Sábado da Herança – 31 de outubro de 1998
A Palavra de Deus Exaltada

Allan G. Lindsay
Sermão do Dia do Espírito de Profecia – DSA

Seríamos negligentes se ao considerarmos o tema da Bíblia e de Ellen White não seguíssemos seus reiterados conselhos para buscar primeiro a Palavra. Salmos 119 é uma bela descrição do papel da palavra de Deus na vida do crente e reflete muito bem o retrato de Ellen White sobre ele.

Bem-aventurados os irrepreensíveis no seu caminho, que andam na lei do Senhor.
Bem-aventurados os que guardam as suas prescrições, e o buscam de todo o coração…. De que maneira poderá o jovem guardar puro o seu caminho? Observando-o segundo a tua Palavra. De todo o coração te busquei; não me deixes fugir aos teus mandamentos. Guardo no coração as tuas palavras, para não pecar contra ti. Bendito és tu, Senhor; ensina-me os teus preceitos. Com os lábios tenho narrado todos os juízos da tua boca. Mais me regozijo com o caminho dos teus testemunhos, do que com todas as riquezas. Meditarei nos teus preceitos, e às tuas veredas terei respeito. Terei prazer nos teus decretos; não me esquecerei da tua palavra… Lâmpada para os meus pés é a tua palavra, e luz para os meus caminhos. … Grande paz têm os que amam a tua lei; para eles não há tropeço. Salmos 119:1, 1,9-16, 105,165.

Ao longo dos anos, os leitores dos escritos de Ellen White têm ficado profundamente impressionados por sua exaltação da Bíblia. Como mensageira do Senhor, e revestida de sua humanidade, teria sido algo muito Humano para ela, às vezes, enaltecer seus próprios escritos acima da Palavra de Deus. Porém, durante toda a sua vida, consistente e continuamente, ela recomendou a Bíblia como a inspirada e infalível palavra de Deus. Ela instou seu estudo acima de todos os outros livros e lembrou-nos repetidamente de que as Escrituras são a toda-suficiente e única regra de fé, prática e disciplina (RH, 15 de dezembro de 1885). Elas são “a norma pela qual todo ensino e experiência devem ser aferidos” (GC, p. 9).

Palavra Descrita

As descrições de Ellen White sobre a Bíblia destacam sua importância. Ela a chamou de o “Livro dos livros” (OC, p. 513); “Seu próprio Livro” (1 ME, p. 17); “o Livro inspirado de Deus” (IT, p.947); “Oráculos vivos” (GC, p. 78); “a Palavra Sagrada”; “o Livro mais precioso no mundo” (RH,p. 24 de dezembro de 1895); e “conselheiro infalível” (FEC, p. 100); e um “guia seguro” (ibidem) que “pode guiar em cada passo em direção à cidade de Deus” (CP, p. 416).

A Bíblia, ela afirmou, “é a voz de Deus a falar-nos, exatamente como se pudéssemos ouvi-Lo com os nossos ouvidos “ (Nos Lugares Celestiais, p. 134). Seu estudo deve ser considerado como uma “audiência com o Altíssimo” (ibidem). Suas verdades “são proferidas pelo Altíssimo” (Minha Consagração Hoje, p. 24). As Escrituras “devem ser aceitas como autorizada e infalível revelação de sua vontade” (GC, p. 8);

Embora Ellen White tenha rejeitado a inspiração verbal das Escrituras (3ME, pp. 454, 455) ela reconheceu-as como o produto de homens inspirados pelo espírito Santo que “imbuiu-os” com “pensamentos”. Para expressar esses pensamentos eles então selecionaram palavras influenciadas por suas próprias experiências, educação e personalidade. Inspiradas pelo Espírito,a mente e vontade humanas serão de tal forma combinadas com a mente divina que “as declarações do homem são a Palavra de Deus” (1ME, p. 21).

