Sábado da Herança – 22 de outubro de 1994
A Luz Ainda Brilha

Pr. Robert S. Folkenberg
Sermão do Dia do Espírito de Profecia

22 de outubro de 1844. A maioria dos adventistas, mesmos os que quase nada conhecem de nossa herança, já ouviu falar sobre o Grande Desapontamento de 22 de outubro. Da mesma forma como o Dia da Independência em muitos países, ou do aniversário do monarca em outros, esta data se destaca acima de todas as outras na história adventista. Isto é bem apropriado, pois este dia marca o fim do grande período dos 2.300 dias da Profecia de Daniel 8:14, e o início da cena do julgamento final no céu, como descrito pelo profeta Daniel 7:9, 10: “Continuei olhando, até que foram postos uns tronos, e o Ancião de dias se assentou, sua veste era branca como a neve, e os cabelos da cabeça como a pura lã; o seu trono era chamas de fogo, cujas rodas eram fogo ardente. Um rio de fogo manava e saía de diante dele; milhares de milhares o serviam, e miríade de miríade estavam diante dele; assentou-se o tribunal, e se abriram os livros”. Finalmente, ao invés de ser um dia de desapontamento, 22 de outubro de 1844 tornou-se um farol de esperança para nossos pioneiros. O relógio do grande período Profético de Deus estava no tempo certo. Havia iniciado seu ato final no grande conflito! Mas estamos avançados em nossa história, pois, como todos sabemos, 150 anos atrás nossos antepassados adventistas mileritas estavam aguardando a volta de Jesus. E, quando Ele não veio como o esperado, foi estabelecido o palco para um dos eventos mais notórios da história adventista.

Venham comigo de volta a 1844, a uma pequena casa na Rua Clark, n° 44, em Portland, Maine, onde vivia a família Harmon. O pai, Robert, era um chapeleiro. A mãe, Eunice, uma dona de casa. Tanto os pais como os filhos que ainda ali viviam aceitaram o adventismo pregado por Guilherme Miller. Duas vezes Miller viera a Portland para pregar – em março de 1840 e novamente em junho de 1842. Em ambas ocasiões a família Harmon foi ouvi-lo. Em setembro de 1843, devido à sua crença no breve retorno de Cristo, a família Harmon foi cortada da Igreja Metodista, em Portland, da qual eram membros. Embora já não mais fossem metodistas, os Harmons ainda realizavam seus cultos com os adventistas mileritas, e também partilhavam sua fé com todos que os ouvissem. Ao lembrar-se daqueles dias, Ellen White escreveu mais tarde:

“Com diligente exame de consciência e humildes confissões, chegamos devotamente ao tempo da expectação. Todas as manhãs sentíamos que nosso primeiro trabalho era assegurar-nos de que nossa vida estava reta diante de Deus. Compreendíamos que se não estivéssemos progredindo em santidade, estaríamos certamente retrocedendo. Aumentava o nosso interesse de uns para com os outros; orávamos muito, conjuntamente, e uns pelos outros. Congregávamo-nos nos pomares e bosques para ter comunhão com Deus e dirigir-lhe nossas petições, sentido nós mais completamente Sua presença quando rodeados por Suas obras naturais. As alegrias da salvação nos eram mais necessárias do que a comida e a bebida. Se nuvens nos obscureciam o espírito, não ousávamos repousar ou dormir antes que fossem varridas pela certeza de que éramos aceitos pelo Senhor”(Vida e Ensinos, pp. 52-53).

Considerando sua experiência, pouco surpreende que Ellen White tenha exclamado, “Esse foi o ano mais feliz de minha vida”(Idem, p. 51). Por que não deveria ter sido? Afinal de contas, Jesus estava voltando!

É-nos impossível agora, 150 anos depois, compreender em sua plenitude os sentimentos daqueles pioneiros que creram com todo seu coração que Jesus estava voltando na terça-feira, 22 de outubro.

