiritual e poder que testificam de sua origem celestial.

Algumas Ilustrações Notáveis

Deveríamos mencionar duas ilustrações impressionantes da atuação do Espírito Santo através da moderna profetisa. Em 1875 Tiago e Ellen White estavam presentes à reunião campal de Illinois. Ela havia sido apresentada a uma senhora e, enquanto falava com ela, o marido desta apareceu, conduzindo um carro. Ellen expressou sua surpresa ao reconhecer o homem de sua última visão. Escrevendo mais tarde àquele homem, ela começou a carta na terceira pessoa:

“Fiquei atordoada ao olhar seu semblante, pois em minha última visão aquele mesmo rosto havia sido apresentado a mim. Foi-me mostrado como sendo ele um homem que professava nossa fé, mas possuía um coração corrupto. Sua vida, durante a juventude, não fora como deveria ter sido. Seu caso era difícil, terrivelmente difícil se ele tivesse sido santificado pela verdade tão logo a tivesse abraçado, poderia ter abusado de seus privilégios e capacidades e empregado suas energias para a corrupção de almas, em vez de procurar erguê-las a um nível de pureza e santidade”. – Carta 19, 1875.

Ellen White então continua sua carta, agora dirigindo-se a ele, pessoalmente:

“O Senhor, irmão C. carece de retidão interior. O Senhor age como se o seu julgamento sobre homens e coisas fosse superior ao de todos os outros. Suas maneiras são comprometedoras. A depravação de seu coração encontra oportunidades para suas obras e também um escoadouro para sua influência sobre aqueles que são atraídos por sua conduta e procedimento. Se o irmão tivesse princípios cristãos reais, governando o coração e controlando a conduta, não seduziria pobres almas inexperientes a violar a lei de Deus e assim causar sua ruína, não apenas nesta vida, mas para o mundo porvir ”. – Ibdem

Lembremo-nos de que ela primeiro viu esse homem em visão. Contudo, essa avaliação da experiência dele demonstrou ser exata em todos os pormenores, embora Ellen White jamais o tivesse visto antes, pessoalmente. Seu conselho foi dado sem hesitação, como uma mensagem do Senhor. Quando recebia as mensagens, não duvidava quanto ao significado de seu dever com referência ao que lhe havia sido mostrado. Suas primeiras experiências a levaram a não duvidar da mensagem, alterando-a ou abrandando-a para torná-la mais aceitável.

Outra experiência notável ocorreu por volta do ano de 1870. Novamente recebeu uma visão relacionada com certo homem. Desta vez apenas ouviu sua voz. O anjo lhe disse que quando ela ouvisse aquela voz outra vez, deveria apresentar determinada mensagem. Alguns meses passaram e certo dia Tiago e Ellen White visitaram outra reuniões posteriores, Ellen quis ir imediatamente a uma reunião em andamento.

Ao entrarem na tenda-auditório, um homem falava. Ellen White parou um momento e então, sem qualquer hesitação, caminhou direto para a plataforma de onde o homem pregava. Olhou-o e falou em voz clara: “Meu irmão, não vos compete estar nesse público, falando a este povo”.

O homem suspendeu sua pregação. Todos os olhares convergiam para ele e para Ellen White, os quais ali estavam parados. Ela jamais o havia visto antes, nem sequer sabia coisa alguma, exceto o que o Senhor lhe revelara. O Senhor havia dito: “Dize-lhe que ele não tem o direito de pregar ao povo. Há uma senhora em outro estado, que o chama de marido, e crianças que o chamam de pai; e há uma mulher aqui neste acampamento que o considera seu marido, e crianças que o chamam de pai”.

O homem desapareceu. Seu sermão jamais foi concluído. Seu próprio irmão, sentado no auditório, contou ao povo que aquilo que a irmã White havia dito era verdadeiro. O homem havia estado vivendo uma vida dupla, e merecia a reprovação. O efeito foi imediato. O Espírito de Deus veio àquela reunião campal e seguiu-se um grande reavivamento. (Adaptado de Crede em Seus Profetas, p. 105).