No entanto, esse conhecimento também implica em uma advertência. Embora possamos reconhecer a Bíblia como produto do trabalho humano e divino, isso não nos dá a liberdade de separar o que consideramos humano das partes divinamente inspiradas, e assim rejeitar o humano como não inspirado.

Em 1888, Ellen White escreveu o solene conselho:

Não permitais que homem algum achegue-se a vós e comece a dissecar a palavra de Deus, dizendo o que é revelação e o que é inspiração, sem que o repreendais.
Dizei a todos eles que simplesmente não têm conhecimento. …Não queremos que ninguém diga: “isto eu rejeito e isto aceito”, antes ter uma fé implícita na Bíblia como um todo e tal como ela é’ (7BC, p. 919).

Antes ela encorajou a igreja, “apegai-vos à Bíblia, tal como ela reza, parai com vossas críticas relativamente da sua validade, e obedeceu à Palavra e nenhum de vós se perderá” (1ME, p. 18).

Em linguagem inequívoca Ellen White retrata o poder da Palavra de Deus quando abrimos nosso coração e mente para sua mensagem:

Ela confere “amplidão mental, uma nobreza de caráter, e uma estabilidade de propósitos”. (CP,p. 415)

Ela aumenta “as faculdades de compreensão, e comunica a cada uma novo vigor”(Filhos e Filhas de Deus, p. 70). E dá “vigor à mente” (CP, p. 415).

Ela possui “um poder santificador, transformador” (MS, p. 173)

Nela “estão revelados os estratagemas do tentador, e os meios pelos quais se pode a ele resistir com êxito” (GC, p. 535)

Ela provê exatamente a qualidade de alimento de que os cristãos necessitam a fim de poderem crescer fortes no espírito e intelecto (RH, 21 de agosto de 1888).

Pela Palavra, Deus toca o coração (ST, 20 de agosto de 1894).

“Recebemos Cristo por meio de Sua palavra (MDC, p. 112), e é “por meio da Palavra que Cristo habita” em nosso coração (DTN, p. 652).

A Palavra Enaltecida

Quando consideramos os conselhos de Ellen White com respeito às Escrituras, devemos também recordar suas inequívocas afirmações sobre o relacionamento entre seus escritos e a palavra de Deus. Por meio de seu ministério ela continuamente dirigiu-nos para a Bíblia como o árbitro final em todas as coisas pertinentes a nossa vida espiritual.

Em 1890 Ellen White escreveu que “A Palavra de Deus é norma infalível. Não devem os Testemunhos substituir a Palavra. …Provem todos a própria atitude por meio das Escrituras e fundamentem pela Palavra de Deus revelada todo ponto que vindicam ser verdade” (Ev, p. 256).

Após um sonho impressivo na noite de 30 de abril de 1871, a Sra. White explicou que o conselho que Deus lhe dera para a igreja não destinava-se a dar “nova luz”, mas “impressionar vividamente” sobre nós “as verdades da inspiração já reveladas”. Sua obra não destinava-se a trazer “verdades adicionais” mas a simplificar “as grandes verdades já dadas”, e “a despertar a e impressionar a mente por meio delas” (2T 605). Seus escritos não destinavam-se a “desprezar a palavra de Deus, mas a exaltá-la e atrair as mentes a ela…” Seus propósito era levar nossas “mentes… à Sua Palavra, dando-lhes uma clara compreensão dela” (4T , p. 246).

Na história de nossa igreja temos sido lentos em aprender essa verdade. Contudo, o Próprio Senhor estabeleceu o padrão, no final da década de 1840, quando os pioneiros se reuniram para estudar os ensinamentos da Palavra. Ele fechou a mente de Sua mensageira a fim de que não pudesse compreender o raciocínio deles para que suas conclusões estivessem firmemente fundamentadas nas Escrituras. Quando chegaram a um impasse e não mais puderam avançar, somente então Ellen White recebeu uma visão e “uma clara explanação das passagens” que estiveram estudando. O enfoque estava claramente sobre as Escrituras. Os presentes souberam que quando ela não estava em visão não podia compreender a sua discussão. Seu bloqueio mental continuou até que foram “tornados claros todos os pontos principais de nossa fé, em harmonia com Palavra e Deus” (1ME, p. 206, 207).