Algumas semanas… alguns dias… e finalmente, apenas algumas horas até que Ele retornasse! À que assemelhar isto? Alguma vez você se perguntou, “Se eu realmente acreditasse que Jesus viria na próxima terça-feira, com seria meu viver?” Que coisas diferentes faria entre o dia de hoje e aquele dia se realmente cresse que Ele voltaria em três ou mais dias? Tal foi a experiência vivida por nossos pioneiros.

Mas Cristo não voltou. Novamente, não há de fato como possamos entender seu terrível e esmagador desapontamento. Ao lembrar-se daquele dia fatídico, Hiram Edson, um pioneiro adventista que viveu no Estado de Nova Iorque, escreveu: “Nossas mais caras esperanças e expectações foram esmagadas, e um tal espírito de pranto nos sobreveio como nunca havíamos experimentado antes. Era como se a perda de todos os amigos ainda não pudesse ter comparação. Choramos e choramos até o alvorecer”(Citado em F. D. Nichol, TheMidnight Cry, Edição Original, pp. 247, 248); (Edição CHL, pp. 263, 264).

A família Harmon, Ellen e outros resistiram à angústia daquele dia que iniciou cheio de uma radiante esperança e promessa e que findou em um amargo desapontamento. O que saíra errado? Por que Jesus não viera como o esperado?

Novamente, Hirã Edson nos dá vislumbres do que passou pela mente daqueles crentes desapontados. Ele lembra, “Refleti em meu coração, dizendo,minha experiência do advento foi a mais enriquecedora e brilhante de toda a minha experiência cristã. Se isto se provou ser um fracasso, para que vale o restante de minha experiência cristã? A Bíblia está errada? Não há Deus, não há Céu, não há uma cidade de ouro, um paraíso? Não é nada mais do que uma invencionice astuciosamente engendrada? Não há veracidade em nossas mais caras esperanças e expectações dessas coisas?” – Idem, p. 248; (CHL, p. 264). Hirã Edson recebeu sua primeira revelação do porquê Cristo não retornara enquanto atravessava por um campo, na manhã seguinte ao grande desapontamento. Mas foram necessários meses antes que os adventistas desapontados de Port Gibson, Nova Iorque, onde vivia Edson, e seus companheiros em Portland, Maine, onde viviam os Harmons, chegassem a uma plena compreensão do que ocorrera no dia 22 de outubro. Por ora, durante aqueles primeiros dias e semanas difíceis após o desapontamento, os crentes dispersos, aqueles que não desanimaram e não deixaram totalmente sua fé, encontraram-se estudando suas Bíblias e orando enquanto tentavam descobrir o que estava errado.

Por um breve período após o dia 22 de outubro, continuaram aguardando o retorno de Cristo a cada dia. Havia um sentimento de que talvez tivesse ocorrido algum erro mínimo em seu cálculo, e de que a qualquer momento as nuvens se abririam e Ele apareceria. Porém quando os dias se tornaram em semanas, viram-se forçados a concluir que sua crença no dia 22 de outubro era infundada. Acima de tudo, para eles parecia que a Profecia havia falhado. Para Ellen e outros, o dia 22 de outubro gradualmente chegou a ter nenhum significado Profético. Os eventos que eles esperavam que ocorressem naquela data, criam agora que ocorreria em algum momento no futuro.

Foi também nesse período que a condição de saúde de Ellen piorou. Nunca tendo se recuperado plenamente de seu acidente aos nove anos, quando foi atingida na face por uma pedra atirada por uma colega de escola, aparentemente o terrível desapontamento com o não cumprimento da Vinda de Cristo fez com que sua saúde se deteriorasse ainda mais. Anos mais tarde ela lembrou: “Após a passagem do dia em 1844, meu estado de saúde agravou-se rapidamente. Podia apenas sussurrar ou falar em um tom de voz entrecortado. Um médico afirmou que minha doença era um definhamento hidrópico. Disse que meu pulmão direito estava deteriorado e o esquerdo consideravelmente enfermo, e que o coração fora seriamente afetado. Segundo ele eu tinha pouco tempo de vida, e poderia morrer subitamente a qualquer momento. Era-me muito difícil respirar quando estava deitada, e durante a noite era apoiada por travesseiros ficando quase que sentada,e era frequentemente despertada pela tosse e sangramento nos pulmões” (Signs of the times, 20 de abril de 1876, p. 32).