Dessa maneira o Senhor trabalhou por Seu Espírito através da profetiza para ajudar e corrigir Seus filhos errantes.

A Natureza Prática dos Dons

Quando Jesus retornou para o Céu, pediu que os discípulos permanecessem em Jerusalém. Isso lhes daria oportunidade de estarem juntos. Tiraram vantagem desse tempo para se encontrarem no Cenáculo; em oração fervorosa, procurando o Espírito e o poder prometidos. Não foi senão durante o Pentecostes, quando eles estavam todos com um pensamento, em um lugar, que o Espírito Santo foi derramado sobre eles. Nessa ocasião particular, receberam o dom de línguas. Isso aponta um fato significativo sobre os dons espirituais – eles são da dos para propósitos práticos. Por ocasião do Pentecostes havia pessoas de mais de uma dúzia de nações ou áreas diferentes, onde não se falava uma linguagem comum. Como iria o evangelho alcança-los? A resposta seria o dom de línguas. Esses idiomas eram linguísticos, e não estáticos. A experiência fez brotar, daqueles que ouviram a pregação dos discípulos, a pergunta: “Como, pois os ouvimos, cada um, na nossa própria língua em que somos nascidos?” (Atos 2:8).

Talvez não tenha ocorrido a alguns que a confusão de idiomas na Torre de Babel também poderia ter sido chamada um “dom”. Aparentemente o Pai, o Filho e o Espírito Santo participaram. Lemos em Gênesis 11:7: “Eia, desçamos, e confundamos ali a sua língua, para que não entenda um a língua do outro”. (Grifo nosso). O dom de línguas em Babel foi dado para interferir na idolatria. O dom de línguas no Pentecostes ajudou a unir a igreja.

Poder Através do Espírito

Outra faceta da história é que o Espírito provê poder. Aquele poder que Cristo conquistou no Calvário e que tornou efetivo no Pentecostes. Homens comuns, inclusive pescadores, foram a um tempo transformados em poderosas testemunhas “em Jerusalém, em toda a Judéia e Samaria, e até aos confins da terra” (Atos 1:8). O dom do Espírito foi um sinal conclusivo da aceitação por parte de Deus do sacrifício expiatório de Cristo pelos homens, e os homens transformados foram sobrenatural e completamente equipados para tornar conhecidas as boas novas em toda parte. Os dons espirituais foram concedidos não para glorificar o homem, mas para ajudar o homem a se apropriar da graça salvadora de Deus em Cristo, e disseminá-la.

E os dons foram suficientes para a tarefa. O Poder era proporcional à enorme responsabilidade. Falando sobre a comissão evangélica e as provisões para sua realização através da concessão do Santo Espírito aos apóstolos, disse E. White:

“Ele (Jesus) tomou completas providências para a prossecução de Sua obra, e assumiu a responsabilidade de seu êxito. Enquanto Lhe obedecessem a palavra e trabalhassem em harmonia com ele, não fracassariam. Ide por todas as nações, ordenou Ele. Ide às mais distantes partes do mundo habitado, e estai certos de que Minha presença estará convosco mesmo ali. Trabalhai com fé e confiança; pois em tempo algum vos deixarei. Estarei sempre convosco, ajudando-vos a executar vossas tarefas, guiando-vos, confortando-vos, santificando-vos a executar vossas tarefas, guiando-vos, confortando-vos, santificando-vos e vos sustendo, dando-vos sucesso, quando falardes, de maneira que vossas palavras atrairão a atenção dos outros para o Céu.” – (AA, p. 29).

É claro como cristal que os dons do Espírito são para a igreja, mas esses dons não devem ser usados apenas interiormente, mas também para prover o poder para um testemunho ao mundo.

Naturalmente, esses dons seriam apenas dados àqueles que já seguem a direção do Espírito Santo e da Palavra de Deus.