Quarenta anos depois, em 1888, quando os líderes da igreja estavam profundamente envolvidos na controvérsia doutrinária, alguns queria usar uma carta anteriormente escrita por Ellen White para determinar a verdade sobre a lei em Gálatas. Ellen White tentou, sem sucesso, encontrar a cópia dessa carta. Posteriormente ela escreveu, “Por que motivo eu perdi o manuscrito e não pude encontrá-lo por dois anos? Deus tem um propósito para isso. Ele deseja que vamos à Bíblia e obtenhamos a evidência da Escritura”(9MS, p. 1888).

Isso significa que seu conselho já não é necessário? Esse não era o seu modo de pensar. Em 1907, ela escreveu sobre a “abundância de luz” que nos foi dada “nestes últimos dias” e que seus escritos “falariam continuamente” … quando durasse o mundo” (Carta 371, 1907). Nas trevas profundas que cobrem a terra hoje, a igreja necessita de toda a luz que puder receber para iluminar o caminho para a Cidade Celestial. Em Seu magnificente amor, Deus proveu duas luzes, a Bíblia e os escritos proféticos de Ellen White. A primeira é a luz maior. O papel da segunda, ou da luz menor, é levar-nos à maior e a refletir sua glória. Andemos na luz que brilha de ambas.

A Palavra Criticada

Por que Ellen White enalteceu a Palavra de Deus e continuamente convergiu nossa atenção para ela? Um dos motivos é seu entendimento da grande controvérsia entre Cristo e Satanás. Desde que esse conflito começou no Éden, quanto a se a Palavra de Deus podia merecer confiança, ele continuará sendo a base para todos os conflitos, ela viu claramente que “Nada há que ela mais deseje do que destruir a confiança em Deus e em Sua Palavra” (GC, p. 531). Ao longo das eras, ele tem empregado “todo artifício possível para impedir os homens de obter conhecimento da Bíblia; pois os claros ensinos desta põem a descoberto os seus enganos” (GC, p. 599).

A descrição de Ellen White no Conflito dos Séculos sobre os grandes eventos do passado, ilustram dramaticamente a terrível realidade dessa luta sobre a Palavra. Por séculos, a circulação da Bíblia foi proibida e assim por volta do século XII as Escrituras eram “quase desconhecidas” e terríveis resultados se seguiram ao “banimento da Palavra de Deus” (GC, p. 60). Porém, em cada Era, Deus tinha Suas testemunhas que sustentavam a Bíblia como a única regra de vida.

Testemunhamos nos Alpes italianos a fiel tenacidade dos Valdenses, cuja “crença religiosa baseava-se na Palavra escrita de Deus” (GC, p. 62), que instruíram seus filhos nas Escrituras e guardavam na memória suas páginas, quando as cópias eram raras. Ficamos pasmados ao contemplarmos homens com John Wycliffe, na Inglaterra, que aceitou a Bíblia “como a inspirada revelação da vontade de Deus” (CS, p. 90) e “exigia” que ela “fosse devolvida ao povo” (GC, p. 79). Sua tradução para o inglês pôs nas mãos do povo “uma luz que jamais se extinguiria” (GC, p.86). William Tyndale seguiu-o e determinou-se a fazer cópias impressas das Escrituras,disponíveis a cada lavrador na Inglaterra, e faria isso mesmo ao custo de sua vida. Homens como John Huss e Jerônimo de Praga foram também consumidos pelas chamas devido à sua fé na palavra de Deus. Ouvimos do veemente apelo de Martinho Lutero diante de Carlos V e de sua Dieta: “Portanto, a menos que eu seja convencido pelo testemunho das Escrituras… não posso retratar-me… Aqui permaneço, não posso fazer outra coisa; Deus queira ajudar-me” (GC, pp.155-156).