Para uma adolescente que completara dezessete anos no dia 26 de novembro de 1844, esta era uma visão animadora. Fisicamente doente e abatida de espírito, ela deve ter se questionado quanto a seu futuro. Assim como Hirã Edson, não podia negar o poder de sua própria experiência cristã durante os últimos meses. Mas, por que Jesus não viera como o esperado? Estava Deus, no movimento do advento, preparando o caminho para o dia 22 de outubro? Aparentemente a enfermidade de Ellen acarretou um trabalho extra para sua mãe que dela cuidava, pois para dar algum descanso à mãe abatida, eventualmente outras mulheres adventistas em Portland convidavam Ellen para passar algum tempo em suas casas. Assim, pouco tempo após seu aniversário, ela foi levada em uma cadeira de rodas para a casa de Elizabeth Haines para passar alguns dias. Este é o motivo de ela estar visitando o lar de Elizabeth Haines naquele dia memorável. A data específica ficou esquecida, mas foi em dezembro de 1844. Ellen descreve o que aconteceu: “Na manhã ajoelhamo-nos para o culto em família. Não havia nada de excepcional. Estávamos em cinco, todas mulheres. Enquanto orávamos, o poder de Deus veio sobre mim como nunca o havia sentido antes. Fui cercada por uma luz, e elevada mais e mais alto da terra”(SpiritualGifts, vol. II, p. 30).

Pensem naquelas cinco mulheres ali reunidas, uma delas tão doente que nem se esperava fosse viver. Predominava na mente delas a pergunta: “Deus nos conduziu em nossa experiência do advento ou fomos enganadas? A Profecia cumpriu-se ou não no dia 22 de outubro? Em seu coração clamavam, “Por que, oh, por que fomos desapontadas?”.

Hoje consideraremos novamente a primeira visão de Ellen, que não apenas lhes devolveu a certeza e o encorajamento, mas que ainda fala diretamente a nós, 150 anos depois. Usaremos sua narrativa, conforme escreveu no livro (Spiritual Gifts, vol. II, pp. 30-35). “Voltei-me para ver o povo do advento no mundo, mas não o pude achar, quando uma voz me disse: —‘Olha novamente, e olha um pouco mais para cima.’ Com isto olhei mais para o alto e vi um caminho reto e estreito, levantado em um lugar elevado do mundo. O povo do advento na sua extremidade mais afastada”.– (Spiritual Gifts, vol. II, pp. 30, 31; Vida e Ensinos, p. 57). Em visão, Ellen teve a sensação de ser elevada acima da terra. Tendo em vista o desapontamento pelo fato de Cristo não ter vindo, foi natural que seu primeiro impulso fosse ver o povo de Deus na terra. Além do mais, ela sabia muito bem que ali eles deveriam estar! Assim deve ter ficado surpresa ao ser-lhe dito que olhassem um pouco mais para cima. Ao fazê-lo, viu o povo de Deus viajando para a Cidade Santa, em um caminho reto e estreito. Talvez tenha se lembrado da admoestação de Cristo registrada em Mateus 7:13, 14. Onde Ele advertiu quanto a andar o caminho espaçoso, através da porta larga que conduz à perdição. Antes, instou Seus seguidores a andarem pelo caminho apertado, através da porta estreita que conduz para a vida.

Que certeza foi para ela ver o povo do advento viajando pelo caminho estreito. Ellen conhecia alguns que haviam abandonado sua fé no breve aparecimento de Cristo. Conhecia também outros que rejeitaram a mensagem, que nunca sequer a aceitaram. Mas o pior eram aqueles que abertamente ridicularizavam os adventistas frustrados. Sim, ela conhecia tudo sobre o ser parte daqueles “poucos” descritos por Cristo no caminho estreito. Como Ellen reconheceu naqueles que viajavam pelo caminho estreito como sendo o grupo do advento? De fato ela viu o rosto de alguns de seus amigos? Ela não nos diz. Porém devemos lembrar o que ela escreveu em cinco pequenas páginas no livro Spiritual Gifts, levou duas horas para contar quando visitou Portland, Maine, em janeiro de 1845. Assim, não importa como lhe foi revelado que aquele era o povo do advento, pois o que deve ser uma verdadeira fonte de conforto é vê-los viajando pelo caminho estreito rumo à Cidade Santa. É também significativo a localização do caminho no qual Ellen viu o povo de Deus viajando. Naturalmente, ela sabia que este povo ainda estava na terra. Deus não precisou mostrar-lhe isso! Antes, no simbolismo da visão, mostrou-os andando no caminho “levantado em um lugar elevado do mundo”.