Nem Todos São Profetas

Em cada um dos quatro lugares em que os apóstolos Paulo menciona os dons do Espírito, ele esclarece bem que nem todas as pessoas serão profetas. Notemos o que ele diz: “Tenho diferentes dons, segundo a graça que nos é dada”. (Romanos 12:6). “E há diversidade de dons” (I Coríntios 12: 6). “Porventura são todos apóstolos? São todos profetas?” (I Coríntios 12:29). Essa série de perguntas antecipa uma resposta negativa. “E Ele mesmo deu uns para apóstolos, e outros para profetas” (Efésios 4:11).

Ellen White trata dessa questão ao declarar: “Nas mais alta acepção da palavra, o profeta era alguém que falava por direta inspiração, comunicando ao povo as mensagens que recebera de Deus”. (Educação, p. 46).

Em 1893 ela teve de repreender pessoalmente a A. T. Jones em Battle Creek. Ele estava falando publicamente, defendendo uma jovem senhora, chamada Anna Phillips, com profetisa. Enquanto a apoiava, sugeria que a Sra. White havia visto que chegara o tempo em que, se mantivéssemos uma correta relação para com Deus, todos poderíamos ter o dom de profecia na mesma medida em que aqueles que agora tinham visões. Mas a Sra. White não endossou tal declaração. Seu conselho relativo a essa situação pode ser encontrado em Mensagens Escolhidas, vol. II, pp. 85 à 95.

Devemos ser cuidadosos quanto a maneira de identificar os servos do Senhor. Profecia é um dom único.

Diversos Dons Para Uma Obra Diversificada

Os dons do Espírito para a igreja são muitos, diferentes e variados. Mais de 20 são mencionados no Novo Testamento, mas todos eles vêm da mesma fonte, para o mesmo propósito, para lograr os mesmos resultados. Aqueles aos quais são concedidos dos dons reconhecem a dotação celestial com a devida humildade. Sabem que o dom não é uma característica natural, mas uma visitação do Espírito Santo. Com referência à diversidade dos dons espirituais e sua fonte, o apóstolo Paulo tem seguinte a dizer:

“Ora, há diversidade de dons, mas o Espírito é o mesmo; …mas a manifestação do Espírito é dada a cada um para o que for útil. …mas um só e o mesmo espírito opera todas estas coisas, repartindo particularmente a cada um como quer”.(I Coríntios 12:4, 7, 11).

Notemos os propósitos específicos dos dons do Espírito, apresentados em Efésios 4: “Para o aperfeiçoamento dos santos”. “Para a obra do ministério”. “Para a edificação do corpo de Cristo”. “Até que todos cheguemos à unidade da fé”. “Para que não sejamos mais meninos inconstantes, levados em roda por todo o vento de doutrina”. “Faz o aumento do corpo”. (versos 12-16). Notemos como tudo isso está relacionado com a igreja de Cristo sobre a Terra.

Prioridade Divina

É evidente que nenhum dom opera independentemente dos outros. Todos trabalham juntos para “o que for útil”, sempre tendo em vista a apresentação do Espírito à igreja. Apesar de que, ao discutirem esses dons, os escritores sagrados nem sempre os colocam na mesma ordem. Paulo significativamente enumera apóstolos primeiro, profetas em segundo lugar, mestres em terceiro, com os outros dons a seguir. Eis aqui como ele o diz, em I Coríntios 12: 27, 28:

“Ora Vós sois corpo de Cristo, e seus membros em particular. E a uns pôs Deus na igreja, primeiramente apóstolos, em segundo lugar profetas, em terceiro doutores, depois milagres, depois dons de curar, socorros, governos, variedades de línguas”.

A sequência divina designada por primeiramente, em segundo lugar e em terceiro não pretende minimizar qualquer dos vários e diferentes dons concedidos pelo Espírito. Observa-se, por exemplo, que a profecia é o único dom que aparece nas quatros listas dadas pelo apóstolo Paulo. Mas vejamos especialmente os três primeiros.