O que foi que convenceu essas e uma multidão de outras testemunhas a resistirem a tão grande oposição e alguns até sofrerem a morte? “O grande princípio mantido por aqueles reformadores… foi a autoridade infalível das Escrituras como regra de fé e prática… A Bíblia era a sua autoridade, e por seus ensinos provavam todas as doutrinas e reivindicações” (GC, pp.246-247).

Apocalipse 12 retrata a crescente intensidade do conflito de todas as eras apressando-se para o seu final. O verso 12 diz: “o diabo desceu até vós, cheio de grande cólera, sabendo que pouco tempo lhe resta”. Ellen White observa que através dos séculos Satanás tem estado se preparando para o “último grande engano” que “deve logo patentear-se diante de nós” (GC, p. 599). Seus relatos sobre os conflitos na história passada do povo de Deus foram registrados “de tal maneira a lançar luz sobre a luta do futuro, em rápida aproximação” (GC, p. 11).

No último engano, Ellen White adverte: “Tão meticulosamente a contrafação se parecerá com o verdadeiro, que será impossível distinguir entre ambos sem o auxílio das Escrituras Sagradas”(GC, p. 599). “Pessoa alguma, a não ser os que fortaleceram o espírito com a as verdades da Escrituras, poderá resistir no último grande conflito… A hora decisiva está mesmo agora às portas “ (CS, pp. 599-600). A verdade não é determinada pelas “opiniões de homens ilustrados, as deduções da ciência, os credos ou decisões dos concílios eclesiásticos” ou pela “voz da maioria”, mas pelo povo de Deus ao “examinarem as Escrituras a fim de, por si mesmos, aprenderem seu dever” (CS, p. 601).

Como deve o povo de Deus conduzir esse estudo? Ou perguntando de outra forma, como experimentamos o poder da Palavra de Deus?

A Palavra Recebida

Consideraremos cinco princípios para o recebimento da Palavra de Deus:

  1. O correto recebimento da Palavra de Deus requer uma atitude correta de coração.

Comentando as palavras de Jesus em João 7:16,17, Ellen White lembra-nos de que “A percepção e apreço da verdade… depende menos da mente, que do coração” (DTN, p. 438). Em outras palavras, a posição na igreja, o poder do intelecto e a eloquência não são de qualquer valor. O que se encontra no mais íntimo de nosso ser, que apenas Deus vê, é isso o que conta. A Bíblia é “clara a todos os que a estudam com coração devoto. Toda alma verdadeiramente sincera virá à luz da verdade” (GC, p. 527).

Somos chamados a pôr de lado nossas “opiniões preconcebidas” e nossas “idéias hereditárias e cultivadas”. Nunca “chegaremos à verdade” se pesquisarmos as Escrituras para vindicar nossas próprias opiniões (RC, p. 125). A autoconfiança não tem lugar no estudo da palavra, apenas a “devota dependência de Deus, e sincero desejo de saber a Sua vontade” (GC, p. 605).

Pela teoria podemos saber que tudo isso é verdade, mas compreendermos a gravidade de abrir a Palavra sem essas qualidades do coração? “Quando se abre a Palavra de Deus sem reverência nem oração; quando os pensamentos e as afeições não se concentram em Deus, ou não se acham em harmonia com Sua vontade” qual é o resultado? “A mente fica obscurecida por dúvidas; e o cepticismo se robustece… O inimigo se apodera das idéias, e sugere interpretações incorretas” (CC, p. 110). Ellen White lembrou aos delegados, em 1888, que “muitos, muitos se perderão porque não estudaram a Bíblia sobre seus joelhos, com fervorosas orações a Deus” (Carta 20, 1888).