Enquanto esteve na terra, Cristo advertiu Seus seguidores. O registro encontra-se em João 15:18, 19: “Se o mundo vos odeia, sabei que, primeiro do que a vós outros, me odiou a mim. Se vós fosseis do mundo, o mundo amaria o que era seu; como, todavia, não sois do mundo, pelo contrário dele vos escolhi, por isso o mundo vos odeia.”

Literalmente, é claro, os seguidores de Cristo sempre estiveram no mundo, mas no sentido espiritual Ele os chamou para saírem do mundo. Cristo reconheceu esse aparente paradoxo em Sua oração no Getsêmani, na noite anterior à Sua crucifixão, como registrado em João 17:14, 15: “Eu lhes tenho dado a tua palavra, e o mundo os odiou, porque eles não são do mundo, como também eu não sou. Não peço que os tire do mundo; e, sim, que os guardes do mal”. Na primeira visão de Ellen, Deus lembrou-a de Seu povo, enquanto viajavam para a Cidade Santa, de que não deveriam ser parte do mundo. Se verdadeiramente se mantivessem no caminho estreito, seriam espiritualmente separados do mundo. Que admoestação mais relevante Deus poderia nos dar hoje do que nos lembrar do real perigo de sermos tragados pelo mundo e seus encantos? É muito fácil esquecer o desejo de Deus de que, espiritualmente, não sejamos do mundo. Assim como Ele mostrou a Ellen, devemos viajar pelo “caminho reto e estreito, levantado em um lugar elevado do mundo”.

Essa visão deu certeza e segurança àqueles crentes desapontados de que o caminho pelo qual estavam viajando os conduziria à Cidade Santa. Para nós, porém, a visão não apenas nos dá a mesma certeza, mas tem também uma conotação de conselho, ou seja, de onde Deus quer que estejamos ao viajarmos para a Cidade Santa.

Prosseguindo com sua descrição do povo de Deus no caminho estreito, Ellen diz: “Tinha uma luz colocada por trás deles no começo do caminho, a qual um anjo me disse ser o ‘clamor da meia-noite’. Essa luz brilhava em toda a extensão do caminho, e proporcionava claridade para seus pés, para que assim não tropeçassem” (Spiritual Gifts, vol. II, p. 31; Vida e Ensinos, p. 57).

Houve aqui uma grande surpresa para Ellen. Na visão, foi-lhe mostrado uma luz brilhante brilhado desde o início do caminho, e em toda a sua extensão, até a Cidade Santa. O propósito dessa luz era fazer com que não tropeçassem.Mas para sua maior surpresa, anjo identificou essa luz brilhante como o clamor da meia-noite. Como podia ser isso? A frase, “clamor da meia-noite” tinha um significado específico para ela e para os demais adventistas. Era uma expressão emprestada da parábola de Cristo sobre o reino, registrada em Mateus 25:6: “Mas, à meia-noite, ouviu-se um grito: Eis o noivo! Saí ao seu encontro.”