Apóstolos – “Ide a todo o mundo” é a comissão missionária fundamental. Esse movimento de avanço foi sempre realizado pelos “apóstolos”, os enviados de Deus que fazem trabalho de pioneirismo em novos territórios, estabelecendo igrejas e instituições para Deus. Isso é a primeira coisa para Deus, e deve sempre ser a primeira coisa para a igreja. Se esse Dom diminuir na igreja, todos os outros dons diminuirão proporcionalmente. Quando esse Dom se torna o primeiro e todos os outros colaboram ativamente para mantê-lo em primeiro lugar, então a vinda de Cristo será apressada, pois “este evangelho do reino será pregado em todo o mundo, em testemunho a todas as gentes, e então virá o fim”. (Mateus 24:14).

Profetas – Segundo em importância, e estrategicamente colocado entre o movimento de avanço dos apóstolos e o trabalho de consolidação dos mestres, vem o dom de profecia. Através desse dom de Deus Se comunica com a igreja, partilhando conselhos vitais àqueles que expandem as fronteiras da igreja e àqueles que, através do ensino, conservam as conquistas e os recursos da igreja. Colocando o Dom de profecia diretamente entre os apóstolos e mestres, indica a direção celestial sobre ambos, e por conselhos proféticos e advertências são ambos mantidos leais ao propósito divino.

Mestres – como já foi indicado, os mestres devem consolidar as conquistas da igreja e instruir na edificação de cada membro. As escolas adventistas particularmente provêm lugares de refúgio para os membros da igreja de todas as idades, onde podem encontrar oportunidades de crescer no conhecimento e na experiência cristã.

O Dom Especial Para a Igreja

Mas voltemos ao Dom de profecia. Como o supremo Cabeça da igreja em Sua batalha contra Satanás e suas legiões, Deus necessita estar ao controle da igreja em todos os tempos. Cada fase da luta deve ser comandada pela sede celestial. O Dom profético concede a Deus uma linha direta do céu à igreja. Por esse meio a Bíblia veio à existência, pois “a profecia nunca foi produzida por vontade de homem algum, mas os homens santos de Deus falaram inspirados pelo Espírito Santo”. (II Pedro 1:21).

Observemos que os profetas falaram levados ou movidos pelo Espírito Santo. Sem esse inestimável Dom de profecia, a igreja poderia facilmente perder seu senso de missão e a razão de sua existência. Esse perigo avulta quando consideramos a história de algumas denominações religiosas. Há grandes organismos de cristãos protestantes que no passado testemunharam efetivamente por seu Senhor e com poder fizeram grandes coisas para Deus. Eram igrejas com sentido missionário, mas hoje seus seminários e universidades têm-se tornado um viveiro de ceticismo e descrença. As igrejas que esses seminários e universidades representam, estão gradativa, mas seguramente perdendo seu senso de direção e propósito.

Por que isso? Como já foi observado, em Efésios 4:9-13, há cinco dons espirituais principais funcionando na igreja. Muitos órgão protestantes jamais demonstraram possuir o Dom de profecia, embora tenham talentosos missionários, professores, evangelistas e pastores. Sem o dom de Profecia, contudo, uma igreja é um navio sem leme, completamente à mercê dos traiçoeiros vendavais de doutrinas e correntes de descrença, presentemente varrendo o mundo religioso. A ausência de uma voz profética tem contribuído também para o abandono de muitos ensinos bíblicos pelas igrejas populares. Um verdadeiro profeta moderno em seu meio teria trabalhado para corrigir aqueles que se desviam da verdade bíblica.

Seguramente o dom de profecia é especialmente para a igreja. Seu papel poderia ser caracterizado como abrangendo todos os propósitos dos dons, como apresentados em Efésios 4:12-16. Não apenas Deus usa o dom profético para suprir a revelação falada e escrita, necessária à estabilidade e saúde da igreja, mas em muitos movimentos grandes de reforma dentro da igreja aquele que é agraciado com o Espírito também apresenta liderança espiritual necessária. Isso foi verdadeiro no grande livramento do povo de Deus do Egito, e têm sido verdadeiro repetidas vezes desde então. A Bíblia declara que “o Senhor por meio dum profeta fez subir a Israel do Egito, e por um profeta foi ele guardado” (Oséias 12:13).