  1. O devido recebimento da Palavra de Deus requer nossa submissão às impressões e direção do Espírito Santo.

Sem a presença do Espírito Santo, não somos capazes de compreender ou explicar as Escrituras (GC, pp. 531, 532; 1ME, p. 411). É a obra do Espírito Santo levar-nos à verdade e Àquele que diz, Eu sou “ a verdade”. Mediante a atuação do Espírito Santo na Palavra de Deus, Jesus vem a nós como uma presença permanente (2ME, pp. 38, 39). Nesta hora mais solene da história do mundo, quando o “destino das imensas multidões da Terra estão prestes a decidir-se” quanto necessitamos de “ser guiados pelo Espírito da verdade” (GC, p. 606).

Mas a presença do Espírito Santo não é a única promessa do envolvimento celestial quando estudamos a palavra. “É mister dos anjos celestiais preparar o coração para de tal maneira compreender a Palavra de Deus que fiquemos encantados com sua beleza, admoestados por suas advertências, ou animados e fortalecidos por suas promessas” (GC, p. 605).

  1. O devido recebimento da Palavra depende de interpretá-la e distingui-la corretamente.

A hermenêutica Bíblica, ou as normas de interpretação das Escrituras, nunca foram o tema de um artigo completo de Ellen White. Porém, espalhados entre seus escritos estão princípios orientadores que nos ajudam a pesquisar a verdade “como ela é em Jesus”. Ela reconheceu, por exemplo, a importância de se estudar o contexto. No capítulo “Os Ardis de Satanás” do livro O Grande Conflito, ela adverte contra a prática de apoderar-se de “passagens da Escrituras separadas do contexto, citando talvez a metade de um simples versículo, como prova de seu ponto de vista, quando a parte restante mostraria ser bem contrário o sentido” (GC, p. 526).

Ellen White estava preocupada em que o “tempo e lugar” dos escritos devem ser considerados ao se interpretar o conselho inspirado (1ME, p. 57). Ela também reconhecia a necessidade de estudar as palavras usadas pelo autor inspirado, uma vez que “significações diversas são expressas pela mesma palavra” (1ME, p. 20). Contudo, alguns com uma “ativa imaginação” centralizam-se em palavras que descrevem “figuras e símbolos” e “interpretam-nos a seu bel-prazer, tendo em pouca conta o testemunho das Escrituras como seu próprio intérprete” (GC, p. 326);

Tampouco deve-se dar a impressão de que apenas os acadêmicos, usando métodos avançados de crítica, podem determinar a verdade bíblica. Ellen White várias vezes enfatizou que mesmo o pobre e o iletrado (OE, p. 106), podem compreender as Escrituras se ao buscarem a verdade comparem “passagem com passagem” (CP, p. 391), sob a orientação do Espírito Santo. Ela cria que a “a Bíblia é seu próprio expositor. Uma passagem será a chave que descerrará outras passagens,… Comparando diversos textos que tratam do mesmo assunto e examinando sua relação em todo o sentido, tornar-se-á evidente o verdadeiro significado das Escrituras” (FEC, p. 187).

  1. Para recebermos devidamente a palavra de Deus, somos advertidos a manter o equilíbrio entre a verdade estabelecida e uma atitude aberta a um futuro desdobramento dela.

A busca pela verdade “como ela é em Jesus” tem sido o empenho constante da Igreja Adventista do Sétimo Dia. Durante a Assembléia do final da década de 1840 e nos anos subseqüentes, os pioneiros “buscaram a verdade como a um tesouro escondido”. De seu estudo da Palavra eles erigiram certos “pilares”, estabeleceram certos “marcos divisórios” as verdades bíblicas que identificavam as mensagens fundamentais da igreja ao mundo. Eram mensagens fundamentais com respeito a “Cristo, Sua missão e sacerdócio” (1ME, p. 207).