Para aqueles expectantes adventistas, especialmente durante aqueles poucos meses entre agosto e outubro de 1844, o “clamor da meia-noite” referia-se a 22 de outubro de 1844. Mas como poderia esta ser uma luz brilhante? Cristo não retornara na data por eles esperada. Porém, o anjo lhe disse que a luz brilhante era sua experiência do clamor da meia-noite, que era o verdadeiro início de seu caminho à cidade. Em acréscimo, a luz da mensagem de 22 de outubro brilharia em toda a extensão do caminho para fazer com que não tropeçassem. Embora Ellen possa não tê-la reconhecido naquele momento, foi sua primeira explicação para o desapontamento. Tendo em vista que o clamor da meia-noite era a luz brilhante que os ajudava a não tropeçar, obviamente deveria haver muito mais sobre o dia 22 de outubro do que ela e seus amigos podiam então compreender. De fato, a visão não lhes deu explicação para o desapontamento ou sobre o que realmente ocorrera em 22 de outubro, mas assim mesmo eram novas emocionantes! Eles não tinham que rejeitar a mais preciosa experiência espiritual que já haviam desfrutado. Afinal de contas, Deus estivera no movimento milerita; isto ficou claro através das palavras do anjo. A mensagem do clamor da meia-noite, quando devidamente compreendida, iluminaria o caminho deles, em toda sua extensão, até a Cidade Santa. Para nós, 150 depois, esta é ainda uma verdade importante. Graças ao estudo aprofundado da Bíblia, pelos pioneiros e muitos outros ao longo dos anos, podemos agora compreender o que realmente ocorreu no final da Profecia dos 2300 dias de 22 de outubro. A partir desse dia teve início o julgamento retratado em Daniel 7. E assim Deus, em sua primeira comunicação através de Ellen Harmon, disse-lhes que a luz brilhante de 22 de outubro, que eles compreenderam introduziu o ministério final de Cristo no Lugar Santíssimo do Santuário Celestial, era a luz que impediria rumo à cidade. Através dos anos, quando um crítico após outro atacam o ano de 1844 dizendo que não tem nenhum significado, os seguidores de Deus não têm se abalado por seus argumentos. A luz da mensagem especial do santuário desvendou o desapontamento aos pioneiros. Anos mais tarde, Ellen White escreveu no livro O Grande Conflito, p. 422: “O assunto do santuário foi a chave que desvendou o mistério do desapontamento de 1844. Revelou um conjunto completo de verdades, ligadas Harmoniosamente entre si e mostrando que a mão de Deus dirigira a lume a posição e obra de Seu povo.” Hoje, alguns negam que dia 22 de outubro seja significativo, e outros estão tentando aplicar as profecias a algum tempo futuro. Porém ambos os grupos estão equivocados. Foi mostrado a Ellen que o clamor da meia-noite, de 22 de outubro, é a luz brilhante brilhando em toda a extensão do caminho até a cidade. Se alguém focaliza uma data futura, ou promove um nova interpretação do período Profético que depende de um tempo no futuro específico para o seu cumprimento, lembrem-se novamente desta primeira visão dada por Deus a Ellen. A experiência do dia 22 de outubro de 1844 é a luz brilhante, e não algum evento futuro.

Na verdade, no dia 23 de setembro de 1850, foi mostrado a Ellen White: “O tempo não tem sido um teste desde 1844, e nunca mais o será”. (Primeiros Escritos, p. 75).

No ano seguinte, no dia 21 de junho de 1852, quando ela estava em Camden, Nova Iorque, o Senhor lhe mostrou “que a mensagem deve ir, e que não deve depender de tempo; pois o tempo não será nunca mais uma prova. Vi que alguns estavam ficando com uma falsa excitação, nascida de pregar-se no tempo; vi que a terceira mensagem angélica pode subsistir sobre seu próprio fundamento, e que não precisa nenhum tempo para fortalecê-la, e que ela irá com forte poder, e fará sua obra e será abreviada em justiça”. (Mensagens Escolhidas, vol. I, p. 188).

Há muito mais da primeira e emocionante visão de Ellen, como ele mencionou no livro Spiritual Gifts, vol. II. Falando dos que se encontravam no caminho, ela viu que:“Se conservavam o olhar fixo em Jesus, que Se achava precisamente diante deles, guiando-os para a cidade, estavam seguros. Mas logo alguns ficaram cansados, e disseram que a cidade estava muito longe e esperavam nela ter entrado antes. Então Jesus os animava, levantando Seu glorioso braço direito; e de Seu braço saía uma luz que incidia sobre o povo do advento, e eles clamavam:‘Aleluia!’” (Idem, p. 31; Vida e Ensinos, p. 57).