Intrínseco nesse versículo está o maravilhoso livramento e a preservação obrados através do dom de profecia manifestado por Moisés, até que o povo de Deus chegasse a Canaã com segurança. O mesmo dom e liderança resultando numa grande libertação e preservação está agora operando no moderno Israel, antes de sua entrada na Canaã Celestial.

Um Dom Para os Remanescentes

No ano exato em que terminava a profecia de Daniel quanto aos 2.300 dias (1844), Deus restaurava o dom profético a Sua igreja. Havia chegado o tempo sobre a Terra, a cada nação, e tribo, e língua, e povo”. O povo ou igreja ou “remanescente” que assumiriam essa comissão dada por Deus foi identificado como os que “guardam os mandamentos de Deus e a fé de Jesus”(Apoc. 14:6, 12). Cremos que a missão e a mensagem da Igreja Adventista do Sétimo Dia trazem aquele “remanescente” ao gozo completo na reunião do “povo” de Deus (Apoc. 18:4), de todos credos num corpo unido.

A Bíblia tem estabelecido certos testes pelos quais podemos determinar os dons do Espírito. Historicamente, temos aplicado esses testes primariamente ao dom de profecia. Contudo, muitos deles se aplicariam a qualquer pessoa que declare possuir qualquer dom do Espírito. O inquiridor honesto é aconselhado por Deus a tirar conclusões dos resultados e não dos preconceitos ou de opiniões preconcebidas. “Portanto, pelos seus frutos os conhecereis” (Mat.7:20).

A cada passo no desenvolvimento de nossa igreja, o valor do dom de profecia tem sido manifestado nos conselhos falados e escritos de Ellen White. Durante todos os anos probantes, formativos, Deus Se comunicou com Sua igreja através de Seu instrumento escolhido. Mensagens de instrução, orientação, inspiração e advertência fluíam do céu. Essas mensagens incluíam reformas na educação, obra médica, regime alimentar, lar e muitas outras áreas. No desenvolvimento de uma base doutrinária, um programa de publicações, instituições educacionais, médicas, organização e desenvolvimento das missões mundiais, o dom se mostrou extremamente importante.

O resultado da direção divina sobre a Igreja Adventista do Sétimo Dia através do Espírito de Profecia foi focalizado na marcante reunião da 52° Assembleia da Associação Geral, em Viena, Áustria, em 1975. Contrastemos essa 52° sessão com a primeira, realizada no ano de 1863:

1863                                                             1975

Um idioma                                     523 idiomas – 193 países

19 delegados                                        1.500 delegados

125 igrejas                                               17.150 igrejas

3.500 membros                    3.000.000 de membros, aproximadamente

30 ministros                                       7.669 pastores ordenados

Outras instituições auxiliando a declaração pública do evangelho incluem 4.232 escolas, 50casas publicadoras, 322 hospitais, sanatórios, clínicas e dispensários.

Enquanto confessamos que o crescimento não é expressivo quando comparado com o plano de Deus, assim mesmo os fatos do crescimento aí estão para serem examinados. Tudo isso aconteceu por acaso? Foi isso devido ao gênio e à capacidade humanas? A honestidade compele a admissão de que somente a orientação divina poderiam levar o povo do início de 1863 ao rapidamente crescente movimento mundial em 1975. Sim, um povo numericamente pequeno foi visitado por Deus e a voz do Eterno foi ouvida em seu meio. Obedecendo a essa voz através do Espírito de Profecia, que sempre levou à Bíblia, o movimento adventista do sétimo dia tem prosperado e se espalhado através do mundo inteiro.