Cinqüenta anos depois, as circunstâncias haviam mudado. A Igreja enfrentava questionamentos sobre a compreensão de alguns desses ensinos fundamentais daqueles que promoviam o panteísmo e posteriormente da parte daqueles que tinham novas idéias sobre o santuário. Em visão, foi mostrado a Ellen White o que esses homens estavam fazendo com os “alicerces da nossa fé. Alicerces que foram lançados… mediante devoto estudo da Palavra” com tanta oração. Eles estavam removendo pilar a pilar. Nossa fé não tinha sobre o que se fundamentar o santuário fora tirado, a expiação fora removida” (1SAT p. 344). Em 1904, elas respondem a essa ameaça ao afirmar “Sobre esse alicerces temos estado a construir, nos últimos cinqüenta anos” (1ME, p. 207). As verdades que foram estabelecidas na Palavra de Deus nos primeiros anos devem no fim ser ainda verdade, embora a compreensão sobre ela seja ampliada, pois “a vereda do justo é como a luz da aurora, que vai brilhando mais e mais até se dia perfeito” (Prov. 4:18).

Quando o Pastor A. F. Ballenger levantou dúvidas sobre o significado da profecia dos 2.300 anos de 1844 e da segunda fase do ministério sacerdotal de Cristo no santuário celestial, Ellen White apelou para a evidência e autoridade da Bíblia. Ela cria que ele estava ensinando “teorias que não podem ser comprovadas pela palavra de Deus”. Ela disse que havia ido à Assembléia da Associação geral de 1905 para testificar “em favor da verdade da Palavra de Deus e da manifestação do Espírito Santo na confirmação da verdade bíblica (5BIO, p. 409). Qualquer aplicação da Escritura que move “um pilar do fundamento que Deus tem mantido durante esses cinqüenta anos, é um grande erro”. Então acrescentou, “Deus nunca contradiz a Si mesmo” (Carta 329, 1905).

Ellen White cria que “a nova verdade não é independente da antiga, mas desdobramento dela” (PJ, p. 127). A verdade, por sua própria natureza, deve concordar com o que anteriormente fora estabelecido como verdade. Para ela, era impensável que o Espírito Santo viesse a negar posteriormente o que previamente havia confirmado. Ela predisse que no futuro alguns se levariam alegando ter “nova iluminação, que contradiz aquela que foi dada por Deus sob a demonstração de Seu Santo Espírito” (1ME, p. 161). Seu conselho foi não receber “as palavras dos que vêm com uma mensagem que contradiz os pontos especiais de nossa fé” (CW, p. 32). Assim ela escreveu: “Quando o poder de Deus testifica daquilo que é a verdade, essa verdade deve permanecer para sempre como a verdade. Não devem ser agasalhadas nenhumas suposições posteriores contrárias ao esclarecimento que Deus proporcionou” (1ME, p. 161). A reação de Ellen White quanto ao santuário foi muito diferente da sua reação quanto à discussão sobre o “contínuo” poucos anos depois. A primeira tinha que ver com a verdade estabelecida; a outra não era um pilar. Ela não havia recebido instruções sobre isso, mais foi-lhe mostrado que não “estamos em tempo de dar preeminência a pontos de divergência sem importância (1ME, p. 168).

Isso não é tudo o que Ellen White nos diz sobre nossa busca da verdade. Ela nos apresenta um insistente apelo para manter o equilíbrio entre nos atermos à verdade que foi estabelecida no passado pela Bíblia e confirmada pelo Espírito e a humildemente reconhecermos que o Senhor tem muito mais a nos ensinar se estivermos dispostos a seguir a Sua liderança. Ela viu que nossa compreensão da verdade deveria “ampliar-se” continuamente e que necessitávamos “andar na luz maior” (RH, 25 de março de 1980). “Não há desculpa”, ela declarou, “para quem assume a exposição de que não há mais verdade a serem reveladas”, e mesmo de que “todas as nossas doutrinas “há muito acariciadas” como sendo “infalíveis em cada ponto” (EGW 1888 Materiais, p. 830). É alentador ouvir seu reconhecimento de que “o tempo não tornará o erro em verdade, e que a verdade tem condições de ser legítima.