Havia aqui um indício para aqueles crentes desapontados de que transcorreria mais tempo antes da volta de Cristo. Em visão, foi mostrado à Ellen que “alguns ficaram cansados”. Por quê? Porque disseram que “a cidade estava muito longe e esperavam nela ter entrado antes”.

Já, durante as poucas semanas após o dia 22 de outubro, ele vira muitos abandonarem sua fé no retorno de Cristo, assim como lhe foi mostrado.


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Agora a visão indicava que o tempo se prolongaria mais. Mas foi-lhe dada a certeza de que Jesus estava à frente, conduzindo-os à Cidade. Contudo, juntamente com essa certeza havia a advertência de que para ficarem seguros deveriam manter o olhar fixo nEle. Alguns já O haviam perdido de vista em seu desapontamento. Mas a mensagem àquele pequeno grupo de crentes perplexos era para que não desanimassem; se mantivessem seus olhos fitos em Jesus, Ele os conduziria à cidade. Estranho como possa parecer, essa parte da visão pode ter um significado ainda maior para nós hoje, 150 anos mais tarde, do que para os pioneiros. Não havia como eles verem que o segundo advento estava ainda, pelo menos, um século e meio no futuro. Já decorreu tanto tempo e é fácil para alguns hoje desanimarem. Mas para quem quer que seja tentado abandonar a fé, a primeira mensagem de Deus a Seus seguidores desapontados em 1844 ainda provê um farol de esperança.

É-nos dito para mantermos nossos olhos fitos em Jesus. Ele ainda nos está conduzindo à cidade.

Nos dias dos apóstolos, Pedro advertiu em II Pedro 3:3, 4: “Tendo em conta, antes de tudo, que, nos últimos dias, virão escarnecedores com os seus escárnios, andando segundo as próprias paixões, e dizendo: Onde está a promessa de Sua vinda? Porque desde que os pais dormiram, todas as cousas permanecem como desde o princípio da criação”.

Deus, que conhece o fim desde o começo, sempre esteve preocupado que Seus seguidores viessem a ficar desencorajados. Assim, através da Escritura e novamente através da visão de Ellen, Deus diz: “Não fiquem desanimados enquanto aguardam a volta de Cristo”.

A advertência para manter os olhos fitos em Jesus era muito significativa. De nossa posição vantajosa, sabemos que nos primeiros quarentas anos alguns foram de tal forma apanhados pelo legalismo que quase perderam totalmente Jesus de vista. Assim, em1888, outra mensagem sobre Cristo. A mensagem da justificação pela fé. Foi dada a esta Igreja na Assembléia da Associação Geral. Desde então, de tempos em tempos, tem sido necessário reenfatizar essa grande verdade.

Hoje, assim como quando dada, essa primeira visão ainda nos fala para mantermos nossos olhos firmemente fixados em Jesus. Se alguma vez ficarmos desanimados, Ele levantará Seu poderoso braço direito e uma nova luz e encorajamento fluirão dele para animar nosso espírito conturbado.

Foi esse mesmo braço que ressuscitou o filho da viúva de Nain, que pôs barro nos olhos do cego, expulsou os cambistas do templo, e que repartiu os pães e peixes para alimentar cinco mil pessoas. Ele também foi levantado sobre as águas turbulentas do Mar da Galiléia para acalmar a tempestade; para afagar as cabeças das crianças que vieram para ser abençoadas; e foi estendida sobre a cruz para garantir nossa salvação. Esse mesmo braço nos dá segurança, conforto, sustentação, não importa quão longa seja a jornada até que cheguemos à cidade.

Mas isto não foi tudo que Deus mostrou a Ellen. Prosseguindo, ela escreveu:

“Outros temerariamente negavam a existência da luz atrás deles e diziam que não fora Deus quem os guiara tão longe. A luz atrás deles desapareceria, deixando-lhes os pés em densas trevas; de modo que tropeçavam e, perdendo de vista o sinal e a Jesus, caíam do caminho para baixo, no mundo tenebroso e ímpio”. (Idem, p. 31; Vida e Ensinos, pp. 57-58).