Buscando a Unidade em Cristo

Mas uma das maiores consecuções do dom de profecia tem sido a edificação da unidade dentro da própria contextura da igreja. Esta unidade centraliza-se na revelação bíblica de Jesus, nosso divino Senhor.

Os escritos da Sra. White sempre reconhecem, honram e apresentam a Cristo como Senhor. Sua preexistência, encarnação, vida sem pecado, expiação no Calvário, ressurreição, ascensão e ministério sacerdotal no céu são retratados clara e expressivamente. Seus escritos levam o leitor ao evento clímax da redenção, o retorno iminente e literal de Cristo, e a criação de uma nova terra, onde os redimidos habitarão com seu Senhor através da eternidade. Já que “ninguém pode dizer que Jesus é o Senhor, senão pelo Espírito Santo.”

E existe algo mais. Uma notável unidade e confiança permeando a igreja não é um acidente nem algo conseguido pela perspicácia de homens. Grupos étnicos e raciais reunidos no amor de Cristo. A maturidade, unidade, confiança e companheirismo cristãos permeiam uma igreja mundial que é formada por “toda nação, e tribo, e língua, e povo”. O Espírito de Profecia expresso nos livros de Ellen White tem contribuído em grande medida para essa coesão.

Naturalmente o diabo está aborrecido por causa dessa unidade mundial de crenças e práticas em Cristo. Aquele que trouxe discórdia no Céu, ao plantar a semente da dúvida quanto ao caráter de Deus, sabe que pode causar uma ruptura ao criar a dúvida sobre a Bíblia e o Espírito de Profecia. Ele odeia a Cristo e, portanto atacará aquilo que une os crentes em Cristo.

Desde tempos imemoriais têm Satanás usado escarnecedores, traidores e críticos para degradar e minar o trabalho dos profetas de Deus. Quando calúnias e falsas acusações não são suficientes para silenciar esses santos homens e mulheres de Deus, seguem-se frequentemente a prisão e a morte. A Bíblia documenta a ira do demônio contra os profetas.

Conservemos em mente, portanto, que quando dos modernos zombadores e críticos concentrarem seus ataques contra o Espírito de Profecia, não estarão sendo nem originais, nem únicos. Tampouco sua discussão acrescenta qualquer coisa de novo às gastas críticas que os precederam. Muito rapidamente o crítico vai para o caminho de toda carne.

Nenhum monumento digno marca sua passagem. Consideremos, entretanto, os monumentos estabelecidos para a honra e glória de Deus pelos escritos de Ellen White: igrejas, hospitais, escolas, colégios, universidades, faculdades de medicina, casas publicadoras, centros de assistência social, acampamento MV, centros missionários, transmissões radiofônicas, programas de televisão. Todos proclamando a graça salvadora de Cristo e a glória que se seguirá.

Assim, ao estarmos de pé nas fronteiras do mundo eterno, olhando para trás, para as marcantes evidências da liderança divina através de Seu Espírito de Profecia, renovemos nossa confiança em Deus, em Seu Filho, em Sua Palavra, em Sua Igreja e em cada um dos irmãos. Renovemos especialmente nossa confiança na prometida orientação de Deus para Sua Igreja no tempo do fim. Nesses conselhos ouvimos a voz de correção e reprovação, insistindo numa consecução espiritual e num esforço mais elevado, deixando de lado o terreno improdutivo e apresentando uma colheita de justiça e santidade de vida. Ao chegar ao fim de sua vida, E. White deu à igreja esta mensagem grandemente encorajadora:

“Sou instruída a dizer aos adventistas do sétimo dia em todo o mundo: Deus chamou-nos como um povo para sermos-Lhe particular tesouro. Ele designou que Sua igreja na terra esteja perfeitamente unida no Espírito e conselho do Senhor dos exércitos até ao fim do tempo… Sou animada e beneficiada ao compreender que o Deus de Israel ainda guia Seu povo e que continuará a ser com ele, até ao fim” (Mensagens Escolhidas, vol. 2 pp. 397, 406).


PDF: Sábado da Herança