Nenhuma doutrina verdadeira perderá algo mediante uma investigação cuidadosa” (RH, 20 de dezembro de 1892). Em 1888, Ellen White escreveu que se uma doutrina deve ser aceita como verdade oscilante eu caia mediante uma investigação, deve ser deixada cair, o quanto antes melhor (ver Carta 7, 1888). Os Adventistas do sétimo dia temos a mesma probabilidade de estabelecer nossas próprias tradições como “nos tempos antigos” se na “investigação das Escrituras” não aparecerem “divergências de opinião” que nos instigue a “examinar a Bíblia” por nós mesmos (OE, p. 298).

Ao longo da história da Igreja, quando o povo de Deus “estiver crescendo em graça, obterão constantemente uma compreensão mais clara de Sua palavra”. Isso deverá continuar até o fim. Porém, ela advertiu que quando nossa “vida espiritual declina” a tendência é cessar “de avançar no conhecimento da verdade”. Tornarmo-nos satisfeitos com aquilo que já sabemos e desanimamos de “qualquer posterior investigação das Escrituras”. Tornamo-nos “conservadores,” ela diz querendo significar o apego ao passado e procuramos “evitar novo exame” (TS, vol. II, p. 311). Em 1889, ela identificou “um espírito de farisaísmo” se apoderando da igreja ao alguns membros da igreja dizerem “Temos a verdade. Não há mais luz para o povo de Deus”. Tal posição, ela advertiu, “não é segura… Deveríamos investigar cuidadosamente a Bíblia por nós mesmos” (RH, 18 de junho de 1889).

Esse desafio ainda está diante de nós. Devemos ser muito sensíveis à liderança do Espírito Santo. Devemos eliminar todo método do estudo da palavra de Deus que nos separe dessas grandes verdades distintivas que nos fez um povo. Porém, devemos de bom grado estar abertos a Deus, com o coração aberto, ao Ele conduzir Seu povo mais profunda e amplamente nas glórias da Palavra escrita e viva.

  1. Receber devidamente a Palavra significa uma aceitação intelectual da verdade doutrinária.Seu objetivo final é o desenvolvimento do caráter refletindo a vida de Cristo em um serviço amoroso e altruísta em favor dos outros.

O apóstolo Paulo descreveu o propósito da Escritura como não sendo dada apenas para o ensinamento doutrinário. Ela devia censurar, corrigir e treinar na justiça a fim de que pudéssemos estar “perfeitamente habilitados para toda boa obra” (II Tim. 3:17). Se nossa herança adventista nos ensina algo, ela nos diz com que freqüência nós temos esquecido disso. Os princípios da Bíblia não devem ser apenas armazenados na mente, mas aplicados à vida. É muito fácil ser enganado como pensamento de que porque estamos a favor da verdade “quando poucos são os vencedores”, somos os santos de Deus independentemente do espírito com que fazemos isso.

Já em 1873, Ellen White reconheceu que “como povo” estamos “triunfando na clareza e força da verdade. Somos plenamente sustidos e nossos pontos de fé por avassaladora quantidade de claros testemunhos escriturísticos. Carecemos muito, porém da humildade, paciência, fé e amor” (TS, vol. I, p. 328). Estamos equivocados se pensamos que a Assembléia de Minneapolis de 1888 foi uma confrontação sobre a justificação pela fé, sobre a lei em Gálatas ou a natureza de Cristo. As preocupações de Ellen White centralizaram-se em nossa grande necessidade de aplicar os princípios da Bíblia e os atributos do caráter de Jesus às questões práticas do viver diário e dos relacionamentos comparada com o que tendes trazido a vossa fé”. Então, nas palavras que deveriam estar escritas em todos corações, ela escreveu:

O mais convincente testemunho que podemos dar aos outros de que temos a verdade é o espírito que acompanha e advoga essa verdade. Se ele santifica o receptor, se o torna gentil, amável, paciente, verdadeiro, semelhante a Cristo, então ele evidenciará o fato de que possui a verdade genuína (5 MR p. 226).