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Esta é uma das declarações mais incríveis dessa visão. Embora fosse uma advertência para aqueles crentes desapontados em 1844, pouco podiam eles imaginar ou compreender a significância dessa mensagem de Deus para os adventistas no futuro.

Novamente, relembre a mentalidade, de Ellen White naquela ocasião. Ela havia abandonado sua fé no clamor da meia-noite como tendo já ocorrido e olhava para frente, para algo mais que ocorreria no futuro. Já na visão, foi-lhe mostrado que a luz brilhante, que iluminava todo o caminho foi o clamor da meia-noite.Mas, ela foi advertida de que se eles negassem a experiência como sendo de Deus, ela e os demais estariam em perigo de perder sua visão de Jesus e de caírem “do caminho para baixo, no mundo tenebroso e ímpio.” Que pensamento insuportável era aquele! Perder de vista seu precioso Jesus? Nunca! Ellen soube imediatamente que deveria mudar sua forma de pensar. Embora não tivesse ainda compreendido todas as implicações do dia 22 de outubro, negar que era de Deus resultaria naquilo que para ela era impensável. Não estar como Jesus através da eternidade.

Para ela, Jesus era tudo. Descrevendo a experiência do período que conduziu o dia 22 de outubro, ela escreveu, “o nome de Jesus, do querido Jesus, foi exaltado diante de mim. Parecia-me habitar em uma atmosfera celestial. Esperei que Jesus viesse e me tornasse imortal, quando poderia resistir à captação da luz de Sua face, deleitar-me em Sua glória e louvá-lo em acordes perfeitos”. (Spiritual Gifts, vol. II p. 29). Mas tão surpreendente quanto a visão possa ter sido para Ellen White e seu pensamento, à luz do que ocorreu nesses últimos 150 anos, torna-se ainda mais admirável para nós que somos os beneficiários do conhecimento de tudo o que ocorreu anteriormente.

Como poderia passar pelo pensamento de uma menina, com apenas dezessete anos, que esta verdade de 22 de outubro, que ela própria não for capaz de compreender plenamente naquela ocasião, se tornaria um grande ponto divisor entre os seguidores de Deus? Ainda, ao longo da história da Igreja Adventista do Sétimo Dia, alguns têm negado que Deus esteve no movimento de 1844, dizendo que 22 de outubro não tem qualquer importância. Geralmente, esses acabam se separando do povo de Deus, e já não mais caminham conosco.

Embora alguns argumentem isto ou aquilo com respeito a Ellen White e a seu Ministério Profético, esta visão provê uma das mais persuasivas evidências de sua inspiração divina.

Se alguém hoje incorre no perigo de questionar que Deus estava no movimento de 22 de outubro de 1844, e de questionar tudo o que compreendemos ocorreu no santuário celestial nesse dia, a mensagem de Deus a Ellen, em sua primeira visão, permanece como uma solene advertência quanto onde estão indo. Assim, a primeira visão de Ellen, dada 150 anos atrás, em dezembro, é tão relevante hoje como quanto foi inicialmente revelada, embora por razões um tanto diferentes.

Na visão, Ellen viu a seguir os vários acontecimentos do tempo próximo à volta de Cristo. Ela ouviu Deus anunciando à Seus santos o dia e a hora da volta de Cristo. Viu também que os “144.000 estavam todos selados e perfeitamente unidos”. E, pela primeira vez, foi-lhe mostrada a segunda vinda de Cristo. Ao se considerar seu grande desapontamento, pode-se apenas imaginar quão emocionante deve ter-lhe sido essa parte da visão! Ouçam um trecho dessa emocionante descrição da volta de Cristo, feita por uma adolescente:


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“Logo nossos olhares foram dirigidos ao Oriente, pois aparecera uma nuvenzinha aproximadamente do tamanho da metade da mão dum homem, a qual todos soubemos ser o sinal do Filho do homem. Todos nós em silêncio solene olhávamos a nuvem que se aproximava e tornava mais e mais clara e esplendente, até converter-se numa grande nuvem branca. A parte inferior tinha aparência de fogo; o arco-íris estava sobre a nuvem, enquanto em redor dela se achavam dez milhares de anjos, entoando um cântico agradabilíssimo; e sobre ela estava sentado o Filho do homem. Os cabelos brancos e anelados, caíam-lhe sobre os ombros; e sobre a cabeça tinha muitas coroas. Os pés tinham a aparência de fogo; em Sua destra trazia uma foice aguda e na mão esquerda, um trombeta de prata. Seus olhos eram como chamas de fogo, que profundamente penetravam Seus filhos…

“Então a trombeta de prata de Jesus soou, ao descer Ele sobre a nuvem, envolto em labaredas de fogo. Olhou para as sepulturas dos santos que dormiam, ergueu então os olhos e mãos ao céu, e exclamou: —” Despertai! Despertai! Despertai, vós que dormis no pó, e levantai-vos!” Houve um forte terremoto. As sepulturas se abriram, e os mortos saíram revestidos de imortalidade. Os 144.000 clamaram —“Aleluia!” Reconheceram os amigos que deles tinham sido separados pela morte, e no mesmo instante fomos transformados e arrebatados juntamente com eles para encontrar o Senhor nos ares”. (Idem, pp. 32, 33; Vida e Ensinos, pp. 58, 59).

Após sair da visão, Ellen relembra: “Tristeza envolvia tudo que eu contemplava. Oh! Quão tenebroso se me afigurava este mundo!

Chorei quando me achei aqui, e senti saudades. Eu vira um mundo melhor, que depreciara este para mim.” (Vida e Ensinos, p. 61).

Ela partilhou a visão com as quatro mulheres com quem estava orando. Elas estavam ansiosas por saber o que Deus mostrara a ela. Suas orações foram atendidas. Por fim Deus as dirigira.O clamor da meia-noite fazia parte da providência de Deus. Ele foi retratado como “luz” —luz por detrás deles que iluminava toda extensão do caminho. Porém o mais importante, a visão deu-lhes a certeza de que se mantivesse os olhos fitos em Jesus, poderiam chegar à Cidade Celestial como segurança. Ainda, a visão deu-lhes uma pálida idéia de seu galardão quando chegassem à cidade. Quanto à pergunta, “por que eles foram desapontados?”—isto foi por eles respondido somente através do estudo posterior da Bíblia.

Para nós hoje, 150 anos depois, esta visão nos dá uma firme convicção. Embora o caminho tenha se provado ser mais longo do que se poderia pensar abandonar nossa fé e aceitar uma “nova luz”. Mas a advertência de Deus para “ficar no caminho” é tão relevante agora quanto na primeira vez em que foi revelada.

Neste sábado especial de celebração, qual é sua condição? Está desencorajado pelo longo tempo decorrido? Tem o sentimento de que é cada vez mais difícil permanecer espiritualmente separado do mundo? Hoje, como um brilhante farol de esperança, a primeira visão de Ellen White ainda insta conosco para mantermos nossos olhos fixados em Jesus. Quando você estiver desencorajado, olhe para Jesus. Quanto espiritualmente tentado, venha a Jesus. Quando tiver questionamentos e sua fé for provada, fale sobre isso com Jesus.

Somos encorajados, nesse ano de celebração do aniversário, por saber que Jesus ainda está na liderança, que Sua mensagem é verdadeira e que logo, no devido tempo, Ele nos levará à cidade.


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Então, juntamente com os pioneiros, com os redimidos dos séculos anteriores, receberemos o galardão prometido há tanto tempo pelo próprio Senhor quando esteve na terra. “Na casa de meu pai há muitas moradas. Se assim não fora, eu vo-lo teria dito. Pois vou preparar-vos lugar. E quando eu for, e vos preparar lugar, voltarei e vos receberei para mim mesmo, para que onde eu estou estejais vós também”. (João 14:1-3).

Hoje, neste sábado especial de aniversário, exclamamos como o apóstolo João, “Vem, Senhor Jesus” (Apocalipse 22:20).