Que desafio temos diante de nós ao pensarmos que “a última mensagem de graça a ser dada ao mundo é uma revelação do caráter do amor divino’ (PJ, p. 415). Isso significará não apenas sobre o amor de Deus, mas vivê-lo, pois “Nada existe que o mundo necessite mais do que a manifestação do amor do Salvador através da humanidade” (AA, p. 600)

Conclusão

Em maio de 1909, 328 delegados, representando 83.000 adventistas do sétimo dia, do mundo inteiro, reuniram-se em Takoma Park, Maryland, para a Assembléia da Associação Geral. Ellen White, agora com 81 anos, reuniu-se com eles em uma tenda instalada no terreno do Washington Missionary College.i No domingo à tarde do dia 6 de junho, ela apresentou a última de suas onze mensagens. Nessa Assembléia, “com os lábios trêmulos e a voz cortada pela profunda emoção” (1909 GCB 378), ela falou pela última vez em pessoa à igreja mundial. Ao concluir sua pregação, a Sra. White deixou o púlpito e voltou para o seu assento. Na metade do caminho, deteve-se e então voltou. Pegando a Bíblia que estava sobre o púlpito, abriu-a e segurou-a no alto, com suas mãos trêmulas, onde todos a podiam ver. “Irmãos e irmãs”, ela disse, “recomendo-vos este Livro”.

Se Ellen White estivesse viva hoje, sem dúvida sua mensagem aos adventistas do sétimo dia seria a mesma. “Recomendo-vos este Livro”. Porém isso seria dito com renovada e premente urgência.Estamos oitenta e nove anos mais próximos das cenas e eventos que muitas vezes ela viu em visão. “Aproxima-se a tempestade, implacável em sua fúria. Estamos preparados para enfrentá-la?” (MS 32, 1896; PP, p. 626).

George Barna escreveu: “A América parece estar sendo submersa no mar da teologia relativista não – Bíblia. Estamos vivendo em meio à dissolução da fé tradicional fundamentada na Bíblia”.ii Mas os Estados unidos não estão sozinhos. Nossa igreja mundial não está imune às influências que podem destruir a singularidade da mensagem que levamos a um mundo em “grande perplexidade e confusão”. Tais condições dão sentido e significado à previsão de Ellen White sobre a igreja no tempo do fim. “Mas Deus terá sobre a Terra um povo que mantenha a Bíblia, e a Bíblia só, como norma de todas as doutrinas e base de todas as reformas”(CS, p. 601).

Quando Isaías previu que “trevas” cobririam a terra e “a escuridão os povos”, ele também escreveu da “glória” do Senhor sobre o povo de Deus (Is. 60: 1,2). João, o Revelador, descreveu o tempo quando o quarto anjo desceria e iluminaria a terra com a glória de Deus (Apoc. 18:1).

O dia mais fantástico da igreja de Deus está logo à frente. A obra deve terminar com “ainda maior poder” do que aquele que marcou o dia do pentecostes (LDE, p. 202). Ficaremos surpresos com os meios simples que Deus empregará para concluir Sua obra (LDE, p. 203). Embora “uns poucos homens” irão se engajar nela, o Senhor operará de forma maravilhosa através das mentes e vidas daqueles que estão impregnados com as palavras e espírito de Jesus, como revelado em Sua Palavra (LDE, p. 204);

Por esse motivo é que o apelo urgente de Ellen White, escrito em 1886, ainda necessita ser considerado:

Examinai a Bíblia, pois fala-vos de Jesus. Quero que leiais a Bíblia e vejais os incomparáveis encantos de Jesus. Quero que vos extasieis com o Homem do Calvário, de modo que a cada passo possais dizer ao mundo: “Os Seus caminhos são caminhos de delícias, e todas as suas veredas paz” Prov. 3:17 (Nos Lugares Celestiais, p. 355).

Eis aqui o grande segredo para verdadeiramente experimentar o poder da palavra de Deus e o motivo decisivo porque os adventistas sempre a estarão estudando.


 Referências:

1 Atualmente o Columbia Union College.

2 Citado em William Johnsson, “Awash in a Sea of Relativism” (Adventist Review, agosto de 1977).